quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Lá e cá




Ímpeto 


Os dias passam vagarosamente, 

O tédio e a insuficiência me acompanham. 


Mesma rotina, 

mesma cor nos cabelos, 

mesma dor n'alma.


Tento esquecer os acontecimentos, 

tento envaidece-me nos instantes de alguém.  


Busco-me no desalento das noites,  dispersa nos sonhos. 


Ao amanhecer, percebo que as flores vão se embora,

chegam as guirlandas,  ânimo surge para falar do menino Jesus. 


Os abraços se distanciam, mas permanecem

as orações e a esperança de dias que não serão mais febris.


 E só o tempo para nos dar boas novas, só ele consegue entender as ausências do mundo. 


E outros dias passam vagarosamente, 

O céu me olha e em resposta me atrevo a dizer: 


Oh céus , diga ao tempo que se apresse,  pois não temos muito tempo para esperar suas equívocas decisões. 


Juliete Valero 




IGNÁVIA


Pé atrás com novidade,

Nada novo debaixo do sol,

Alcancei uma idade

Que se abandona o farol!


Com luz própria sempre acesa,

Meço tudo com minha régua.

Não sou ataque nem defesa,

Se tem guerra peço trégua!


Percorri muitos caminhos

E falta pouco pra chegar, 

Sem pressa sigo sozinho

E religiões vêm me cercar!


Os pecados em somatório

É carga pra se abandonar,

O jugo deve ser leve acessório

Pra no céu poder entrar!


O breve tic-tac dos relógios

Somam meus dias finais,

Não pertenço ao martirológio...

Carrego pecados capitais!


Vou purgar sem medo

Noutra vida mais legal,

Com coragem desde cedo,

Pois a preguiça é meu mal! (Aristeu)

sábado, 31 de outubro de 2020

Contrapontos



 O Morto


Não tenho mais tempo...

O que deveria ter feito,

Se não feito, não o será!


Não tenho mais tempo...

Para buscar aventuras,

Se não aventurei, não mais o farei!


Não tenho mais tempo...

Para viver um grande amor,

Só o tempo para consolidar!


Não tenho mais tempo...

Não tenho mais forças,

Não tenho vontade!


Talvez seja um moribundo,

Presente no mundo,

E alma arrebatada!


Pra ser restaurada,

E de novo dar entrada,

Neste mundo sem graça!


(Aristeu)




Vivo


Renasci, estou tão vívido

Para ser feliz

E caminhar 


Tenho todo tempo do mundo para reviver histórias e me  aventurar


Tenho tanto tempo para encontrar um grande amor e me enamorar. 


Tenho todo tempo do mundo para viver e recomeçar.  


Sou um sonhador pelo mundo a procura de boas almas para me identificar.  


Tenho todo o tempo do mundo, aliás tenho o mundo para me reavivar. 


                Juliete Valero

domingo, 11 de outubro de 2020

Balbúrdia e Quietude




 Balbúrdia 


Não me calo diante da dor, 

Essa dor que é tão forte

Ao ponto de sufocar-me.


Dor de viver, de estar , 

De sentir, 

Dor que não sei explicar. 


É aquele instante de sentir-se ausente de nós mesmos. 


De questionar a impaciência, de ignorar as esperanças 


Será saudade,

Medo, 

Insuficiência do ser, 

Ou só dor do amor... 


É solidão entre nos mesmos, 

Procura para entender o aviso , 

Do corpo, 

Da mente e da alma. 


É dor 

Que não se acaba

É dor que às vezes passa,

É dor exausta. 


Dor que persiste em ficar,

Mas que um dia irá  cicatrizar.  


Juliete Valero




QUIETUDE (Aristeu)


Vêm as dificuldades mil

E a serenidade é a atitude!

Por mais duro, o golpe vil,

Aconchegue na quietude!


Pairam sombras perturbadoras?

Logo virá a finitude...

É uma luz duradoura,

Almeje sempre a quietude!


Isto é mais do que paz,

É fé em amplitude!

Aquele que assim faz

Esbanja a quietude.


Amontoam-se problemas?

Isto são vicissitudes.

Tenha sempre como lema:

"Eu tenho a quietude!"


Para obter o refrigério

Acalme-se em plenitude!

Este é todo o mistério

Do Rei da mansuetude!

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

E a luta literária continua




Paulatinamente!


 No princípio era apenas uma tela, interativa por obrigação,

Até  surgir, nítida e bela: a imagem e contornos dela.

Causou obviamente admiração.

Com palavras bem postas

Para cada ocasião, sempre uma resposta pra confortar cada irmão.

A virtualidade aproximando a espiritualidade amiga em profusão. 

Então vai se analisando, 

Cada gesto e cada palavra.

Tudo vai se encaixando com a lavra do caráter reinante.

Em cada palavra oração...

Passa-se a ser tiete

Um pouco mais, mas bastante...

Bem-vinda, poetisa Juliete,

Neste embate contagiante!






Metamorfose


No fim, descobri que era apenas um pintor,  por diversão. 

Até  surgir, turvo e fantasiado: de Mr. Bean e soldado. 

Causou-me obviamente boas risadas.

Com pinturas abstratas e cócegas na alma, me encantou. 

Em cada momento, uma pergunta mediada de muitas reflexões... 

Pra confortar cada irmão, boas palavras, uma oração. 

A amizade foi se aprofundando, as pinturas se manifestando , era com cores da razão .  

Então fui percebendo um amigo em cada gesto em cada conversa, um irmão. 

Tudo foi se aprimorando, refazendo-se , era um pintor-poeta, um doido que pinta a vida com seu coração. 

Passa-se a ser meu

Um pouco mais, uns dias

Bem-vindo, poeta Aristeu,

Neste embate cativante.

segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Primeiro combate literal

 Um projeto antigo meu era convidar alguém para cronicar e poetizar, como os repentistas de outrora, também chamados de desafios. Sem guerra, apenas paz e pena. A ideia é que a pessoa faça uma poesia ou crônica, que dei o nome de Poesônica ou Cronesia, e o outro faça uma com o mesmo tema ou inverso ou semelhante. Pra meu deleite encontrei uma artista das letras, da comunicação, uma professora, pronto, precisa dizer mais nada. Por coincidência fonética e "estórica" somos a dupla ARISTEU E JULIETE. Será este o título de um livro, caso conseguirmos material suficiente. Vamos lá!


Indecisão 

O sol a se pôr , 
O vento da tarde
Me convida para voar!

Não sei se fico,
Se aceito , se ouço o que o vento sopra aos meus ouvidos. 
Será que deixo a  intuição falar, 

O coração pedindo às alturas, a asas querendo passear.

Sem obstáculos,
Sem dias , 
Sem volta
Me arrisco a ser livre? 

Quem tem asas quer ter voz, 
Estímulos , 
Quer o céu ...

A noite chega, o receio de voar aumenta,
a Lua chega e me ilumina,
Me lembra que preciso sonhar.

Talvez não seja corajoso,
 Quem sabe a espera de  alguém que queira voar comigo. 

Mas se eu perder tempo demais a espera do outro, 
Não o vou pro voo... 
Para o mundo da Lua que tanto desejo ir, 

Preciso me reencontrar , Por isso, ganhei asas...
Comigo , silente eu vou, 
 ganhei a Lua 
Voei 

Juliete Valero



Certeza

É certo que não quero mais voar. 
O Ninho é o melhor lugar!
Já alcei-me alto demais 
Chega de mar, eu sou cais!

A esperança esta amordaçada
E, calada, todo sonho vira nada!
Não é que o mundo entristeceu,
Mas é sentimento maior que eu!

Há um belo por do sol,
Mas sou peixe no anzol,
Boca da noite me espreita,
Estou pronto, de alma feita!

Meu horizonte é um portal
Onde se pesa o bem e o mal.
Não é caminho de depressão:
É fim do combustível, coração!

Viverei outros voares, tormentas...
Mais evoluído não se arrebenta.
Minha existência, em forma de nó,
Gritará: Somos mais depois do pó!

Aristeu Nogueira Soares



segunda-feira, 11 de novembro de 2019

Aniversário do meu terceiro irmão



Novembro mais que azul

Eu vou. Não sei se serão sessenta e sete anos ou outra contagem recém-inaugurada, tendo em vista um novo tempo de um ressurgimento da maior dificuldade.
Somos nove irmãos. Todos dos mesmos pais de parcos recursos que nos garantiram muita luta nesta vida. Cada um com sua sina, seu potencial, seus arranjos, erros e acertos.
Sou o sétimo! Numa família bem pobre, os primeiros da ninhada poderão estar sujeitos às maiores peripécias da sobrevivência. Talvez, como bênção, sou dotado de um esquecimento e, quase a totalidade dos meus seis primordiais anos, só existem-me por narrativa de terceiros. O pouco que me aparece em tela, em pensamentos remotos, são como sonhos, não bons, mas que não me afetam os sentimentos.
Meu terceiro irmão me contou que morávamos de favor numa Vila Vicentina, vivendo da caridade alheia, no nosso torrão natal, torrou-nos quase fatal. Ainda bem que trabalhei sete anos ombreado com os vicentinos, em datas de abundância e, nada ou pouco devo, deste acolhimento que não há preço, mas muito apreço.
Fomos retirados daquela penúria, mas dispersos em busca de estabilidade financeira. Meu terceiro irmão, mais velho, mais rígido, muitas vezes fazia as vezes de nosso principal responsável e isto não era bom, afinal travessos e traquinas não aceitam correções nem dos próprios pais.
Meu terceiro irmão correu mundo e, mesmo distante, escrevia cartas, as mais lindas, e nossa mãe, as liam para nós. Era um português exagerado, em caligrafias espetaculares, para nossa mãe de pouco estudo. Encantavam-me estas missivas, ele dizia muito missivas, eu diria circular. Continham palavras rebuscadas de conforto e também alguma quantia para minha mãe arrumar os dentes, mas ela tirava da boca para dar aos filhos, literalmente. Minha mãe sempre repassou aos filhos, conforme seu senso de necessidade, os presentes a ela destinados.
Meu terceiro irmão, dentre tantas ousadias profissionais, furava o chão, fazia barro, moldava tijolos e erguia um amparo, ainda que rude aos sem-tetos.
Meu terceiro irmão, sonho meu para ainda dezenas de reencarnações, também desenhava com primor. Eram admiráveis os detalhes de cada imagem tão realista. Um dom imorredouro, creio.
Meu terceiro irmão era miúdo, ma sua tenacidade o fez transformar-se num forte. Não existia academia naquele tempo, mas alguns compêndios de reembolso postal o ensinara a se transformar num míster  de músculos acentuados. Fabricou seus aparelhos e cadenciava a respiração. A gente caçoava desdenhando aquele empenho gigantesco, criancice, ainda mais porque tinha uma alimentação precária, distante de uma alimentação de atleta. Modificações ocorreram porque onde há esforço, há recompensa.
Meu terceiro irmão andava empinado, altivo, soberano para qualquer revés da vida, até hoje, com louvor.
Meu terceiro irmão entrou no Exército e ali, na graduação de cabo, consolidou sua vocação militar que incentivou todos os outros irmãos.
Após o seu tempo militar, meu terceiro irmão entrou na Polícia Militar de Minas Gerais e chegou à graduação de subtenente, por coincidência a mesma graduação de outros três irmãos.
Ele constituiu uma grande famíla. Um dos seus filhos tornou-se muito próximo da minha família, um doce que não se acaba. Deus pôs, meu terceiro irmão, neste momento atual de grande luta, exatamente numa situação de apoio privilegiado, onde obtem todo o aparato de cuidados médicos e de enfermagem. Esta é a mais extraordinária missão de sua vida - expor com bastante fé, alegria e firmeza, a todos que, a vida deve ser exaltada de todas as formas. Teremos festa!
Alguém já disse que o soldado marcha sobre seu estômago e, o que presenciamos, é o grande soldado marchando sob o estandarte dum grande coração.
Obrigado, meu terceiro irmão que, direta ou indiretamente, fez-me tomar o gosto pelas letras ou consolidá-lo, e também pela farda.
Nosso fardo é leve quando o comandante é Cristo. Alimentemo-nos de luz.
Em frente!

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

Já fui preto da cabeça aos pés!



TUDO PRA FAZER ROLHA?

Parei na rodovia para rever e fotografar este exemplar da flora do cerrado. Muitos chamam de Pau Santo, mas conheci como Gordinha e Malvinha. São cascudas e utilizadas na indústria da cortiça. Uma matéria prima de várias utilidades térmicas, mas que o matuto passava e perguntava pra gente:
"- É pra fazer rolha?"
"- Sim, pra tapar seu buraco."
A mesma pessoa passava várias vezes com a mesma pergunta, só pra alugar.
Em Araguari-MG, tinha uma empresa, de nome LUNASA, que incentivava autônomos a um extrativismo dessas espécies.
Fui convidado para trabalhar, nos idos de 1977, ainda garoto, neste tipo de serviço. Nosso profissão momentânea nos dava o nome de casqueiros. Nossa equipe de casqueiros era composta por quatro pessoas. Um era o Tõe, cortava e picava as árvores no machado. Dois, que eram eu e o Amador, carregávamos as madeiras para o local onde se lhes desnudavam. Quem descascava as peças era o Eurípedes. Tanto o Eurípedes quanto o Amador eram filhos do meu padrasto. O primeiro virou sargento da polícia em Uberlândia, com o nome de Vital e o segundo virou subtenente dos Bombeiros em Araguari, com o nome de Davi. O Tõe era sem família e era alguém que vivia junto com eles. Não batia muito bem da cachola e acabou suicidando.
Toda madeira ficava com o fazendeiro como pagamento da casca. A área da extração que trabalhamos eram em terras de Ipameri e Cristalina, de um lado da BR 040.
A LUNASA quase patrocinou a eliminação destas espécies, coisa que nem o fogo milenar conseguiu. Depois que elas queimam, por fora somente, ficam chamuscadas e nós, que as carregávamos, ficávamos pretos em último tom. Só cinza.
Em volta dos casqueiros se fazia um assero em proteção do material trabalhado.
A gente morava em barraca de lona e dormíamos em rede. Folga só nos domingos. Só jantávamos porque ira ficando muito distante da barraca. O banho era num açude de um córrego.
Foram três meses de trabalho para fazer uma carga de caminhão. Tínhamos que abrir estrada para o caminhão chegar nos nossos depósitos.
Esta Gordinha da beira da rodovia está sapecada, mas com uma flor exuberante tentando imitar o Ipê. Ela é muito fofa.
A técnica hoje , segundo soube, é tirar-lhe a casca com ela ainda de pé, não por dó, mas que, como uma ovelha, voltará a ser tosquiada, se o fogo não vier antes.