domingo, 27 de outubro de 2013

ALAOR DOS MACACOS


ALAOR DOS MACACOS

Existem certas pessoas em que não há a necessidade de conhecer pormenores de sua existência para simpatizar-se com elas. O Alaor era meu freguês na padaria. Toda tarde ele fazia um lanche composto de um guarazinho Mineiro acompanhado de um pedaço de bolo ou outra quitanda. A propósito eu sempre dava um desconto considerável. Alguém como ele, já de idade, sempre a pedalar há de ter a minha admiração, mas Alaor ia além – Ele tinha uma carretinha na bicicleta. Nesta carreta eu o vi fazer até mudança de pobres como ele, mas o trabalho principal da carretinha era recolher lixo reciclável, um complemento financeiro de grande monta. Ele me contou que recolheu, por encomenda, uma boa porção de mini coca-cola para alguém que estava a vender pinga nesse vasilhame, mas, depois de tanto trabalho, na hora da entrega, o freguês “roeu o caroço” e não mais quis. Ele teve que ir até o lixão descartar tal carga, bem fora da cidade, em difícil trajeto. Tempos atrás poderia jogar num local próximo específico que a Prefeitura levava, mas o caminhão de lixo não faz mais este ponto.
Alaor era chamado por este apelido porque num tempo mais remoto ele tinha dois macaquinhos domésticos que faziam a felicidade dos garotos. Atualmente sua paixão estava voltada para os cachorros abandonados e, quase sempre, ia até o Lixão apenas para brincar com os cães que moram por lá. Outro dia estava muito triste, pois o caminhão do lixo esmagou uma destas criaturas. Algum desalmado deixou uma ninhada de filhotes na porta de sua casa e encontrei com ele quando buscava leite para alimentá-los. Grande Alaor!
No princípio da semana eu havia conversado com o Dr João Bernardes dos Reis, dono do Supermercado Goiandira, para dar a tarefa de entregar as compras feitas no seu comércio para o Alaor, afinal ele conhecia todos os endereços e todas as pessoas de nossa cidade. Ainda havia a vantagem de nem sequer registrá-lo, pois era aposentado com benefício. João gosto e aprovou a ideia. Na quarta-feira encontrei com o Alaor e comentei desta possibilidade de trabalho e ele ficou radiante, pois não estava compensando e nem mais dando conta de se melhorar pelo lixo.
Na Sexta à tarde veio a fatalidade ao homem bom que ajuntou tesouros nos céus. Necessariamente deve se ter feito uma força descomunal para produzir-lhe um infarto fulminante que o transportou para uma morada do Pai, onde tudo novo e cheirando a tinta, nada de lixo.
Aquele simpático senhor que trazia gratuitamente cascas de barbatimão pra se banhar a ferida da minha cadela tornou-se ausente para tantos que dele necessitavam. A arca do Noé, toda repleta, deve ser a sua vizinhança mais próxima nas alturas.
Quando cheguei ao velório, movimentado como se de rico fosse, já haviam fechado a tampa, mais ainda ouvi a história de que, há bem pouco tempo, aquele homem só, havia encontrado num garoto a possibilidade de ser seu filho. Pediu exames e comprovou. Pouca herança fica, mas uma riqueza sem fim de bons exemplos e humildade.
Até a eternidade, Alaor dos Humanos!