sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Conto um conto aumento um ponto


Meu Gêneses

Existência? Um enigma que paira ao longo dos tempos. A certeza de se ver ou sentir além dos cinco sentidos pertence a poucos. São estes loucos ou crentes somente. A razão curta humana, no contexto da imensidão, profana e se amedronta. Na dúvida acende duas. No aperto se agarra à ignorância latente, porque na carne tudo é incerto... E que os tribunos entendam e não condenem.

A respeito de tudo, foi uma explosão de fogo e de luz multiplicando a matéria a toda parte. Para que surgisse a vida o Príncipe da Luz descansou. Digamos que cochilou e dormiu.
O criador da vida foi o Divino. Aproveitou que o da Luz habitava as trevas e com uma habilidade incrível pôs-se a moldar as matérias. Num sopro de mágica se levantava o vivente com matéria e espírito. Transformou o pó em seres. Para cada espécie uma alma diferente. O espírito mais espirituoso foi dado ao bicho homem.
Quando o Anjo de Luz despertou-se, invadiu-lhe a cólera?
- Por mil demônios, Espírito Santo, quem te autorizou a movimentar as matérias? O movimento da atração física com giros elipsóidicos eram fáceis de se controlar. Obedeciam uma Lei e agora? Por si mesmas as massas se movimentam com a força de seus intentos. São seus pensamentos na matéria e não tenho poder de interferência. Não pode, todo o material me pertence. Busque de volta o teu sopro.
- Meus dons não podem retornar sem que não tenham produzido algum efeito.
- Exijo uma conferência com a Senhora Onipotência.
- O quê abala os Céus? – indagou Oniciência.
- Oh! Sabedoria, como tendes eterna Onipresença, decrete uma sentença, que isto tá ficando do jeito que o capeta gosta – vociferou Lucífer.
- Divino, está decretado, teus seres terão um ciclo de vida definido e tornarão ao pó. Multiplicai-os em número e amor só pela força do pensamento. Luz, descei até os mesmos e habitai com os humanos, mas sem acesso aos pensamentos dos mesmos. Difunda o ódio, os prazeres levianos, a atenção pelas riquezas materiais e toda forma de contenda para que o ciclo vital diminua cada vez mais. Quando toda e qualquer forma de vida se extinguir, tudo será seu novamente e então tudo voltará a arder.

Hoje em dia só na Terra existe vida ou estará tudo ainda começando por aqui? Vida de prazeres e amores levianos. É por isso que dizem que “O Cão é o melhor amigo do homem”. Quanto ao cachorro é um pobre diabo.

Quem quiser que conto outro...

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

No salão de beleza


Espelho meu

É saudável sentir-se e ser bela.
Aproveite o tempo enquanto puderes.
Ele é cruel e vai deixando sequelas,
Principalmente em vaidosas mulheres.
A felicidade pinta em momentos atrevidos.
Onde nada se veste, mas tudo se investe.
Jogo de cores e perfume invade os sentidos;
O gosto com marca de beijo é o último teste.
O tom do cabelo e sua nuança:
Se liso é preciso, se curvo é o lance.
Os cílios da fera com sombra ao fundo,
A trama da paquera nasceu com o mundo.
Pinte, corte, depile, maquie e penteie.
Faça dieta, dança e ginástica.
Corra, ande, nade e bronzeie.
Pedale, "silique" ou use plástica.
Parece exagero, mas use o dinheiro
Em prol da elegância e higiene.
Uma imagem e uma fragrância são perenes
Até o toque e o choque do tato matreiro.
A beleza provoca e chama a atenção,
Coloca-se na mesa, queira ou não.
Vai, idade, devagar. Só há pressa no retocar.
Numa ginga ao andar, corações a acelerar.
Acupunte e assunte no espelho outra verdade,
Refletida e que agrade a quem se ama.
Um sorriso é o aviso que ainda não é tarde!
O amor arde e, com a beleza, mantem acesa a chama!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Herbert de Souza



O SANTO ATEU

Na produção de riquezas até o lixo é do chefe. Parece brincadeira, mas é o que está ocorrendo. Flagrei um segurança do Conjunto Nacional impedindo que uma miserável recolhesse latas vazias de refrigerantes das lixeiras. A alegação foi de que tais latinhas pertenciam ao patrão. É mesmo a dizimação total. Inclusive nem sei como a excluída conseguira entrar ali.
Parece que provoco acontecimentos, mas apenas sou um observador do quanto nos desamamos. Um senhor maltrapilho, desnutrido e que, apesar de parecer alcoolizado, esbanjava um sorriso límpido de orelha a orelha, me chamou a atenção. Num rápido bate-papo incitei-o a se juntar aos sem-terra, já que milhares deles acampavam o entorno do DEFER. O que recebi como resposta deixou-me boquiaberto: “ - Moço, eu sou andarilho. A Terra inteira me pertence.”
Exatamente neste instante lembrei-me de um outro homem também esquálido, doente, feio, papa-sangue e de olhos imensamente esbugalhados. Teimoso, insistia em permanecer no meio de nós como uma afronta às previsões médicas. Este herói brasileiro foi realmente um sociólogo no sentido amplo da palavra. Não acreditava em Deus aqui na Terra, mas pelo que fez deve ter conquistado o lado esquerdo de Deus-Pai-Todo-Poderoso lá no Céu.
- Betinho, rogai por nós.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Suicídio


TUNICO MINEIRO

Não éramos amigos do peito, mas há quase duas décadas mantínhamos contato, inclusive de bastante trabalho. Foi uma das pessoas mais educadas que conheci e que primava pelo bom uso da Língua Portuguesa, tal qual uma minoria de nosso Estado. Seu jeito polido até parecia insuportável no meio “estúpido” militar. Participamos de duas campanhas topográficas de duração de cerca de três meses cada e, mesmo sob condições hostis, não perdia a linha. Definitivamente foi alguém de estirpe.
Certa época, uma avalanche de problemas psiquiátricos me mostrou o Espiritismo como caminho para a solução ou cura definitiva. Como dito, aos quatro cantos, somos todos médiuns que precisamos de desenvolvimento, fui desenvolver. O Tunico montou uma mesa de estudos no intervalo dos dois expedientes e aprofundamos o Kardec como Ciência, Filosofia e Religião. Há um capítulo do evangelho do Professor Rivail que dedicamos muita atenção – O Suicídio e a Loucura, isto porque o segundo tópico me afetava diretamente. Jamais imaginei que o primeiro tópico fosse afetar o Tunico. Apesar de ser um evangelho apócrifo, em este capítulo, o suicídio é totalmente condenado. A certa altura abandonei o Kardecismo e nem sei o que foi feito do Tunico neste campo. Com certeza não aprendeu muito, pois por duas vezes atentou contra a própria vida e na segunda obteve êxito. Entre a primeira e a segunda transcorreu mais de quatro meses – tempo suficiente para que se tivesse feito algo mais pela sua recuperação total. Estou no meio dos irresponsáveis que se omitiram, pois ele havia me ajudado em situação semelhante.
No intervalo das tentativas conversamos na Farmácia do Zé Maria, no Mercado do Alberto, no Espetinho da Esquina e noutras rápidas ocasiões, mas tudo ao acaso sem muita abordagem ou força bem dada. Muitos são os que têm o direito de imaginar o que leva uma pessoa vitoriosa, possuidor de uma família maravilhosa, vir a praticar um ato tão brusco, mas também têm o dever de aprender a lição para um próximo caso. Posso escrever, por ter tal experiência, que nossa mente é mais do que inexplicável.
Não devemos ficar sós e todo amor nos é pouco.
Que Deus, juntamente com o Tunico, ampare as três mulheres sofredoras que o amaram tanto, mas que não foram bem orientadas da operação constância. Os “amigos” como eu... Bem... Deixa pra lá.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Divino da Cruz


OS DOIS CRISTOS

Existem dois nomes aos quais devemos nossas homenagens sempre e na medida desmedida: um é Jesus Cristo Divino e o outro é Jesus Cristo da Cruz. Muitos dirão: “Não são os dois a mesma Pessoa?” Categoricamente responderei que não, pois o Divino é aquele que acalma tempestades, anda sobre as águas, multiplica pães e peixes, tem a autoridade de Dono do Mundo, lê os pensamentos, dá luz aos cegos, os caminhos aos cochos, a verdade aos doutos, a vida aos mortos, inclusive a Si Próprio e que se senta ao lado direito do Pai no Trono Celestial. Quem é o “Da Cruz”? Este ainda vive conosco. É Este que o Divino deixou pra gente cuidar. Este é aquele perseguido pela nossa sociedade até mesmo dentro do ventre. É aquele que bate na janela da porta do carro e ela não “abre-se-vos-á”. É aquele que não tem onde encostar a cabeça: Nem em ombro nem em pedra. É aquele mutilado com açoites explosivos. Jesus Cristo da Cruz apanha calado nas duas faces já fraco de fome e com ausência de lágrimas ou sentimentos. O “da Cruz” inala bálsamo que cola sua mente e endurece o coração. Não sabendo ler ignora as riquezas estampadas em seu jornal-cobertor. Jesus Cristo da Cruz está cercado de ladrões e se julga no paraíso. Este Jesus foi abandonado pelo pai, é chagas por parte da mãe e se não lhe faltasse hospitais faltariam visitas. Este Jesus tem sede de vinho, de carne, de paz, de irmãos. Toda esta coroa de espinhos o levará ao Divino e neste corredor de aniquilamento, feito de seres humanos, vez por outra algum cirineu o alivia da carga. Serei eu? Serás tu? Que sejamos todos nós arrastados para a salvação patrocinada por tais deprimentes da família “da Cruz”. Em breve saberemos se fomos cirineus.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Tia Wal refazendo o Paraíso


Amostra do Natal 2010

"O Papai Noel não passou, mas as renas encheram o saco"

Numa retrospectiva de final de ano, num balanço fidedigno, diríamos que o ano não foi próspero quanto o ensejado, mas sempre é oportunidade de dar graças à vida, como diria o salmista sobre o tempo de plantar e de colher. Eu diria que muitos colhem sem terem plantado, mas o bom mesmo é semear.
Na porta da nossa casa sempre é possível encontrar uma criança abandonada ou um animalzinho, mas no Dia de Natal encontrei uma muda - uma muda de planta! O que será? Quem deixou?
Por um período não muito extenso as divagações continuaram - o certo é que iríamos adotar aquela plantinha desconhecida e ver no que daria.
Isto dado até que, como quem procura sempre encontra, chegamos à autora meliante - a Tia Wal! A Tia do reciclar, a Tia da Biologia, a Tia que sonha como criança!
Como diz minha exposa: "_ A Walkíria não existe!"
Eu concordo, pois é de outro tempo, de outro planeta, de outra humanidade, de outra civilização... mais avançada.
É uma professora que acredita no que faz. Os projetos implantados, sejam quais forem, são conclusos. Ela provoca os acontecimentos. Ela, somente ela, tem os alunos com proveito. Ela vê o aluno como um anjo e não um ser traquina e que merece todas as prioridades ou prerrogativas. Deve ser redatora da "Lei da Palmada".
É uma mãe que amamenta até o leite secar.
É uma orientadora que sabe onde chegar.
É restauradora do que o tempo tombou.
É um rosto sempre "assorisado".
É mais falante que ouvinte sem deixar de ser sábia.
É ação benfazeja ininterrupta. É de fé e de joelhos. É de pedir, multiplicar e de repartir.
Na noite de Natal saiu sacando do saco mudas para mudar o planeta. Não sei quantas, mas vão vingar como tudo que ela apronta e faz.
A muda da nossa porta é um ipê que vai florir valquírias por muito tempo.
Pequenas ações como esta mudam eu e mudam você. Muda o mundo de volta ao Paraíso.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Terra Natal ou Natal longe da terra?


SOMOS TODOS FARINHA DO MESMO SACO

É Natal. Uma palavra tão pequena, mas de grande significado. Indica o nascimento do Menino-Deus. Como em todo nascimento nasce também uma esperança. É uma época de fartura ou pelo menos devia ser. Os corações humanos se aquebrantam e ficam cheios de Paz. Os necessitados invadem as ruas com suas inúmeras “Caixinhas de Natal”. As famílias de reúnem com banquetes jamais vistos no transcorrer do ano. É chegada a hora de o comércio vender bem. Cada pessoa vai às compras dos presentes de seus amados ou queridos. Vive-se feliz. Mas é assim em todo o mundo? Não, claro que não. Quantas vezes choramos a ausência da reunião em família. Uma mãe é a pessoa mais sofrida com um filho ausente. Apesar de estar escrito nas Sagradas Escrituras que o “O homem e mulher deixarão pai, mãe e irmãos e se unirão formando uma nova família” não é lícito que os familiares ascendentes caiam no esquecimento. Quantos “25 de Dezembros” foram descoloridos sem a presença de toda a família, principalmente da mãe? Ainda bem que o povo nordestino, portador da saga de procurar uma terra prometida, é forte e foi cunhado para uma cruz mais pesada.
Quando num interior, chamado de sertão, uma choupana acolhe uma mãe com muitos filhos jogados à própria sorte não é sinal de abandono do pai, mas culpa de alguém ávido por um lucro desmedido que aprisiona o pai das crianças numa rotina de trabalho cativeira. Bravas mulheres de nomes marias, franciscas e infelizes severinos e raimundos “orelhas”.
Se a vitória ou o “vencer na vida” acontecer a algum dos nossos peregrinos ele retornará aos “abandonados” ou acolherá os que chegam às pencas da “Terrinha”.
Não é o caso enumerar as causas que nos impediram, esse tempo todo, de irmos curtir o Natal em Família, pois já choramos muito por isso e pedimos perdão à nossa mãezinha.
Este só não é o Natal mais feliz de nossas vidas porque sabemos que lá fora muitos irmãos padecem sem medida, mas peçamos ao Senhor Jesus que transforme cada manjedoura ou palácio governamental num reduto de uma Sagrada Família e que nos dê forças diariamente para que, com responsabilidade, tornemo-nos sobremaneira salvadores de toda família ao relento, pois uma família ao relento nos deu Nosso Salvador.

DOUTORA BACTÉRIA


QUITÉRIA

Obstinação! Talvez seja esta a palavra que define melhor toda uma atividade de pesquisa científica. No princípio, talvez, o que move um estudante quaternário na busca de um bom embasamento teórico-prático ou de uma doutrina seja a diplomação, mas a convivência diuturna com o objeto da busca incessante faz com que a relação se transforme em paixão desenfreada.
Minha amiga acreditou que fosse possível em, no máximo duas semanas, desvencilhar-se da missão, mas a interação humana com partículas de vida tão protozoárias, viróticas ou bacterianas virou um fascínio, um infinito no fundo de um tubo de ensaio ou numa pose fotográfica numa lâmina reveladora.
Daqui a pouco tempo poderemos saborear um fruto do cerrado, de produção escalar, em variadas porções da culinária multifacetada brasileira de exportação, sem que alguém por perto tenha sido testemunha da abnegação e zelo de uma ação investigativa de uma cientista dedicada. Talvez até o fruto tenha sido rebatizado para que soe bem aos ouvidos, pois araticum mais parece um banho d’água onomatopeico.
Não sei do que se leva em conta para conceituar minha amiga Quitéria - assim apelidada por ter tido tantas noites mal dormidas preocupada com a vegetatividade das suas bactérias incubadas – mas será um critério aquém do seu esforço.
Cada DNA compilado, de quase dois milhares de indivíduos da mesma população, é um espetáculo à parte cuja conclusão de tese nunca será completa se se considerar o universo ímpar de tão perfeito ser.
Pelos dias incansáveis e em nome do resto da Humanidade, obrigado Quitéria.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Padrofilia


A RELAÇÃO ÍNTIMA ENTRE UM PADRE PEDÓFILO E EU CRIANÇA

Na década de setenta, um dos bairros mais distantes do centro de Araguari era o Bairro Paraíso. Talvez por este motivo a cadeia pública tenha se transferido para aquelas imediações. Por pura ironia o inferno e o paraíso tornaram-se confrontantes.
Meu terceiro irmão, na escala descendente dos mais velhos, era então terceiro sargento da Polícia Militar e tirava serviço naquele centro de reclusão. Eu, pra não fugir à regra, era o garoto das pernas ligeiras ideal para levar-lhe o almoço na marmita ainda bem quente.
No cumprimento desta tarefa era costumeiro atender alguns pedidos dos presos, em geral levando-lhes cigarros, sabonetes, pasta dental ou doces. Eram esquisitos no começo, mas acabei acostumando-me àqueles seres humanos de baixa escala. Normalmente desfilavam pelas celas sem camisas mostrando o corpo tatuado, naquele tempo era sinal de periculosidade máxima.
O ambiente era desagradável à visão e também para o olfato de qualquer um. Na necessidade de serem atendidos tornavam-se amáveis, dóceis e educados, embora uns amedrontassem sob qualquer candura. Animais enjaulados que aprendiam a odiar ainda mais. Poucos ali não eram tão culpados.
Meu segundo irmão, sempre que possível, se embebeda e, naquela época, era um alcoólatra que aprontava muito. Aproveitando da posição ocupada pelo terceiro filho, minha mãe mandou prender o irmão cachaceiro com a intenção de forçá-lo a abandonar a bebida. Moral da história: Assim que ficou sóbrio, entre quatro paredes, nada bobo, patrocinou uma fuga espetacular. Utilizando-se de um cano que quebrou da tubulação d'água e, molhando a parede com o líquido do vaso sanitário, fez lum buraco apertado na parede onde passou boi passou boiada. Ainda lembro-me dos arranhões sangrentos que ele carregava pelo corpo devido à passagem apertada pelo buraco salvador. Presos condenados também se evadiram e só não consigo me lembrar de como o irmão sargento tenha pagado o pato.
Na cadeia pública de Araguari havia um preso de bom comportamento que circulava à solta pelas dependências. Fazia faxina no local e tinha um sorriso largo, apesar de um olhar sempre pra baixo. O nome dele era Bernardo Feitosa Soares, um padre da Igreja Brasileira condenado por pedofilia, embora naquela época tivesse tal crime outro nome e nem fosse assim tão hediondo. Conversei muito com ele e realmente era bem cativante. Lembro-me que ele disse ter assumido a culpa para poupar o bispo, o verdadeiro culpado. Ele escrevia coisas muito bonitas e trocávamos correspondências. Incentivou-me a escrever e ofertou-me um baú cheio de livros, uma mini-biblioteca que eu e as traças devoramos. Ele escrevia em papel de cigarro, coisa que não faltava por ali. Era uma letra pequena e bem desenhada. Graças a ele escrevi, naquele tempo, o seguinte pensamento: Este mundo de hoje é tão cão e medíocre que cada flor tem um espinho, cada sorriso é um disfarce e atrás das grades há um padre.
Até hoje fico pensando neste pecador que cumpriu pena no Paraíso e da relação que tivemos penetrante por toda a vida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Louca Língua


CASO PESSOAL AGUDO

Disse o Nário Cacófono: “Alienação é um adjunto adnominal de lugar que indica a posição de uma nação no espaço.” Com mais noção de termos, em qualquer período, o arábico Al Rélio de Hollanda define tal fonema da literatura como “andar fora da linha”. Que loucura estas justas posições! Numa língua, bem passada a limpo, há uma separação silábica de seus parônimos e uma singular preposição, que desde o tempo primitivo, tem de definido e de concreto o futuro é o verbo. O gênero feminino do mesmo, ou seja, a verba, não se faz presente desde que o próprio sujeito foi preterido em um golpe epiceno mais que perfeito. É relativo que tal análise tenha como causa a finalidade de se chegar à conclusão que, sob qualquer condição, o grau sobrecomum entre as palavras de uma classe plural não é acidental, mas essencial. Uma locução positiva ou até mesmo pré positiva simples, comum à oposição, tornaria tal elemento ordinal em um caso reto ou certo, mas uma única redação de um parágrafo, na sua constituição, tem um artigo derivado da semântica que torna o tônico substantivo em multiplicativo significado. De toda forma, apesar da relação abstrata de que regras e exceções são biformes e se encontram no infinitivo, não se oblíqua ninguém a lançar uma interjeição de espanto aumentativa. Frente a tudo isto indefinido cabe interpretações de textos falsos e verdadeiros. Com junção de todos os verbetes, deste contexto comparativo, a formação morfológica é obvia ou átona ao aluno radical de Português super ativo que não tem mais adjetivo, mas analítico por sintético particípio que o coletivo chegou ao ponto final.

Meu último editorial no Jornal da Escola


Conto o que se disse e poupo os lares.

Teve um tempo que não longe vai, tanto é que ainda me lembro, que as noites eram mais escuras e nossos pais tinham mais crédito.
As ruas eram de poeira e fogão era fornalha, luz de lamparina, água de cisterna, TV em preto-e- branco, chuvisco e chiado no parente mais próximo do centro urbano.
O rádio era o centro das atenções, mas no rabo do fogão à lenha os mais velhos encantavam nossos medos com suas estórias abomináveis, sem pé e sem cabeça, saci e mula.
As peraltices do Saci-Pererê, de cachimbo e gorro, encorajavam-me a fazer travessuras e sair pulando num pé só, ora no direito e ora no esquerdo, pois havia estas duas opções para ganhar em resistência do coleguinha. Trocava de pé no ar e ele nem percebia.
À noite as peraltices na vizinhança aconteciam bem menos, pois a mula-sem-cabeça e o lobisomem me espreitavam. Se ela não tinha cabeça como soltava fogo pelas ventas?
Nossos pais nos amedrontavam e isto surtia efeito para nossa sobrevivência. Hoje não há mais como coibir os filhos que, destemidos, com uso de substâncias alucinógenas que encorajam, conseguem visões que nunca tivemos e sempre evitamos. Craques na baforada do cachimbo, como o Saci, também não tem cabeça, são mulas, transformam bens em pó, luz em escuridão... e adeus precoce na aventura terrena!
A instituição do "Dia do Saci", em combate ao enlatado "Dia das Bruxas" americano, é no dia 31 de outubro. Neste ano coincidirá com nossa presença nas urnas. É mais um punhado de mentiras, mas, como eterna criança, o eleitor continua acreditando e participando do pesadelo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Diário dos outros


Crônica após o poema


Há algum tempo surgiu-me uma idéia de fazer um diário, eu ainda era criança, mas não foi adiante. Falar da gente é difícil e ainda existem fatos impublicáveis. Há ainda o inconveniente de um intrometido aproximar dos seus momentos mais íntimos, pois um diário deve ser secreto. No dia-a-dia tamém não notamos fatos extraordinários que mereçam ser anotados. Quando se inicia um diário a gente sente-se na obrigação de contar tudo que houve a cada dia. A vida da gente só é interessante com o acumular de dias. Coisas banais que se vive pode um dia ser um fato de tamanho desmedido de importância.
Mais recentemente idealizei fazer diários dos outros. Um resumo de vida de pessoas por quais nutro algum conhecimento e o mais nobre respeito.
O primeiro a ser dissecado com algumas notas bibliográficas e que tenham influência na minha vida é o: ANTONIO MARCOS DE PAULO, autor do Blog "Observatório de Araguari".
Trata-se de um araguarino ausente por fixar residência em Brasília, mas seu coração pertence à cidade natal.
Conhecedor das artimanhas de todos os poderes, públicos e privados, devido ao fato de labutar em Tribunal de Contas de alta corte, ele, baseado na experiência, tenta manter-se de plantão aos acontecimentos de sua Araguari, onde a corrupção repete-se da mesma maneira que na podre capital.
É um grito de alerta que se irmana em coro a outros araguarinos de mesma estirpe.
O Marcos, apesar de não termos sido íntimos na infância, cresceu também no Bairro São Judas. Também estudou no São Judas Tadeu e correu atrás, muito atrás, da "bola de capotão", nos mesmos terrenos baldios que eu. Talvez fôssemos atletas ridículos, mas os times só eram completos conosco.
Os pais do Marcos, Dona Terezinha "Devagar vai Longe" e Seu Antonio "Teimoso", foram seus maiores educadores. As matérias exemplificadas diuturnamente como brio, decência, honestidade, compaixão e outras em vias de extinção, foram elimidadas com a maior nota.
O Marcos entrou no Exército, mais precisamente no Batalhão Ferroviário, para servir como recruta, mas seu conhecimento e capacidade elevou-o à graduação de Terceiro Sargento.
Transferido para Jatái foi trabalhar no Rancho do Batalhão de Infantaria. A sua qualificação militar era Logística, a área supostamente mais corrupta da caserna. Como os demais rancheiros, ele foi apelidado de pé-de-sebo e mão-pelada assim como os mecânicos eram chamados de mão-de-graxa e os infantes de pé-de-poeira. Nas brincadeiras constantes dos colegas havia e, com certeza ainda há, o despropósito de chamá-los descaradamente de mãos-leves. A atuação administrativa realmente abre brechas para que algum ou outro se beneficie, mas o Marcos jamais se locupletou com isto. Pra ser sincero eu tive oportunidade de trabalhar com licitações e contratos e fui, até certo nível, corrompido. Fez-me tanto mal que até hoje sinto-me sujo, mas isto é uma outra história.
O Marcos iniciou curso de direito em Jatái e terminou-o em Brasília, o que não é fácil a um militar tanto pelo tempo quanto pelo custo. Como ele mesmo diz, apesar das dificuldades financeiras por quais passava, chegavam naquele rincão goiano notícias araguarinas através de assinaturas que ele tinha do Gazeta, Botija Parda e Ventania. Os acontecimentos de Araguari tinham prioridade zero, fato que se repete ainda hoje, porém procura ter mais interferência.
Foi em Brasília, no ano de 1990, que aprofundamos nossa amizade. Ele era então Segundo Sargento e eu fui seu aluno no Gabinete de Identificação. Procurávamos estar juntos até mesmo no futebol de salão mesmo que desequilibrássemos pra baixo nosso time. O bom do Exército é que os superiores sempre tem vaga no time independente da bolinha que joguem. A gente perde e permanece, isto é lei.
O Marcos, apesar de uma capacidade acima dos normais, prestava inúmeros concursos, mas continuava sargento. Até que trocou praticamente "seis por meia dúzia" quando saiu do Exército para o Banco do Brasil, onde ainda cercara-se de fatos que prejudicam a quem seja extremamente correto. O Marcos tinha uma úlcera que nascera certamente por estar amarrado diante tanta situação irregular.
Talvez tenha sido seu pior pedaço, pois a falta de moradia por lá ou falta de salário correspondente, foi lhe um obstáculo sem tamanho. Só aos fortes as grandes batalhas...
Provas de concurso de nível superior ele ia passando, mas ficava sem classificação. Uma vez passou na Polícia Civil, mas a comunição foi falha e perdeu o cargo. Ficou muito contrariado e eu o consolei dizendo-lhe para continuar fazendo todos os concursos e quem iria escolher o melhor pra ele era Deus, e dito e feito.
Sua filha, dentre outras, uma cientista política, ainda é mais estudiosa que o próprio pai. Ocupa um bom cargo, daqueles de concursos de mais de três níveis.
O Túlio, o caçula tricolor forçado, que aparenta não querer nada, faz duas faculdades ao mesmo tempo. Ao contrário do pai é titular dos times os quais joga por habilidade extrema.
Rosa, a esposa também araguarina, deveria chamar-se jardim.
O Marcos está sempre que pode, ou não, em Araguari. Não é só pra matar a saudade dos pais e familiares, mas pela cidade. Tem até intenção de remunerar um correspondente local de seu Blog pra não perder o foco de sua terra querida. Fui até convidado pra isto, mas estou acorrentado à uma cabeça de cavalo enterrada em Goiandira.
Tenho certeza que o seu desejo de voltar será saciado e, de preferência, como um Juiz Federal ou de Direito da Comarca Araguarina. Aí então quero ver se suas solicitações aos agentes de órgãos públicos araguarinos, ou quem quer que seja, não serão atendidas...
Em seus pareceres, já impaciente com tantas falcatruas, ele aparenta ser rude, mas é muito doce e humilde. Já o ouço dizendo que eu exagerei neste texto a seu respeito, mas eu nem disse que ele até empresta dinheiro com intenção de nem receber.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dois Sacanas: Carlos Drummond de Andrade e Eu



Pensamento Satânico

"Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!"

Carlos Drummond de Andrade


Ela e o Austin

Aproximei-me sorrateiramente e ainda pude ver o meu amor arrastando o Austin, pelo braço, para o nosso quarto. Naquele corpo-a-corpo pude ver o Austin o tempo todo de boca aberta.
Mantive-me à espreita pra não interromper aquela relação cheia de vibrações. Sentaram-se à nossa cama e meu amor, querendo obter a nota máxima, colocou o Austin no seu colo confortavelmente. Encaixou a sua coxa na cava do Austin e o abraçou. O Austin até então mudo, ao ser tocado e esfregado, soltou gemidos sonoros. A tensão foi aumentada e o instrumento, manipulado com muito intimidade e rapidez, pelas mãos de meu amor, esticou-se ao limite máximo. O corpo de ambos soavam... os trastes se comprimiam... Sem saber, aqueles dois, em todas as posições possíveis, tocavam uma pra mim, então tive que interromper o meu gozo de satisfação com intermináveis palmas...
Meu amor, minha ave canora, tanto que podia ter um violão Austin, legitimo espanhol, mas tem um made in China.

PS: Sem contar que depois de tanto êxtase o Austin vai pra dentro do armário!
Aristeu Nogueira Soares

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Antônio Marcos de Paulo



OUTRAS PESSOAS

Existem pessoas que envelhecem...
E outras que comemoram a vida!
Existem pessoas que pecam...
E outras que perdoam!
Existem pessoas que se realizam...
E outras que não se contentam!
Existem pessoas que o dia é longo...
E outras que se realizam a cada minuto!
Existem pessoas com objetivos na vida...
E outras em que a vida é objeto!
Existem pessoas que desistem...
E outras que recomeçam!
Existem pessoas que passam...
E outras que permanecem!
Existem pessoas que ensinam...
E outras que modificam!
Existem pessoas que sorriem...
E outras que não ficam tristes!
Existem pessoas que constroem estradas...
E outras que abrem caminhos!
Existem pessoas escravas...
E outras que cativam!
Existem pessoas que badalam...
E outras que martelam!
Existem pessoas sisudas...

E outras, bem poucas, Antonio!
Existem pessoas madalenas...
E outras, bem poucas, Marcos!
Existem pessoas frutas amargas...
E outras, bem poucas, de Paulo!
Existem pessoas caroço...
E outras, bem poucas, é massa!
Existem pessoas que vão
E outras que permanecem

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O leão era manso


Em cima daquele morro...


No meu país das bandalheiras
Tudo pode e tudo é crime.
Contrabando lá na feira
E corrupção que não redime!

Plágio, cópias de livros
E conexão clandetina.
De tudo eu me sirvo
Viva eu made in china!

Prendo o animal silvestre
E compro a nota da madeira.
Tudo num golpe de mestre
Propinar fiscais é brincadeira.

O crime é organizado
Até na invasão de terras
Com custos contabilizados
Esta máquina não emperra.

Compro voto e falcatruas,
Sequestro e escravizo.
Emprego o menor de rua
Pra matar e dar aviso.

Urino a via pública
Exploro sexo e "boca".
O morro é minha república
A planície dorme de touca.

Espanco a Maria da Penha
Na violência doméstica.
Clono cartão e senha,
Mas no congresso tenho ética!

Desacato a autoridade
Onde moro ponho censura
Fecho o comércio da cidade
E pratico a tortura.

Busco armas poderosas
E novas rotas à droga
Na minha vida perigosa
Compro os de farda e de toga.

Quando preso na cadeia
Faço dela fortaleza.
Aumento mais minha teia
Viro mais que realeza.

Tenho rádio pirata,
Lavo dinheiro na Igreja,
Ostento ouro e a prata
Onde quer que eu esteja.

Tenho carros importados
E apartamentos em zona sul.
Elejo dois deputados:
Um vermelho e um azul.

Torço para a raposa,
Mas também sou urubu,
Por muito ou qualquer coisa
Dou carne humana ao pit-bull.

Quando chega a mercadoria
Solto fogos e balão.
Muita festa e alegria
Mostro na televisão.

Falam que eu sou forte
E então eu acredito.
Sou o senhor da morte,
Super-homem e até mito.

De repente exagero
Onde toco vira fogo
Quando menos espero
A polícia vira o jogo!

Acabou-se a paciência
Chegam em mim por terra e ar
Força armada e presidência
Acabam de acordar.

Pernas pra que eu te quero
Agora ou mato ou morro.
Chega de lero-lero
Do morro pro mato corro!

Se o cerco for rompido
Farei de mim mais um cristão.
Vale a pena ser bandido
Só noutra encarnação.

Chega de impunidade!
Grita o povo pelo Pai,
Mas pra vencer toda maldade
O sangue do justo cai.

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Já que é tempo de poesia


A arca que não é

O mundo imundo e errabundo aos olhos cai.
Para a lama se esvai. Pára a lama! (dissabores)
Corrupto ou corruptor são ininterruptos cassadores,
São da bancada – que mancada – saltimbancos relatores.
CPI, CP VAI, CP CHEGA, CP CEGA, CP NEGA.
Navegar é preciso e na nave não há juízo.
A Procuradoria, com sabedoria, procura a Corregedoria...
Ia... Ia... Ia... O rio seca e transpõe o monte...
Vira estrada e o supremo aponta o super remo.
O Senado, ainda blindado, bóia sem horizonte!
A imprensa prensa o que pensa, mas não pensa.
A manchete mancha e se repete... e some...
... Outra notícia a consome: A polícia pega o pó e alicia.
O Congresso digresso é salvo do réu-confesso;
O presidente, água ardente, não presente;
O povo armado, de novo estorvo, na urna labuta;
A Câmara dos Deputados...

domingo, 28 de novembro de 2010

No "Portal de Araguari" tem outro final


Tudo Bem!

Teve um tempo de bonança
Em que se vivia com vintém.
Hoje toca e não se dança
E a gente exclama: Tudo bem!

Nosso plano de saúde
Era um chá de qualquer trem
Aliado a um Deus-te-ajude.
Hoje morre na carência e tudo bem!

Quem mandava era o coronel.
Só ele e mais ninguém.
Hoje somos escravos do papel
É autentique e tudo bem!

Tem a fila lá do banco,
Do hospital e do armazém.
De fila não se passa em branco,
Mas ela anda e tudo bem!

Na escola do passado
Professor era Seu Alguém.
Hoje é ameaçado,
Ele apanha e tudo bem!

Hoje fica-se mais perrengue
e por um pouco vai ao além.
Mata o câncer e mais a dengue.
Estou vivo - tudo bem!

A Cidade Maravilhosa
Está dominada também.
A segurança é vergonhosa...
Sou doutro estado - tudo bem!

Igreja pra todo lado,
Tanto irmão e tanto amém.
Pastor e bispo endinheirados
Dão-me o céu e tudo bem!

Pai e filha são nubentes.
Todos filhos são harém.
Muita cabeça doente...
É com os outros - Tudo bem!

Jogar bola é uma mina
E também casa-se bem.
Mulherzão que alucina
Pago o ingresso e tudo bem!

A corrupção anda larga
E do imposto sou refém.
Esta minha sobrecarga
Tiro do próximo e tudo bem!

Hoje é dia de Raimunda.
Tratam amélias com desdém.
Glúteo na tela de segunda a segunda
Compro a revista e tudo bem!

Vai ter guerra no oriente.
Quem vê jornal se entretém.
É num outro continente
E sendo só lá tá tudo bem!

Terremoto e furacão
Em um constante vai-e-vem
Treme e sopra outra nação,
Mas no Brasil tá tudo bem!

A natureza não demora
Há de nos cobrar porém,
Pois pimenta no do outro
Há de arder no meu também!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A diretora Lêda



O Ledor

A Escola é uma Igreja
Veja bem por qual razão:
É um Céu de conhecimento
E tem anjinhos de montão.
Tem a Pública e a Privada
Enchendo nossa bagagem,
Mas o destino do ensino
É a eterna aprendizagem.
E o preço da passagem
Nessa tão grande viagem?
Dinheiro não é paga
À tonelagem dessa carga.
Aproveite o quanto possa
A beleza da paisagem.
Fui aluno muito pobre,
Mas aprendi a lição
No caminho lá do Grupo
Com perfeita exatidão
Desenhava meu pezinho
Na poeira pelo chão.
Um conselho, oh fedelho,
Para a sua abolição
É amar a leitura
E nela por dedicação.
Lê de tudo quanto possa,
Pois é essa a solução;
Há quem lê da mão nossa
O futuro da Nação.
Lê da Escritura a verdade;
Lê da Cartilha o Bê-a-bá;
Lê da Lei o inocente;
Lê da vida o que há.
Lêda, cara Diretora,
Que não quer se aposentar,
A ânsia por mudanças
Do Brasil... do seu mundinho...
Através de uma criança
Mantém viva a esperança
Que rosas não dão espinhos
Do Jardim da nossa infância.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Dez a fio


Enfio e afio

Caro amigo seguidor,
Poesias também aprecio,
Tecê-las me é um favor,
Cada uma é um desafio.
Se o fio da meada me agrada
A tudo num instante renuncio
E a uma nova empreitada
Minha atenção eu desvio.
Por um pouco de rima
Confesso que até parodio,
Mas me inspiro Lá Em Cima
NAquele a quem sempre confio,
Nossa vida é uma teia
Ou então um mar bravio.
Um sangue quente na veia
Ou um eterno vazio,
Mas tendo o Amor como tudo
Num instante me inebrio,
A teia vira um escudo,
O sangue, num sopro, resfrio,
O vazio se extasia,
O fio terra é poderio
Contra toda energia.
O fio pode ser uma canção
Ou um simples assobio
Um fio de cabelo na mão
É um DNA que copio,
A corrupção parece fio invisível
E a FioCruz tem seu brio.
Eis a verdade possível:
A evolução não quer fio...
Telefone sem fio,
Mouse sem fio,
Internet sem fio,
Microfone sem fio,
Quando muito meio-fio.
E na rede ponho meu perfil,
mas às vezes desfio,
Atrofio? e de novo fio...

Assinando a matéria



Dados curriculares

Muitos escritores e ou compositores lançam mão de pseudônimo na assinatura de um artigo ou composição. Isto se dá a vários fatores de preservação do autor, inclusive de cunho político. Em concursos de poesias, por exemplo, exige-se a utilização de pseudônimo, por parte dos concorrentes, para que integrante de banca avaliadora não se direcione a algum conhecido. Lembro-me que, nas minhas primeiras aventuras poéticas, escolhi o pseudônimo de Corinthians. Escolhi tal nome com o intuito de enganar mesmo já que meu time é o Flamengo. Corinthians também dá mais credibilidade por ser um nome bíblico e ainda, no meu caso, termina com as letras "ANS" as quais seriam a abreviatura do meu nome por inteiro - Aristeu Nogueira Soares. Muito criteriosa a minha escolha.
Quando adentrei como cronista do Panorama de Araguari, antigo nome do portaldearaguari.com.br, o amigo oportunizador e terno editor Aloísio pediu-me um modo de apresentação para assinatura, em rodapé, do espaço concedido. Lembro-me que à época disse-lhe que bastava colocar que eu era um ex-engraxate de Araguari.
De lá pra cá deu no que deu e muitas matérias foram publicadas. No transcurso das mesmas desfilei de coração aberto minhas várias facetas, minhas mazelas, meus sonhos em torno de um progresso social e pessoal, inclusive moral com pouco sucesso. A verdade é que sou metido a querer saber um pouco de tudo, a satirizar o desconhecido, banalizar o complicado, serenizar os afoitos, açoitar com poesias o torto e o direito, mas nada maior há que ex-engraxate de Araguari. A explicação vem a seguir.
Fui moleque mais travesso que obediente. Fui aluno adiantado que se perdeu. Chutava de "bicuda" e só encaçapava no meio da mesa. Fui irmão de uns dois quando éramos nove além de filho de forçada emancipação. Militar de uma vida inteira sem batalhas. Escritor sem livros. Garçom sem gorjetas. Agrimensor sem terras. Sorriso sem brilho. Choro sem lágrimas. Caminheiro sem destino. Medo sem causa. Beco sem saída. Padeiro sem bigode e sem queima de rosca...
Ex-engraxate eu o sou, meu primeiro ganha-pão. O tilintar daquelas moedas causavam-me maior alegria que todas as quantias oriundas do Governo Federal em salários de uma vida.
Meus amigos de coluna de lá e tantos outros autores, nos dados bibliográficos em fim de matéria, são as suas últimas profissões, com mérito sem medida, diga-se de passagem: Um é Juiz consagrado escritor, outro Advogado melhor prefeito e a educadora inconteste cidadã, mas eu me apresento pelo primeiro ofício - Ex-engraxate de Araguari. Não por modéstia ou humildade, mas mais uma vez por ser petulante. Não me faço assim o menor, mas imito o Maior Mestre: Enquanto Ele lavava os pés dos discípulos eu o imitava ajoelhando-me aos pés dos sem graxa e reluzia o sol com a justa medida da multiplicação dos pães necessários à minha sobrevivência de cruzes.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

Árvore de Natal

Na voz de "Avô Rai" do Zé Ramalho


OS MALES

São tantos males distribuídos pelo planeta...
(1) É o capeta, é o capeta.
Eu sou culpado, mas tenho dó do meu irmão.
Essa sina de chacina é pelo pó e para o pó vai o cristão.
Em cada cela, heróis de guerra: os generais...
(2) É satanás, é satanás.
Países são criados num acordo de maiorais
Outros são massacrados e divididos pra nunca mais
Bem vivo hoje porque não creio no amanhã
(3) É o satã, é o satã.
Ano dois mil está aí, mas Sodoma vai reexplodir,
Está uma zorra e Gomorra vai sucumbir.
Não sou profeta, é só questão, de ter visão
(4) É o cão, é o cão.
Digam-me onde que se esconde meu libertador,
São tantas seitas que me aceita e posso entrar como pastor.
São as seminuas no meio da rua por quem me acabo
(5) É o diabo, é o diabo.
Falar da fome para o homem é de amargar
Ele afirma se dividir quem vai levar é que vai ficar
A dúvida que vem do norte espalha forte por todo sul
(6) É belzebu, é belzebu.
A mentira tem pernas longas esta é a verdade,
Com a falsidade ninguém se mete, pois teme as mortes que são manchetes.
A vida fácil e a riqueza sem o trabalho é o que espera?
(7) É besta-fera, é besta-fera.
Este Jesus que esteve na Cruz tem que descer,
Fortalecer nós pobrezinhos de pouca fé
Pra que de pé tenhamos força pra assistir
Ele repartir todos aqueles que são teus
(Ele é Deus, Ele é Deus)

domingo, 7 de novembro de 2010

Homem Digital


SHIFT DELETE - Na urna eletrônica tinha que ter este comando.


Todo aquele que restaura um HD, homem digital, retrocede e não crê no potencial de transformação da natureza, mesmo além da matéria.


Não sei se acordei meio down ou meio up e-mail load, sei que fiz uma limpeza na minha área de trabalho, sem dó nem piedade. Quantos ícones que pouco representam e que vão tomando espaço, um mega espaço, reduzindo-nos o tempo de poucos "bits" que nos resta.
O Shift Delete não permite arrependimento. O que ele apaga nem à lixeira vai. Muitas foram minhas vítimas neste tresloucado comando de renovar passado-me pelo arquiteto orkutiniano de Araguari - Alessandre Campos.
Apagar dá trabalho e é um ato que nos leva a rever certos conceitos, certas posições, certos ideais e certas amizades.
Queria também poder dar shift delete na minha memória, cada vez mais decadente, mas ela auto se realimenta - É um HD de vida própria que nada apaga. Está sempre on line mesmo que eu esteja off egante.
Quando a gente se põe a cumprir uma tarefa de renovar, Alessandre Campos, fique sabendo que não é fácil. Um comando diferente que nos impulsiona deve ser ativado.
Quantos arquivos, no cyber espaço, maldizendo Lula e Dilma e PT e Vice-e-Versa estavam truncando minha máquina e agora todos estão aí, no mínimo, por quatro anos, sem que eu possa shift deletar da minha verdadeira vida!
O renovar virtual adentrou meus documentos, minhas imagens, meus vídeos, meus favoritos e agora há um vazio a preencher. Suspeito que irei ressuscitar estes mesmos meus fantasmas.
Ainda assim a vida não anda e terei que praticar o temível finalizador de tarefas e processos chamado control alt delete. Uma eutanásia que, diante mão, não adiantará nada apenas reiniciará a carroça sem consertar a roda quebrada.
Em vez de renovar proponho uma vida nova - Um format C.
Num "FORMAT C" todo o espaço torna-se disponível, mas o tempo continua perdido.
Que nesta nova existência o navegador seja a gente mesmo e não alguém de uma janela.

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta também ao Serra na última derrota ao Lula


SERRA

Caro brasileiro José Serra, quero parabenizá-lo pela Campanha Presidencial realizada. Aconteceu a derrota, mas o resultado a seu favor não deixa de ser expressivo, pois apesar de tanto apoio o mérito é particular. No apoio recebido de outros figurões pode-se observar o desânimo e a presença em palanques como que por obrigação.
Na reta final votei no Senhor por dois motivos: 1) Porque a sua desenvoltura me causa admiração fora de períodos eleitoreiros e 2) Porque o sufrágio resultante em percentual elevado pode dar ao vencedor uma pseudopopularidade que talvez seja capaz de transforma-lo num déspota. Haja vista ter se intitulado, no debate, como a única saída para o Brasil. Talvez a faixa presidencial transforme-se em asas que o leve tão alto e, pensando ser um deus, transforme-se num diabo.
Que Deus nos abençoe e transforme nossa opção realmente em único caminho, pois só a Ele cabe as transformações miraculosas.
No Primeiro Turno votei no Ciro que foi nocauteado pelo seu marketing. Aconteceram falhas irreparáveis na sua estratégia eletiva: O Sr atacou a “todos” indistintamente e “todos” foram obrigados a se posicionarem contra a sua investidura. O Sr tinha o Governo, a capacidade intelectual, as “olheiras” de um homem trabalhador e um perfil revolucionário que não puderam ser revertidos em votos devido a uma arrogância e impetuosidade apresentadas, porém não existentes.
Não se amargure e que todos os seus dias continuem sendo vividos pela glória da Nação e evolução dos povos.

Minha carta a Roriz quando governou DF pela última vez


RORIZ

Sr Governador, muitos são os motivos que me levaram novamente a dar aval pela continuidade do seu nome no Governo. Nas urnas repetiria o mesmo ato quantos turnos fossem necessários, mas defender o Senhor tem ficado difícil. Militar na gratuidade tem saído caro e arriscado. É desolador ver adversários insistirem que somos, em totalidade, cabos eleitorais beneficiados com pagamentos.
O Sr conhece estas paragens antes mesmo de se edificar esta capital monumental, mas não sabe traduzir em palavras, às vezes mais necessárias que ações. Tudo bem, afinal a oratória é um dom, mas vez por outra a empolgação o envolve e o Sr diz coisas impensadas sem que façam parte do seu coração: És cristão? Então cala e o Espírito Santo falará no seu lugar. Lembra que “nem todo aquele que diz SENHOR! SENHOR! Entrará no reino do Céu”. Os apóstolos indagaram como seriam reconhecidos como cristãos e Jesus disse que bastava que se amassem uns aos outros: Eis a única apresentação do Cristão.
Apesar de suas atenções serem direcionadas aos mais carentes, o que ganha minha simpatia, há a necessidade de tomada de consciência que o Sr é o Governador de todos. Em alguns setores permanentes do Estado o Sr tem oposição acirrada e permanente. Ganhe esse pessoal. Como estadista e visionário é chegado o momento de reverter este quadro. Na Educação pública meus filhos foram prejudicados: o modelo Petista de Administração Educacional, adotado noutro mandato, era melhor e gostaria de saber qual a dificuldade de se assimilar o que é bom? A velha geração continua solidária, mas se torna minoria à medida que os jovens estão sendo lapidados por professores grevistas. Seus redutos eleitorais estão mudando o seu favorecimento a cada votação.
O Sr não é Jesus Cristo, mas parece estar cercado de ladrões e nenhum bom.
Sua imagem, num futuro próximo, poderá ser ainda mais ridicularizada. Isso me dói, porque sempre acreditei nas suas boas intenções. Governe e não peques mais.

sábado, 30 de outubro de 2010

Proibido de cantar e tocar


Ciúme do Violão

Acorde pra vida - não.
Posição de alegria - não.
Abraço apertado - não.
Condenada a canção!

Meus lábios censurara
Sete línguas calaram
Oito orelhas esquecidas
Duas mãos atrevidas.

Três braços sem colo
Dez dedos sem solo
Duas bocas sem choro
Ninguém me faz coro
Nada de estouro
Sucesso nem passageiro
Parada nem em banheiro

O divórcio enfim chegou
Voltei com o violão
Vinte anos durou
Nossa separação!

Acorde pra vida - Sim
Posição de alegria - Sim
Abraço apertado - sim
Libertada a canção

Uma poesia minha classificada em concurso


CREDO DO VERÃO PASSADO

Numa viagem elipsoidal
Dispúnhamos de quatro estações,
Mas nosso comportamento bestial
Trouxe-nos duras transformações

Virou bagunça o espaço,
O Sol acerta-nos em cheio,
As fortes chuvas de março
É inferno de veraneio!

A Terra, às águas blindada,
Inunda mais que permeia
E pessoas desgovernadas
Vão enfrentar outras cheias.

Amazonas vira rego,
Pede arrego Itaqui,
Não demora há emprego
No deserto de esquis.

Só se faz com protetor
Uma relativa nudez.
O Santo ou o bloqueador
Só não filtra a estupidez.

O grande amor de verão
Pode ser com o Doutor...
Piores verões virão
E haja câncer e tumor!

Esta visão pessimista
É de um mero escritor.
Concorda assim o Cientista
E que não o Criador!

Nem só de pão vive o homem...


Nada de sócio - só ócio!

Que se dane o padeiro e renasça o cronista...

Minha última postagem por aqui foi em primeiro de agosto. Morri? Sumi? Desaprendi a escrever? Não. Nada disso. Virei padeiro, na realidade pandeiro, pois nunca apanhei tanto.
Na última postagem, denominada "Maré Braba", falava eu de minha situação calamitosa. Gente, quando tudo parece estar ruim é sinal de que ainda vai piorar ainda mais. Quando se vê uma luz no fim do túnel é porque o trem vai te atropelar. Quando se está no fundo do poço é sinal de que terra ainda desabará sobre sua cabeça.
Em meados da década de setenta eu trabalhei numa padaria de nome Super-Pão, na Praça Manoel Bonito em Araguari. Era uma padaria linda, uma lanchonete diversificada, uma sorveteria multi sabores, uma confeitaria mágica. Turnos que funcionavam perfeitamente. Era esta minha ótica, mas é um negócio muito complicado.
Um amigo, responsável direto por esta minha ausência internética e do mundo em geral, me convidou pra participar, meio a meio, de um negócio deste (Neste momento a madeira da mesa faz toc-toc-toc sob meu punho cerrado) e eu fui.
Instalamo-nos num imóvel velho, multado pela vigilância sanitária e fomos realizar sonhos. Padaria produz sonhos sem que ninguém durma.
Não vou falar do assédio do poder público nem dos amigos que queriam comer de graça.
O lucro, quando existe, é pouco ou quase nada pelo tanto que se trabalha. Até Jesus teve prejuízo, pois fez pão pra sobrar. Aliás, Ele foi o maior dos padeiros, mas pedia pão ao Pai, pois, com certeza, não queria fazê-lo. Há quem diga que Ele fazia pão da pedra e eu, ao contrário, faço do pão uma pedra.
Durante minha vida militar sempre acertei na mosca, mas na padaria não acertei sequer uma. Os olhos dos clientes são de lince, pois descobrem uma mosca escondida em qualquer cantinho do balcão e, impiedosamente, com o dedo em riste, brada com o infeliz do padeiro: - Credo! Uma mosca. Que nojo! Faça alguma coisa.
Tudo isto como se tal inseto não fosse invencível. As moscas sempre existiram apesar dos padeiros e baygons.
Fiquei um lunático. O pouco que ressonava usava toca e luvas. O ser humano tem mais nojo do ser humano do que de moscas ao varejo.
Acho que vou abrir um buteco de quinta, pois ninguém olha a validade de uma cerveja e, se aparecer alguma mosca, ainda fazem-na de tira-gosto.
O pão de míseros centavos é muito exigido. Tem que ser fresquinho. Tem que ser quentinho. Tem que ser moreninho. Tem que trincar.
Dizem que pão engorda, mas é mentira. Eu, diuturnamente nesta padaria, perdi muitos quilos. Pão fora do ponto ou caído era meu principal cardápio.
Perdi tempo, trabalho, dinheiro, crônicas e ainda abandonei meu sócio que depositava fichas na minha competência. A gente não é obrigado a prosseguir em tudo. Eu não sou teimoso. Minha opinião é volátil, mas de uma coisa eu tenho certeza: O forno de uma padaria deve ser o último degrau para entrar no inferno. Estou fora, mas ainda continuo com meus demônios tendo que comer o pão que o diabo amassou. Então o padeiro é o diabo?

domingo, 8 de agosto de 2010

Maré braba!


Combatente Internético Off-line

Às vezes a gente sai de cena e o espetáculo muda de palco, de gênero e, de autores, passamos às vias de vitimados. A mente se perturba e voltamos ao mundo dos seres normais, problemáticos, frágeis e, o mais duro, reais.
Numa bela manhã, princípio dos fatos, mesmo não acreditando em astrologia, a gente se lê no horóscopo. Dá uma risadinha quando o número da sorte é treze e a cor do dia o vermelho sangue. Sai de retro, Satanás! Mas não sai: É apenas o começo do raiar de uma desesperança mal acompanhada.
O dente dói – o plano não cobre, o ciático ataca toda a parte anterior e posterior abaixo do umbigo e ainda não se tem como recusar um convite para ajudar como servente de pedreiro em obra sem fim.
Os amortecedores da tampa traseira relaxam e repousam a tampa sobre a nossa cabeça com a força de uma guilhotina sem corte. O farol queima em plena escuridão sem lua.
Os Correios extraviam encomenda. A conta telefônica vem superfaturada e o melhor é pagar que chegar até o fim com a reclamação – um caminho sem volta.
Ainda bem que o caroço do pescoço do filho, chamado de cisto branquial, não é maligno, mas cresce sufocando a carótida e jugular. A esperança de intervenção cirúrgica reside no SUS. Durma com um barulho desses.
O cão velho, fiel até o fim, tremula para partir. A cadela ex-sorrateira agoniza em pós-cirúrgico piométrico.
A esposa insone, último baluarte e esteio, acumula mais dores na casa dos horrores.
A campainha toca e não é visita – É o oficial de Justiça cobrando fiança no salário minguado que deveria sim ser complementado. Tal fiança, dada em aluguel a um ex-amigo, sumido para a Justiça, há mais de uma década, deveria servir de exemplo ao, cada vez mais mortal, que o próximo vale tão quanto o afastado.
Qualquer gigante tomba. Preciso de socorro em terra, céus e mares.
Fui.
Oh! Minas Gerais! Eu só voto 3193 dos federais.
Porque é bom... beiro, ficha limpa e herói!

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Eu e minha sogra



Uma professora de matéria alternativa, parece-me que "Contos e crendices populares", veio com a turminha à casa de minha sogra pra entrevistá-la a respeito de estórias que longe vão e que corriam por Goiandira. A professora ficou encantada e pediu-me pra escrever um texto que complementasse a entrevista com o seguinte título: Quem é dona Zenira?

Quem é dona Zenira?

- Para o falecido marido: Aquela que concluiria a missão.
- Para a filha mais velha: Tapa de amor que doía.
- Para a mãe Zulmira: A mais bela flor do jardim.
- Para o pai Manoel Bento: Uma filha como os demais, pois este não fazia distinção.
- Para a filha mais nova: A cruz necessária e sob medida que balançou o berço.
- Para o filho mais velho: A velha que lhe fez duro.
- Para o filho caçula: Aquela que Deus conserve e abençoa!
- Para os médicos: A que tem saúde pra dar e vender.
- Para a Rádio Terra Branca: A certeza de estar sendo ouvida.
- Para o neto mais velho: É a velha mão carinhosa.
- Para a bisneta distante: Uma ilustre desconhecida.
- Para a única neta: O bom conselho e o ombro.
- Para o neto mais novo: Um poço de histórias onde seus porquês têm respostas.
- Para a democracia: Uma dispensada insistente, devota do voto.
- Para os vizinhos: Aquela que não incomoda...
- Para as noras: De longe também se ama.
- Para o INSS: Ainda vive?
- Para o fornecedor: Osso duro de roer, paladar exigente e boa demais em conta.
- Para o prefeito: Eleitora que incomoda cobrando empenho durante todo o mandato.
- Para os bailes de outrora: A melhor costureira!
- Pra comunhão de domingo: O cântico mais lindo.
- Pra cadelinha Nira: “O vovó” a defender.
- Pra o sol que brilha: Alguém que sempre se aquece.
- Para o estômago pontual: Um fim na fundura.
- Ao Banco do Brasil: A fiel depositária.
- Para o telefone: Memória e tato ágeis que a transporta a todos os rincões.
- Para o genro, no caso eu: Nada a inventariar... e os textos abaixo:


Não é ponto final, mas reticências...
Aquela que fica, mas vai...
Não enxerga, mas vê...
Tropeça e não cai...
Cozinha e come...
Deita e não dorme...
Levanta e sonha...
Xinga e Abençoa...
Chora e sorri...
Fala calada...
Néga e ponto...
Se mata de viver...


AS DEFICIÊNCIAS

Normalmente o sentimento despertado ao nos depararmos com alguém deficiente é o dó. Em nossa longa formação, através dos tempos, a compaixão e a aversão por aleijados está alijada em nosso consciente social. Numa simples observação pode se afirmar categoricamente que os conceitos que cercam tais vítimas são incorretos. Primeiro que deficiente não é termo digno, pois a maioria de tais seres humanos são dotados de uma capacidade de superação sem tamanho. Eles deveriam ser cognominados “super eficientes”, pois a falta ou paralisia de um ou mais membros ou surdez associada à mudez ou até cegueira não são obstáculos para os mesmos. Pela carência são desenvolvidas, além da normalidade, outros membros ou sentidos. Você, que se enquadra nos normais, ou seja, eficiente, tente fechar os olhos e caminhar durante um só minuto em linha reta numa calçada comprida, larga e sem buracos, como experiência. Tenho certeza que sua sensação vivida nesta experiência pode muito bem demonstrar o que tento transmitir através de poucas palavras. Já que não é nada fácil vamos diminuir o máximo possível o esforço desprendido por todos estes que assim são para que o amor seja vivido em forma de cooperação, afinal, precisamos muito do poder de concentração dos mesmos voltados para solução de problemas maiores frente aos quais somos totalmente incapacitados.
Este pedacinho é dedicado à minha sogra, Dona Zenira, pois a mesma ficou cega devido a males como a catarata e glaucoma. Poderia ter sido evitada a cegueira se ela, como quase todas as pessoas mais antigas, não relutasse tanto em procurar os médicos. Começa com uma dorzinha qualquer e de repente alguns chazinhos poderão resolver. Quando se dá conta o mal é de uma enormidade que não há qualquer tipo de intervenção que possa resolver. Aconteceu esta incapacidade já mais próximo da velhice e não foi tão desastrosa, pois foi possível deixar todos os filhos encaminhados – esta é a grande preocupação do pessoal das antigas. É dura a cegueira para uma pessoa que ganhou a vida dependendo totalmente dos olhos. Minha sogra foi costureira de mão cheia, daquelas que tinham que criar o modelito e realizar a combinação de cores. De vez em quando fica ranzinza, mas qualquer velho fica assim. O objeto que mais a auxilia é o rádio. Através do rádio ela enxerga o mundo muito além do seu redor. Conhece e canta muito bem todas as músicas. As notícias são muito mais apreciadas por ela que por qualquer outra pessoa. Se mudou a data do pagamento dos funcionários do estado é só perguntar que ela sabe. Se não fosse o pouco tempo de estudos acredito que a mesma poderia compreender muito bem os noticiários de economia, mas mesmo assim conhece as opiniões dos jornalistas que se aproximam de sua linguagem. De vez em quando absorve uma notícia incompreensível para ela e me pergunta de que se trata. Procuro sempre “suavizar” os impactos de qualquer medida governamental, pois ela é muito preocupada com os dois salários mínimos que recebe, um da aposentadoria e outro da pensão deixada pelo sogrão, mas muito cedo ela acaba confirmando que as medidas de qualquer governo são sempre contra a maioria, mas continua crédula e confiante em minhas explicações.
Tenho convicção que tais problemas ainda nos cercam para que nos dediquemos com grandeza àqueles que nunca foram pequenos.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Não basta ser ficha limpa - Tem que ser herói


Meu Irmão Betinho,

Recebi com pesar a notícia da sua candidatura a deputado federal 3193, por Minas Gerais, no PHS. Ser suplente de senador é o meu sonho de consumo. É de se lastimar que um homem íntegro, bombeiro heróico, pai incontestável, irmão inesquecível, filho sem precedentes, avô bonitão e cidadão do bem se misture a esta gentalha. Não há honestidade que não se corrompa na vivência palaciana do poder, principalmente nesta dita Nação Brasileira. Até você estará sujeito a negociatas no covil, apesar do imenso grau de sua honestidade.
Não tenho nada contra o PHS, ainda mais que seu contingente político é diminuto. Quando partidos ficam grandes é que a maracutaia os enlameiam. Quando o Partido é pequeno cabe ao canditato ser grande e você não é tal, no sentido de urna cheia.
Para ser um candidato de expressão deve-se figurar na mídia diuturnamente. Falta de popularidade só se compensa com muito dinheiro e você não tem. Você, como todos os seus irmãos, passou uma vida inteira cumprindo ordens como militar. Este carma familiar ensinou-nos a amar a Pátria e o povo com o sacrifício da própria vida, mas eu acho que não daria minha vida pelos políticos à exceção de você é claro.
Se você ainda fosse um jornalista, um radialista, um ator, um cantor, um jogador de futebol, uma celebridade internética ou até mesmo televisiva suas chances seriam outras – fora deste parâmetro não há urna eleitoral que grite por você.
Eu também sonho com o bem estar da pessoa humana na comunidade e na solidariedade entre todos, mas partir às ruas de um grande estado, como um cão sarnento num propósito político é uma loucura maior que o sonho.
É quase certo que nesta caminhada de tentativa de resolução de problemas coletivos você levará prejuízos desmedidos particulares em torno de um patrimônio insignificante. A não ser que na sua legenda tenha um candidato como o saudoso Enéas que transferiu votos a outros seis do PRONA. Com isto empossou um deputado federal eleito com meros duzentos votos.
Você fala que é um “Nogueira Soares” e que não desiste nunca, mas onde estão os “nogueiras soares” que venceram? Não por falta de capacidade, mas por não desejar mal a ninguém. Grandes conquistas só se fazem com inimigos vencidos e sempre quisemos levar todos abraçados.
Temos direitos aos sonhos, mas cabe-nos o dever do cálculo dos riscos. Para se eleger um deputado federal mineiro há de se ter duzentos mil votos. Eu apenas acredito que você irá contribuir para este coeficiente eleitoral de outro figurão do partido belo-horizontino ou juiz-forense. Falando nisto, o único deputado por Minas, do seu Partido, é muito famoso, escritor e tramita num grande colegiado eleitoral. Em Araguari ele conseguiu uns duzentos votos e você aumentará este número certamente para o partido. O cidadão candidato araguarino, de maior expressão local, no último pleito, teve dez mil votos do total de sessenta mil eleitores araguarinos. No pleito atual até ex-prefeito está na disputa.
Se os bombeiros, categoria a que você pertence, unissem-se a você, com exclusividade, você não chegaria a vinte mil votos em todo o estado, isto considerando também os familiares. Lembre-se, como agravante, que oficial dificilmente vota em praça.
Ainda assim, sem saber como te apoiar, pois nem voto em Minas, vou mentalmente digitando 3193 e te colocando como a melhor solução de um socorro perene para o nosso estado Natal e pelo nosso País das vantagens descabidas.
Não se aborreça com meu pessimismo, mas se tiver uma vaga de suplente de senador me avisa que eu abraço.
O cálculo que te favorece é que ao longo de quase trinta anos de serviço, como Subtenente Humberto dos Bombeiros, com média de dez salvamentos diários, você deve ter socorrido cem mil vítimas, algumas até mais de uma vez, mas a maioria nem viu o rosto do bombeiro ou nem existe ou nem vota. Em todo caso você recebia pra isto e a doação a mais feita no cumprimento do sagrado dever está em cômputo com seu Cabo Eleitoral dum reino que não é deste mundo!
Deus te acompanhe nesta empreitada, porque eu não dou conta disso não...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Meu irmão deputado federal?



COMPANHEIROS


Está oficializada minha candidatura a Deputado Federal, com certeza a mais ousada pretensão de minha vida. Digo ousada não por achar que seja coisa de outro mundo, ou de estar fora de minha capacidade, e sim por saber das dificuldades que encontrarei pelo caminho tortuoso e incompreendido que é o entendimento político da maioria dos eleitores.
Acredito que a política bem exercida, é sem dúvida a prática do amor fraterno. Cuidar do bem comum, zelar pelo que é de todos, colocar os seus talentos a serviço da Comunidade é também a forma mais concreta de amar o próximo.
Sou corajoso! Pois não é fácil levantar da poltrona, sair do conforto e segurança de minha casa e levar as minhas convicções para a rua...
Para muitos é fácil resmungar que tudo isso é uma vergonha, que nada se salva no ambiente político, que são todos uns ladrões, que querem se dar bem na vida, não se preocupando com as pessoas a quem pediram votos. Difícil é ir à luta para fazer parte da solução, andar pelas calçadas pedindo votos, olhando as pessoas olhos nos olhos, merecendo o respeito de muitos, e também agüentando o desprezo, e às vezes, que não são poucas, a grosseria de outros tantos.
A pessoa humana tem direitos naturais à vida digna, à educação, ao trabalho, à liberdade, à propriedade. Entendo esses direitos, não como meras outorgas legais, e sim como possibilidades concretas. Vale dizer também, que, a pessoa humana tem direito às condições concretas e reais que lhe possibilitem viver dignamente, trazer à plenitude, pela educação, seus talentos diversificados, trabalhar honestamente, afirmar sem coerções seus desejos e opiniões, exercitar seu livre arbítrio, possuir e, pela propriedade, realizar-se mais plenamente como ser humano.
Se a nossa vida não é o que queremos, tenha certeza que ela é apenas uma conseqüência dos nossos atos e decisões do passado, pois pensando, falando e agindo, vamos construindo, a cada dia, o nosso destino. Em outras palavras, temos grande controle sobre a maneira como somos moldados, pois uma vez criadas as causas, a vida apenas ajusta os efeitos.
Há uma forte relação entre o que pensamos e o que falamos, entre o que falamos e o que fazemos, entre o que fazemos e o que conseguimos, entre o que conseguimos na vida e a nossa própria realização interior.
Na realidade, um grande número de pessoas não se permite pensar no futuro, preferindo acreditar que este é determinado pelo destino ou pela vontade de algum ente superior, alem de nossa compreensão. Com isto justificam a sua própria passividade em relação ao mundo que os cerca. São pessoas que colhem apenas uma pequena fração da colheita que a vida tem para oferecer. Não faz sentido acreditarmos que tendo mentes próprias, devemos desistir do controle de nossos anseios.
Muito obrigado.

Araguari-MG em 06 de julho de 2010.

Sub Ten Humberto Bombeiro – Deputado Federal - 3193 - PHS

sábado, 3 de julho de 2010

Um veneno sem a taça!



PATRIOTADA

O Uruguai jogou com gana – o Brasil não.
Após a eliminação, na sexta-de-adeus nas quartas-de-final, o goleiro Júlio César entoou um choro e repetiu a manjada frase futebolística: “O jogo é onze contra onze”. Então, no caso de Brasil e Uruguai, não o foi, pois ambos terminaram com dez. Dois expulsos, mas um herói e outro bandido. Prefiro guardar da partida a maravilhosa assistência de gol feita pelo Felipe Melo a seus dois trágicos erros que contribuíram sobremaneira ao fracasso conjunto.
A frase sobre futebol, dita pelo goleiro do Dunga, parece pertencer ao simpático e hilariante Vicente Matheus corintiano, mas é a própria definição dos dicionários acrescida da origem inglesa e dá prática com os pés.
Pensando bem são vinte contra dois, pois infelizmente existem os gols contra. Nesta contagem exime-se a arbitragem que podem ser elemento modificador do resultado. Onde já se viu não corrigir erros ou reparar injustiças? O árbitro, o pior remunerado dentre todos, pode ter papel fundamental nas conquistas.
Não se pode esquecer jamais que se trata de um jogo a ser considerado como brinquedo, divertimento, molejo, astúcia... Pelo menos na sua origem.
É verdade que não estamos satisfeitos, mas ainda somos, para orgulho nacional, o campeão dos campeões. Um jogo de taças ou canecos só é considerado completo com meia dúzia, uma dúzia ou múltiplos e submúltiplos, mas falta-nos apenas uma peça pra completar um jogo.
Voa na Internet uma frase bem feita dimensionando nossa frustração: “Um Dunga, Onze Sonecas e 190 milhões de Zangados”. Com certeza, o criativo autor, jogando com as duas faces da mesma moeda, preparou também outra frase, em caso de sucesso, como esta imaginada por mim: “Um Dunga, onze Mestres e 190 milhões de Felizes”.
A FIFA pede às potências futebolísticas eliminadas precocemente para não confundirem política com futebol. É uma grande piada sem precedentes, pois o futebol é pura política com a ditadura do capitalismo.
Durante quatro anos assisto futebol em isolamento, mas no mundial meu recanto enche-se de familiares e amigos, principalmente mulheres barulhentas bem piores que vuvuzelas. Lugar de mulher é na cozinha e também na Copa. Pra elas a jabulani deveria ser um novelo, pois em campo só tem gatos.
A Bandeira Nacional, dantes isolada num mastro retumbante, agora enrola seios, adapta-se às mais variadas nádegas e viram capas de super-heróis. Verdadeira patriotada com os lascados de verde-e-amarelo.
A câmera lenta ficou mais lenta e, por vingança, a bola ficou mais rápida. A jabulani é traiçoeira, pois qualquer perna-de-pau dá-lhe o efeito folha-seca, algo que já se havia dado como sepultado.
Vou continuar a torcer, pois a Copa não acabou. Melhor agora com os sentimentos voltados pra qualquer ataque ou qualquer defesa. Torcedor sem compromisso. Devo torcer incontinenti pelo continente como pelo adeus da Ar-gentinha. Certamente faltarão os quitutes que se foram com as incandescentes torcedoras...
Na hora do gol nosso de adeus, como chacota, perguntei a um ilustre torcedor desconhecido que estava sentado na minha poltrona predileta: “Quem fez o gol?” Olhando pra tela e vendo um reserva saltitante com um colete personalizado da FIFA, disse convicto e a plenos pulmões: “Foi o Fifa”.
Como dizia Garrincha, a Copa do Mundo é um torneio mixuruca que nem returno tem, mas teorias conspiradoras, desde a Copa de 1998 de favas contadas, dizem que a Ar-gentinha será a campeã deste mundial e, em 2014, no Brasil, será a vez da Ale-manha, ou vice-e-versa. Novamente, citando Garrinha, pergunto: “Combinaram com o Neymar e o Ganso?”

sábado, 26 de junho de 2010

Em pé, porque no banco não tem banco.


Fila de banco e banco não fila

De início quero contar que a Câmara de Goiandira não aprovou a Lei de Espera em Fila de Banco. Primeiro porque o Banco do Brasil é a única agência bancária na cidade e opera praticamente de favor. O lucro é pouco ou inexistente. Caso multas fossem aplicadas sistematicamente poderiam fechar a agência e, como se diz por aqui, "nem tico nem taco nem farinha no saco".
O segundo motivo é que os próprios usuários são responsáveis pelos atrasos. O terminal eletrônico dá um banho nos clientes - poucos são aqueles desenvoltos com a máquina. É preferível ir à fila normal que levar uma surra tecnológica do caixa eletrônico. Quem nunca apanhou? Também há a falta de confiança nos depósitos em envelopes bem como do pagamento em débito em conta. A melhor autentificação é aquela da boca do caixa.
A agência abre às onze horas e fecha, não sei o porquê, às quinze horas.
Outro dia eu era o primeiro da fila externa à maldita porta rotatória. Para tal façanha tive que chegar cinquenta minutos antes. Naqueles cinquenta minutos, quatro clientes foram atendidos pela gerência com uma certa facilidade, antes do horário oficial de abertura. Como cidadãos normais, no caso excepcional eu, invejam aqueles de influência!
Antes mesmo daquele lerdo relógio bancário marcar onze horas, quatro idosos já estavam à minha frente. Se eles podem chegar quarenta minutos antes por quê não podem esperar este mesmo tempo numa fila sem preferências? Esta é uma Lei que pegou tanto que apenas vão entrando à frente sem dizer nada, sem pedir licença e nem se justificar da intromissão. Não se estampa atualmente a idade facilmente em muitas caras, nem sintomas de gravidez e, quando muito, uma deficiência bem acentuada. Resumindo, o pessoal beneficiário desta exclusividade são abusados, o que permite, inclusive, que alguns caras-de-pau utilizem indevidamente tal Lei.
Ao ir na agência de Goiandira relaxe, pois a maioria dos clientes são idosos caras-de-pau que vão viver ainda por muito tempo.
Eu não sei qual a política bancária na satisfação da clientela, pois, no caso de Goiandira, existem apenas dois caixas e sempre em um há uma tabuleta com os seguintes dizeres: "Dirija-se ao caixa ao lado". Nunca vi os dois trabalhando conjuntamente. O que me deixa risonho é que nesta tabuleta existe uma seta supostamente desnecessária indicando o caixa ao lado... tão próximo!
Dentro do banco, ainda cinco idosos e ou outros beneficiários da Lei dos sem tempos, a mais cumprida no Brasil, me ultrapassaram.
O único caixa saiu pra almoçar e o substituto levou cerca de dez minutos pra receber o caixa. Quando chegou a minha vez, o meu estômago marcava muito mais que o meio dia e meia do relógio lerdo bancário. Dava impressão que estava ali há séculos. O pior é que eu precisava de apenas dois minutos a sós com o caixa. Com fome e puto, pessoas bipolares emputecem sem muita razão, abandonei a agência amaldiçoando-os a todos com toda a minha falta de fé.
No dia seguinte, ao conferir minhas transações, via internet (que felicidade este terminal meu a qualquer hora), notei um depósito não-identificado de pouco mais de cinco reais em minha conta. Na miha outra visita obrigatória à agência a caixa informou-me que no momento do fechamento do seu caixa, da outra vez, havia exatamente aquela pequena sobra. Identificou-a como minha e fez o estorno. Achei-os muito corretos, pelo menos com aquela quantia. Às vezes um só caixa trabalhando permite-nos ser reconhecidos.
Moral da história: Até um grande matemático, quando nervoso, erra na conferência do troco. kkkkkk

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cara de pau-a-pique


O GOLPE NO BANCO

Doutra feita, ainda comigo em Brasília, num tempo que longe vai, lembro-me de uma agência do BEG, Banco do Estado de Goiás, na quadra 505 Sul, muito movimentada. Por mais que fosse repleta mantinha um equipamento do século pretérito muito mais que imperfeito. Os arredores goianos tornavam tal agência primordial, mas as filas eram intermináveis. O que mais deixa a gente, brasileiros profissionais de fila, enraivecida é a pouca importância que os funcionários de banco dão ao tamanho da fila, pelo menos naquela época, período mesozóico de multas, ou seria paleolítico? Parecia que quanto maior a fila mais ficavam morosos – operação catraca de tartaruga. Outra coisa de impaciência é ver alguém, ao ser atendido, ficar batendo papo com o caixa, sobre assuntos de novela, aumentando ainda mais a permanência na fila de nós outros.
De vez em quando eu era forçado a viver tal filme na Asa Sul, pois mantinha algum tipo de negociação com minha cunhada, cliente daquela espelunca, e havia necessidade de fazer alguns depósitos à distinta. Como a agência era uma espelunca reiterada – e eu também – então ia de qualquer jeito. Chinelo de dedo, short “tak-e-tel” e camiseta cavada era minha indumentária, além de uma cara inimitável de muito coitado.
Naquele tempo e lugar, haviam filas personalizadas: Filas Vips BEG-Master, filas medianas para clientes especiais Super BEG, Fila diminuta BEG-FIVE STARS para executivos e Hiper BIG-BEG Fila, chamada de “que-deus-nos-acuda”, para aquela massa mal-vestida, sudorenta e impaciente, o meu grupo.
Eu, num ato de desespero, apesar do figurino não combinar, entrei na menor fila – a dos executivos. Tinham dois bacanas à minha frente e, eu ali folgadão, me senti o próximo, aquele que é amado. Atendimento muito rápido, assustador aos desacostumados, pois nem deu tempo do guarda ver-me e tirar da fila que não me pertencia. Era lógico e evidente que eu não me tratava de um Executivo, quando muito um Zé do cultivo.
A fila de onde eu devia me figurar é bem capaz de ainda não ter chegado a minha vez. Acredito que muitos entraram na fila do BEG e chegaram ao caixa do Itaú, muito depois da incorporação ou privatização ou fusão ou confusão ou tapeação.
A Caixa, quando chegou a minha vez, parecia que, sádica, estava sedenta a me dizer: “A sua fila é aquela láaaaa... longe”, mas antes dela sonorizar tais pensamentos eu disse num tom de dar dó: “Ôu, dôna, guardaí pra mim”.
Entreguei, parecendo um cigarro de palha, a ficha de depósito com o dinheiro enrolados um no outro. Ela tentou argumentar: “Senhor, esta fila não é para o senhor, é para clientes executivos.”
Com cara, agora de piedade infinita, balbuciei: “Pusquê? Vim nela porcaudequê azôtra tá muito grande e eu num sô bôbo tomem”.
Ela foi firme então: “Senhor está escrito ali naquela tabuleta.”
E eu, retorcido, quase choroso, falando mais próximo, como que envergonhado, disse a ela: “Me adiscurpe... É que num tenho leitura”.
Diante do caso de enorme anomalia, ela atendeu-me alertando que da próxima vez procurasse a fila devida. Acho que de morte...
Ainda disse-lhe do fundo do coração, desta vez sem fingimento: “Muito gardicido” e saí saltitante por mais um golpe na praça.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Colaboração para a coluna "Não pise n(À) gramática" do Jornal Escola


Quantos erros têm ou tem?

Me acordei irriquieta. Meu trabisseiro é testemunho dos meus pobremas. O malestado deixou meu corpo soando, meia cansada, com minésia dos pesadelos, vontade de gospir e gomitar.
Nu banheiro descobri-me com desinteria, mas isto não seria impecilho pra faltar a escola, ainda mais que Português quase me derroba. Pra mim passar vou ter muita dificulidade. Falando nisso preciso reinvidicar alguns trabalhos para pôr no meu caderno aspiral. Fisso careta pra professora e ela não vai ser beneficiente comigo.
Meu café está na bandeija e mais uma vez irei comer pão com mortandela. Caraca, isto é comida de mendingo lá no cemintério. Ainda bem que tenho iorgute. Preciso esmagrecer. Eu peso cincoenta quilos...
O cardaço sumiu e, por aventura, não vai fazer falta porque o bamba está apertado.
O jornal velho, num canto, trás notícias de estrupo com uma linguagem de baixo escalão. Eca! Meu pai ainda dorme e tenho que sair desapercebida. Acerca de alguns minutos tossiu por causa da efisema.
Tenho que alembrar de encontrar com Joaninha, minha amiga pessoal, senão ela vai dar um ataquecardia. Chega de Infarto, a não ser na professora de Português.
Odeio Português! A professora disse que eu iria comer trezentas gramas e posso comer mais no Selve Sérvice, afinal não sou como nenhuma papa-livros...

sábado, 19 de junho de 2010

Não dá pra esquecer


CATÁSTROFE DA MARGINAL PINHEIROS

Todo o Brasil afora tem pitaco,
Resta então afirmar de alma sincera:
Era pra ser mais embaixo o buraco.
Que fome! Engoliu de tudo a cratera!

Culpa-se o administrador velhaco,
Deita e rola a besta-fera,
O terreno era fraco
Com o fim da primavera!

Também tem o tal consórcio
Que faz tudo mais barato.
É um grande negócio
Dar ao macaco o mandato?

O político quer divórcio:
Não tem nada a ver com o gato,
Mas nas liberações era sócio...
O povo, mais uma vez, paga o pato.

Sepultura de dinossauro,
Sai de retro, escavadeira!
O metrô lá de São Paulo
Transporta muita sujeira.

Não me refiro aos vitimados
Tragados ao fundo do poço.
Falo dos engravatados
Que fazem fossa do fosso!

Uma CPI instalar-se-á...
E membros metidos até o pescoço.
Com certeza farão muito “AGÁ”
Tanto os mais velhos ou moços.

A mídia transforma o ocorrido
No seu prato principal.
Câmeras e repórteres atrevidos
Acima do bem e do mal.

Quando da indenização
Edificações são barracos,
A morte é uma falta de chão
É o que nos faz um buraco...

A estação de espinheiro
Já está inaugurada.
Custou bem mais que dinheiro,
Vidas e muitas burradas.

Neste Brasil dos perigos,
Tanto em terra como céu,
Façamos de Deus um abrigo,
Pois só Ele é fiel!

Há de se louvar a espera
Dos parentes no canteiro,
Mas não tem coisa mais bela
Que o heroísmo dos bombeiros!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Professor faz falta.



Grave

Das poucas coisas que lembro /De um passado que me esfola / É quando chegava dezembro / E ‘‘curtia’’ as férias da escola. / Os professores eram nossos artistas; / Até sonhávamos em sê-los; / A qualquer aluno da lista / Um diretor erguia-lhe os pêlos. / Hoje, tempos do vil erário, / Apenas mercenários, jamais mestres. / Professores de um teatro de horrores, / Se ajuntando aos cafajestes. / Nenhum salário será justo, / Pois educação não tem preço e custo. / Contente-se com gratidão e amor, / Verdadeiro educador. / Você sabe que o país não vai bem / E em muito está reprovado. / A culpa de onde vem? / Daquele que o tem ensinado. / A grave greve como direito / É um entrave em todo peito. / Quando se atreve e vêm à tona /Muitos planos desmoronam. / O sonho de qualquer remunerado / É merecer sempre mais, / Mas quem os tem governado / foi eleito ou ensinado por tais.

sábado, 12 de junho de 2010

Aventura Ferroviária X


POR LINHAS TORTAS DE FERRO

Quando se chega a Goiandira, oriundo de Catalão, do lado direito, um pouco antes da Delegacia, que fica do outro lado, há uma casa que abriga o ex-ferroviário Benedito José Filho, chamado de Benedito Doido e sua família. A calçada arborizada, com bancos improvisados, permite o bate-papo na rua, por horas a fio, ainda mais se aquecido com cafezinho. Cumprimentos e sorrisos são esbanjados aos transeuntes, normalmente vizinhos de longa data.
Benedito nasceu na roça, junto com a Segunda Grande Guerra, em 1939, em terras mineiras, mais precisamente de Patos de Minas. Ainda menino, aos dez anos, juntamente com a família, atravessou o Rio Paranaíba e foram cultivar terras à beira do Rio São Marcos, na Fazenda dos Salvianos, nas terras goianas de Catalão. O contato com o rio, seu companheiro de aventuras infantis, trouxe-lhe muito prazer e alívio do cansaço de pequeno lavrador.
Sua caneta foi a enxada e as linhas de seu caderno eram sulcos no chão, por onde brotaria a sua lição feita com o suor do rosto para a conquista do pão.
Ainda mudou-se aos dezoito anos para a zona rural de Três Ranchos que, à época, realmente tinha três ranchos e não quinhentas mansões.
Plantavam milho, feijão, algodão e mamona. A mamona era pra fazer azeite que movimentava máquinas e caminhões, ou seja, nosso atual biodiesel.
O pai de Benedito, também de mesmo nome obviamente, foi contratado por uma firma terceirizada para ser foguista da Maria-Fumaça, por um pequeno trecho. Passou de fornecedor de lenha para usuário. Era um homem matuto, porém muito observador. Aprendeu a pilotar a máquina apenas observando. Um dia precisou deste conhecimento, pois o maquinista bêbado prostrou-se. O velho Benedito, valendo-se por dois, colocava a lenha e dirigia a composição. Como se diz na linguagem do futebol – ele batia o escanteio e corria pra cabecear a bola. Com esta atitude fora coroado como maquinista – recebera o quepe, um diploma do ofício e um convite para ingressar-se na rede, mas não quis. Na realidade ouviu conselhos de sua mãezinha. Ela tinha muito medo pela sorte do filho. Naqueles tempos os trens eram assaltados e os condutores mortos a pauladas. Certa chacina ocorrida dentro de um vagão de passageiros, em Catalão, não saía da cabeça daquela senhora.
Na cabeça do neto, Benedito Doido, ainda ecoa as palavras da avó ao seu pai – “Não vá, meu filho, pelo leite que de mim mamou”.
O velho Benedito, quando o filho xará contava então trinta e dois anos, valendo-se do seu longo prestígio com Zé Tavares, Mestre de Linha, pediu para que arrumasse uma colocação ao filho. Assim aconteceu a entrada à Estrada de Ferro de Benedito Doido. O velho Benedito, por ter ouvido o conselho da mãe, sofreu atraso de vida.
Benedito Doido trabalhou pouco mais de vinte e seis anos como tatu. Tatu é como eram chamados por fazer buracos para encaixe dos dormentes. A picareta era a dolorosa aliada.
Teve uma aposentadoria especial e a provocou quando a privatização estava certa, o que ocorreu após um ano após de inatividade.
Antes de ir para o trecho, local ermo de trabalho ao longo da estrada de ferro, deveria fazer a marmita, o caldeirão como ele mesmo diz. As coisas evoluíram e, depois de certo tempo, bastavam levar os mantimentos que um cozinheiro faria a comida no local. Uma promoção de bóia-fria pra bóia fresca e quente.
Normalmente algum vagão velho de passageiros, estacionado em um desvio antigo, servia de alojamento. Era muita alegria fomentada pela cachaça abundante. O trabalho era chamado de quinzena, mas na verdade trabalhavam uma semana de seis dias e outra de quatro dias, ou seja, trabalhavam de segunda a sábado, folgavam domingo, retornavam na segunda e, na quinta, encerravam a semana. Serviço pesado na reformas de linhas. Um fraco não se adaptava e só os fortes permaneciam. Fracos não eram aqueles que não suportavam a dureza do trabalho, mas as brincadeiras provocantes que não cessavam hora nenhuma.
Doutra feita, isolados na recuperação de linhas, foi enviado um mensageiro para informar que toda a turma fosse renovar exames médicos para permanência no trabalho. Tal mensageiro, irresponsável de marca maior, ficou bêbado pelo caminho e não deu o recado. Com isto todos foram demitidos.
Benedito Doido então, durante quarenta dias, foi trabalhar na “Colier”, certa empreiteira da Rede. Nesta oportunidade receberam aviso para retornar às funções antigas. Alguém vira que não foram culpados. Ainda voltaram ao batente sem a necessidade de exames médicos, pois eram homens duros e saudáveis, provados a ferro e fogo numa agenda de desenvolvimento sem parada.
Na volta ao trabalho, Benedito teve como feitor um João Calixto, exatamente neste momento quando recebeu o apelido de Benedito Doido.
O Feitor mandou-o lavrar uns dormentes para colocar na linha em substituição aos estragados. Benedito então, mentindo, e pra tirar sarro do feitor junto aos companheiros, disse que não sabia fazer isso. Pediu pra o feitor ensiná-lo. O gaiato, dando uma de Joãozinho-sem-braço, ficou prestando atenção na lição que sabia de cor e salteado. O feitor fez calmamente todo o serviço, inclusive explicando dos perigos ao se trabalhar sem segurança. Depois da instrução dada pediu a Benedito para socar do outro lado. Benedito exagerou na força, pra disfarçar o conhecimento, e uma pedra voou na canela do feitor que saiu gritando: - “Você tá doido? Você só pode ser doido. Você é doido.”
A turma não perdeu tempo em apelidá-lo. Mesmo não importando o apelido pegou. Hoje é um doido de três salários mínimos e muito grato pela sorte que Deus lhe deu.