sábado, 3 de julho de 2010

Um veneno sem a taça!



PATRIOTADA

O Uruguai jogou com gana – o Brasil não.
Após a eliminação, na sexta-de-adeus nas quartas-de-final, o goleiro Júlio César entoou um choro e repetiu a manjada frase futebolística: “O jogo é onze contra onze”. Então, no caso de Brasil e Uruguai, não o foi, pois ambos terminaram com dez. Dois expulsos, mas um herói e outro bandido. Prefiro guardar da partida a maravilhosa assistência de gol feita pelo Felipe Melo a seus dois trágicos erros que contribuíram sobremaneira ao fracasso conjunto.
A frase sobre futebol, dita pelo goleiro do Dunga, parece pertencer ao simpático e hilariante Vicente Matheus corintiano, mas é a própria definição dos dicionários acrescida da origem inglesa e dá prática com os pés.
Pensando bem são vinte contra dois, pois infelizmente existem os gols contra. Nesta contagem exime-se a arbitragem que podem ser elemento modificador do resultado. Onde já se viu não corrigir erros ou reparar injustiças? O árbitro, o pior remunerado dentre todos, pode ter papel fundamental nas conquistas.
Não se pode esquecer jamais que se trata de um jogo a ser considerado como brinquedo, divertimento, molejo, astúcia... Pelo menos na sua origem.
É verdade que não estamos satisfeitos, mas ainda somos, para orgulho nacional, o campeão dos campeões. Um jogo de taças ou canecos só é considerado completo com meia dúzia, uma dúzia ou múltiplos e submúltiplos, mas falta-nos apenas uma peça pra completar um jogo.
Voa na Internet uma frase bem feita dimensionando nossa frustração: “Um Dunga, Onze Sonecas e 190 milhões de Zangados”. Com certeza, o criativo autor, jogando com as duas faces da mesma moeda, preparou também outra frase, em caso de sucesso, como esta imaginada por mim: “Um Dunga, onze Mestres e 190 milhões de Felizes”.
A FIFA pede às potências futebolísticas eliminadas precocemente para não confundirem política com futebol. É uma grande piada sem precedentes, pois o futebol é pura política com a ditadura do capitalismo.
Durante quatro anos assisto futebol em isolamento, mas no mundial meu recanto enche-se de familiares e amigos, principalmente mulheres barulhentas bem piores que vuvuzelas. Lugar de mulher é na cozinha e também na Copa. Pra elas a jabulani deveria ser um novelo, pois em campo só tem gatos.
A Bandeira Nacional, dantes isolada num mastro retumbante, agora enrola seios, adapta-se às mais variadas nádegas e viram capas de super-heróis. Verdadeira patriotada com os lascados de verde-e-amarelo.
A câmera lenta ficou mais lenta e, por vingança, a bola ficou mais rápida. A jabulani é traiçoeira, pois qualquer perna-de-pau dá-lhe o efeito folha-seca, algo que já se havia dado como sepultado.
Vou continuar a torcer, pois a Copa não acabou. Melhor agora com os sentimentos voltados pra qualquer ataque ou qualquer defesa. Torcedor sem compromisso. Devo torcer incontinenti pelo continente como pelo adeus da Ar-gentinha. Certamente faltarão os quitutes que se foram com as incandescentes torcedoras...
Na hora do gol nosso de adeus, como chacota, perguntei a um ilustre torcedor desconhecido que estava sentado na minha poltrona predileta: “Quem fez o gol?” Olhando pra tela e vendo um reserva saltitante com um colete personalizado da FIFA, disse convicto e a plenos pulmões: “Foi o Fifa”.
Como dizia Garrincha, a Copa do Mundo é um torneio mixuruca que nem returno tem, mas teorias conspiradoras, desde a Copa de 1998 de favas contadas, dizem que a Ar-gentinha será a campeã deste mundial e, em 2014, no Brasil, será a vez da Ale-manha, ou vice-e-versa. Novamente, citando Garrinha, pergunto: “Combinaram com o Neymar e o Ganso?”

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