sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Conto um conto aumento um ponto


Meu Gêneses

Existência? Um enigma que paira ao longo dos tempos. A certeza de se ver ou sentir além dos cinco sentidos pertence a poucos. São estes loucos ou crentes somente. A razão curta humana, no contexto da imensidão, profana e se amedronta. Na dúvida acende duas. No aperto se agarra à ignorância latente, porque na carne tudo é incerto... E que os tribunos entendam e não condenem.

A respeito de tudo, foi uma explosão de fogo e de luz multiplicando a matéria a toda parte. Para que surgisse a vida o Príncipe da Luz descansou. Digamos que cochilou e dormiu.
O criador da vida foi o Divino. Aproveitou que o da Luz habitava as trevas e com uma habilidade incrível pôs-se a moldar as matérias. Num sopro de mágica se levantava o vivente com matéria e espírito. Transformou o pó em seres. Para cada espécie uma alma diferente. O espírito mais espirituoso foi dado ao bicho homem.
Quando o Anjo de Luz despertou-se, invadiu-lhe a cólera?
- Por mil demônios, Espírito Santo, quem te autorizou a movimentar as matérias? O movimento da atração física com giros elipsóidicos eram fáceis de se controlar. Obedeciam uma Lei e agora? Por si mesmas as massas se movimentam com a força de seus intentos. São seus pensamentos na matéria e não tenho poder de interferência. Não pode, todo o material me pertence. Busque de volta o teu sopro.
- Meus dons não podem retornar sem que não tenham produzido algum efeito.
- Exijo uma conferência com a Senhora Onipotência.
- O quê abala os Céus? – indagou Oniciência.
- Oh! Sabedoria, como tendes eterna Onipresença, decrete uma sentença, que isto tá ficando do jeito que o capeta gosta – vociferou Lucífer.
- Divino, está decretado, teus seres terão um ciclo de vida definido e tornarão ao pó. Multiplicai-os em número e amor só pela força do pensamento. Luz, descei até os mesmos e habitai com os humanos, mas sem acesso aos pensamentos dos mesmos. Difunda o ódio, os prazeres levianos, a atenção pelas riquezas materiais e toda forma de contenda para que o ciclo vital diminua cada vez mais. Quando toda e qualquer forma de vida se extinguir, tudo será seu novamente e então tudo voltará a arder.

Hoje em dia só na Terra existe vida ou estará tudo ainda começando por aqui? Vida de prazeres e amores levianos. É por isso que dizem que “O Cão é o melhor amigo do homem”. Quanto ao cachorro é um pobre diabo.

Quem quiser que conto outro...

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

No salão de beleza


Espelho meu

É saudável sentir-se e ser bela.
Aproveite o tempo enquanto puderes.
Ele é cruel e vai deixando sequelas,
Principalmente em vaidosas mulheres.
A felicidade pinta em momentos atrevidos.
Onde nada se veste, mas tudo se investe.
Jogo de cores e perfume invade os sentidos;
O gosto com marca de beijo é o último teste.
O tom do cabelo e sua nuança:
Se liso é preciso, se curvo é o lance.
Os cílios da fera com sombra ao fundo,
A trama da paquera nasceu com o mundo.
Pinte, corte, depile, maquie e penteie.
Faça dieta, dança e ginástica.
Corra, ande, nade e bronzeie.
Pedale, "silique" ou use plástica.
Parece exagero, mas use o dinheiro
Em prol da elegância e higiene.
Uma imagem e uma fragrância são perenes
Até o toque e o choque do tato matreiro.
A beleza provoca e chama a atenção,
Coloca-se na mesa, queira ou não.
Vai, idade, devagar. Só há pressa no retocar.
Numa ginga ao andar, corações a acelerar.
Acupunte e assunte no espelho outra verdade,
Refletida e que agrade a quem se ama.
Um sorriso é o aviso que ainda não é tarde!
O amor arde e, com a beleza, mantem acesa a chama!

quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Herbert de Souza



O SANTO ATEU

Na produção de riquezas até o lixo é do chefe. Parece brincadeira, mas é o que está ocorrendo. Flagrei um segurança do Conjunto Nacional impedindo que uma miserável recolhesse latas vazias de refrigerantes das lixeiras. A alegação foi de que tais latinhas pertenciam ao patrão. É mesmo a dizimação total. Inclusive nem sei como a excluída conseguira entrar ali.
Parece que provoco acontecimentos, mas apenas sou um observador do quanto nos desamamos. Um senhor maltrapilho, desnutrido e que, apesar de parecer alcoolizado, esbanjava um sorriso límpido de orelha a orelha, me chamou a atenção. Num rápido bate-papo incitei-o a se juntar aos sem-terra, já que milhares deles acampavam o entorno do DEFER. O que recebi como resposta deixou-me boquiaberto: “ - Moço, eu sou andarilho. A Terra inteira me pertence.”
Exatamente neste instante lembrei-me de um outro homem também esquálido, doente, feio, papa-sangue e de olhos imensamente esbugalhados. Teimoso, insistia em permanecer no meio de nós como uma afronta às previsões médicas. Este herói brasileiro foi realmente um sociólogo no sentido amplo da palavra. Não acreditava em Deus aqui na Terra, mas pelo que fez deve ter conquistado o lado esquerdo de Deus-Pai-Todo-Poderoso lá no Céu.
- Betinho, rogai por nós.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Suicídio


TUNICO MINEIRO

Não éramos amigos do peito, mas há quase duas décadas mantínhamos contato, inclusive de bastante trabalho. Foi uma das pessoas mais educadas que conheci e que primava pelo bom uso da Língua Portuguesa, tal qual uma minoria de nosso Estado. Seu jeito polido até parecia insuportável no meio “estúpido” militar. Participamos de duas campanhas topográficas de duração de cerca de três meses cada e, mesmo sob condições hostis, não perdia a linha. Definitivamente foi alguém de estirpe.
Certa época, uma avalanche de problemas psiquiátricos me mostrou o Espiritismo como caminho para a solução ou cura definitiva. Como dito, aos quatro cantos, somos todos médiuns que precisamos de desenvolvimento, fui desenvolver. O Tunico montou uma mesa de estudos no intervalo dos dois expedientes e aprofundamos o Kardec como Ciência, Filosofia e Religião. Há um capítulo do evangelho do Professor Rivail que dedicamos muita atenção – O Suicídio e a Loucura, isto porque o segundo tópico me afetava diretamente. Jamais imaginei que o primeiro tópico fosse afetar o Tunico. Apesar de ser um evangelho apócrifo, em este capítulo, o suicídio é totalmente condenado. A certa altura abandonei o Kardecismo e nem sei o que foi feito do Tunico neste campo. Com certeza não aprendeu muito, pois por duas vezes atentou contra a própria vida e na segunda obteve êxito. Entre a primeira e a segunda transcorreu mais de quatro meses – tempo suficiente para que se tivesse feito algo mais pela sua recuperação total. Estou no meio dos irresponsáveis que se omitiram, pois ele havia me ajudado em situação semelhante.
No intervalo das tentativas conversamos na Farmácia do Zé Maria, no Mercado do Alberto, no Espetinho da Esquina e noutras rápidas ocasiões, mas tudo ao acaso sem muita abordagem ou força bem dada. Muitos são os que têm o direito de imaginar o que leva uma pessoa vitoriosa, possuidor de uma família maravilhosa, vir a praticar um ato tão brusco, mas também têm o dever de aprender a lição para um próximo caso. Posso escrever, por ter tal experiência, que nossa mente é mais do que inexplicável.
Não devemos ficar sós e todo amor nos é pouco.
Que Deus, juntamente com o Tunico, ampare as três mulheres sofredoras que o amaram tanto, mas que não foram bem orientadas da operação constância. Os “amigos” como eu... Bem... Deixa pra lá.

domingo, 26 de dezembro de 2010

Divino da Cruz


OS DOIS CRISTOS

Existem dois nomes aos quais devemos nossas homenagens sempre e na medida desmedida: um é Jesus Cristo Divino e o outro é Jesus Cristo da Cruz. Muitos dirão: “Não são os dois a mesma Pessoa?” Categoricamente responderei que não, pois o Divino é aquele que acalma tempestades, anda sobre as águas, multiplica pães e peixes, tem a autoridade de Dono do Mundo, lê os pensamentos, dá luz aos cegos, os caminhos aos cochos, a verdade aos doutos, a vida aos mortos, inclusive a Si Próprio e que se senta ao lado direito do Pai no Trono Celestial. Quem é o “Da Cruz”? Este ainda vive conosco. É Este que o Divino deixou pra gente cuidar. Este é aquele perseguido pela nossa sociedade até mesmo dentro do ventre. É aquele que bate na janela da porta do carro e ela não “abre-se-vos-á”. É aquele que não tem onde encostar a cabeça: Nem em ombro nem em pedra. É aquele mutilado com açoites explosivos. Jesus Cristo da Cruz apanha calado nas duas faces já fraco de fome e com ausência de lágrimas ou sentimentos. O “da Cruz” inala bálsamo que cola sua mente e endurece o coração. Não sabendo ler ignora as riquezas estampadas em seu jornal-cobertor. Jesus Cristo da Cruz está cercado de ladrões e se julga no paraíso. Este Jesus foi abandonado pelo pai, é chagas por parte da mãe e se não lhe faltasse hospitais faltariam visitas. Este Jesus tem sede de vinho, de carne, de paz, de irmãos. Toda esta coroa de espinhos o levará ao Divino e neste corredor de aniquilamento, feito de seres humanos, vez por outra algum cirineu o alivia da carga. Serei eu? Serás tu? Que sejamos todos nós arrastados para a salvação patrocinada por tais deprimentes da família “da Cruz”. Em breve saberemos se fomos cirineus.

sábado, 25 de dezembro de 2010

Tia Wal refazendo o Paraíso


Amostra do Natal 2010

"O Papai Noel não passou, mas as renas encheram o saco"

Numa retrospectiva de final de ano, num balanço fidedigno, diríamos que o ano não foi próspero quanto o ensejado, mas sempre é oportunidade de dar graças à vida, como diria o salmista sobre o tempo de plantar e de colher. Eu diria que muitos colhem sem terem plantado, mas o bom mesmo é semear.
Na porta da nossa casa sempre é possível encontrar uma criança abandonada ou um animalzinho, mas no Dia de Natal encontrei uma muda - uma muda de planta! O que será? Quem deixou?
Por um período não muito extenso as divagações continuaram - o certo é que iríamos adotar aquela plantinha desconhecida e ver no que daria.
Isto dado até que, como quem procura sempre encontra, chegamos à autora meliante - a Tia Wal! A Tia do reciclar, a Tia da Biologia, a Tia que sonha como criança!
Como diz minha exposa: "_ A Walkíria não existe!"
Eu concordo, pois é de outro tempo, de outro planeta, de outra humanidade, de outra civilização... mais avançada.
É uma professora que acredita no que faz. Os projetos implantados, sejam quais forem, são conclusos. Ela provoca os acontecimentos. Ela, somente ela, tem os alunos com proveito. Ela vê o aluno como um anjo e não um ser traquina e que merece todas as prioridades ou prerrogativas. Deve ser redatora da "Lei da Palmada".
É uma mãe que amamenta até o leite secar.
É uma orientadora que sabe onde chegar.
É restauradora do que o tempo tombou.
É um rosto sempre "assorisado".
É mais falante que ouvinte sem deixar de ser sábia.
É ação benfazeja ininterrupta. É de fé e de joelhos. É de pedir, multiplicar e de repartir.
Na noite de Natal saiu sacando do saco mudas para mudar o planeta. Não sei quantas, mas vão vingar como tudo que ela apronta e faz.
A muda da nossa porta é um ipê que vai florir valquírias por muito tempo.
Pequenas ações como esta mudam eu e mudam você. Muda o mundo de volta ao Paraíso.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

Terra Natal ou Natal longe da terra?


SOMOS TODOS FARINHA DO MESMO SACO

É Natal. Uma palavra tão pequena, mas de grande significado. Indica o nascimento do Menino-Deus. Como em todo nascimento nasce também uma esperança. É uma época de fartura ou pelo menos devia ser. Os corações humanos se aquebrantam e ficam cheios de Paz. Os necessitados invadem as ruas com suas inúmeras “Caixinhas de Natal”. As famílias de reúnem com banquetes jamais vistos no transcorrer do ano. É chegada a hora de o comércio vender bem. Cada pessoa vai às compras dos presentes de seus amados ou queridos. Vive-se feliz. Mas é assim em todo o mundo? Não, claro que não. Quantas vezes choramos a ausência da reunião em família. Uma mãe é a pessoa mais sofrida com um filho ausente. Apesar de estar escrito nas Sagradas Escrituras que o “O homem e mulher deixarão pai, mãe e irmãos e se unirão formando uma nova família” não é lícito que os familiares ascendentes caiam no esquecimento. Quantos “25 de Dezembros” foram descoloridos sem a presença de toda a família, principalmente da mãe? Ainda bem que o povo nordestino, portador da saga de procurar uma terra prometida, é forte e foi cunhado para uma cruz mais pesada.
Quando num interior, chamado de sertão, uma choupana acolhe uma mãe com muitos filhos jogados à própria sorte não é sinal de abandono do pai, mas culpa de alguém ávido por um lucro desmedido que aprisiona o pai das crianças numa rotina de trabalho cativeira. Bravas mulheres de nomes marias, franciscas e infelizes severinos e raimundos “orelhas”.
Se a vitória ou o “vencer na vida” acontecer a algum dos nossos peregrinos ele retornará aos “abandonados” ou acolherá os que chegam às pencas da “Terrinha”.
Não é o caso enumerar as causas que nos impediram, esse tempo todo, de irmos curtir o Natal em Família, pois já choramos muito por isso e pedimos perdão à nossa mãezinha.
Este só não é o Natal mais feliz de nossas vidas porque sabemos que lá fora muitos irmãos padecem sem medida, mas peçamos ao Senhor Jesus que transforme cada manjedoura ou palácio governamental num reduto de uma Sagrada Família e que nos dê forças diariamente para que, com responsabilidade, tornemo-nos sobremaneira salvadores de toda família ao relento, pois uma família ao relento nos deu Nosso Salvador.

DOUTORA BACTÉRIA


QUITÉRIA

Obstinação! Talvez seja esta a palavra que define melhor toda uma atividade de pesquisa científica. No princípio, talvez, o que move um estudante quaternário na busca de um bom embasamento teórico-prático ou de uma doutrina seja a diplomação, mas a convivência diuturna com o objeto da busca incessante faz com que a relação se transforme em paixão desenfreada.
Minha amiga acreditou que fosse possível em, no máximo duas semanas, desvencilhar-se da missão, mas a interação humana com partículas de vida tão protozoárias, viróticas ou bacterianas virou um fascínio, um infinito no fundo de um tubo de ensaio ou numa pose fotográfica numa lâmina reveladora.
Daqui a pouco tempo poderemos saborear um fruto do cerrado, de produção escalar, em variadas porções da culinária multifacetada brasileira de exportação, sem que alguém por perto tenha sido testemunha da abnegação e zelo de uma ação investigativa de uma cientista dedicada. Talvez até o fruto tenha sido rebatizado para que soe bem aos ouvidos, pois araticum mais parece um banho d’água onomatopeico.
Não sei do que se leva em conta para conceituar minha amiga Quitéria - assim apelidada por ter tido tantas noites mal dormidas preocupada com a vegetatividade das suas bactérias incubadas – mas será um critério aquém do seu esforço.
Cada DNA compilado, de quase dois milhares de indivíduos da mesma população, é um espetáculo à parte cuja conclusão de tese nunca será completa se se considerar o universo ímpar de tão perfeito ser.
Pelos dias incansáveis e em nome do resto da Humanidade, obrigado Quitéria.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Padrofilia


A RELAÇÃO ÍNTIMA ENTRE UM PADRE PEDÓFILO E EU CRIANÇA

Na década de setenta, um dos bairros mais distantes do centro de Araguari era o Bairro Paraíso. Talvez por este motivo a cadeia pública tenha se transferido para aquelas imediações. Por pura ironia o inferno e o paraíso tornaram-se confrontantes.
Meu terceiro irmão, na escala descendente dos mais velhos, era então terceiro sargento da Polícia Militar e tirava serviço naquele centro de reclusão. Eu, pra não fugir à regra, era o garoto das pernas ligeiras ideal para levar-lhe o almoço na marmita ainda bem quente.
No cumprimento desta tarefa era costumeiro atender alguns pedidos dos presos, em geral levando-lhes cigarros, sabonetes, pasta dental ou doces. Eram esquisitos no começo, mas acabei acostumando-me àqueles seres humanos de baixa escala. Normalmente desfilavam pelas celas sem camisas mostrando o corpo tatuado, naquele tempo era sinal de periculosidade máxima.
O ambiente era desagradável à visão e também para o olfato de qualquer um. Na necessidade de serem atendidos tornavam-se amáveis, dóceis e educados, embora uns amedrontassem sob qualquer candura. Animais enjaulados que aprendiam a odiar ainda mais. Poucos ali não eram tão culpados.
Meu segundo irmão, sempre que possível, se embebeda e, naquela época, era um alcoólatra que aprontava muito. Aproveitando da posição ocupada pelo terceiro filho, minha mãe mandou prender o irmão cachaceiro com a intenção de forçá-lo a abandonar a bebida. Moral da história: Assim que ficou sóbrio, entre quatro paredes, nada bobo, patrocinou uma fuga espetacular. Utilizando-se de um cano que quebrou da tubulação d'água e, molhando a parede com o líquido do vaso sanitário, fez lum buraco apertado na parede onde passou boi passou boiada. Ainda lembro-me dos arranhões sangrentos que ele carregava pelo corpo devido à passagem apertada pelo buraco salvador. Presos condenados também se evadiram e só não consigo me lembrar de como o irmão sargento tenha pagado o pato.
Na cadeia pública de Araguari havia um preso de bom comportamento que circulava à solta pelas dependências. Fazia faxina no local e tinha um sorriso largo, apesar de um olhar sempre pra baixo. O nome dele era Bernardo Feitosa Soares, um padre da Igreja Brasileira condenado por pedofilia, embora naquela época tivesse tal crime outro nome e nem fosse assim tão hediondo. Conversei muito com ele e realmente era bem cativante. Lembro-me que ele disse ter assumido a culpa para poupar o bispo, o verdadeiro culpado. Ele escrevia coisas muito bonitas e trocávamos correspondências. Incentivou-me a escrever e ofertou-me um baú cheio de livros, uma mini-biblioteca que eu e as traças devoramos. Ele escrevia em papel de cigarro, coisa que não faltava por ali. Era uma letra pequena e bem desenhada. Graças a ele escrevi, naquele tempo, o seguinte pensamento: Este mundo de hoje é tão cão e medíocre que cada flor tem um espinho, cada sorriso é um disfarce e atrás das grades há um padre.
Até hoje fico pensando neste pecador que cumpriu pena no Paraíso e da relação que tivemos penetrante por toda a vida.

domingo, 19 de dezembro de 2010

Louca Língua


CASO PESSOAL AGUDO

Disse o Nário Cacófono: “Alienação é um adjunto adnominal de lugar que indica a posição de uma nação no espaço.” Com mais noção de termos, em qualquer período, o arábico Al Rélio de Hollanda define tal fonema da literatura como “andar fora da linha”. Que loucura estas justas posições! Numa língua, bem passada a limpo, há uma separação silábica de seus parônimos e uma singular preposição, que desde o tempo primitivo, tem de definido e de concreto o futuro é o verbo. O gênero feminino do mesmo, ou seja, a verba, não se faz presente desde que o próprio sujeito foi preterido em um golpe epiceno mais que perfeito. É relativo que tal análise tenha como causa a finalidade de se chegar à conclusão que, sob qualquer condição, o grau sobrecomum entre as palavras de uma classe plural não é acidental, mas essencial. Uma locução positiva ou até mesmo pré positiva simples, comum à oposição, tornaria tal elemento ordinal em um caso reto ou certo, mas uma única redação de um parágrafo, na sua constituição, tem um artigo derivado da semântica que torna o tônico substantivo em multiplicativo significado. De toda forma, apesar da relação abstrata de que regras e exceções são biformes e se encontram no infinitivo, não se oblíqua ninguém a lançar uma interjeição de espanto aumentativa. Frente a tudo isto indefinido cabe interpretações de textos falsos e verdadeiros. Com junção de todos os verbetes, deste contexto comparativo, a formação morfológica é obvia ou átona ao aluno radical de Português super ativo que não tem mais adjetivo, mas analítico por sintético particípio que o coletivo chegou ao ponto final.

Meu último editorial no Jornal da Escola


Conto o que se disse e poupo os lares.

Teve um tempo que não longe vai, tanto é que ainda me lembro, que as noites eram mais escuras e nossos pais tinham mais crédito.
As ruas eram de poeira e fogão era fornalha, luz de lamparina, água de cisterna, TV em preto-e- branco, chuvisco e chiado no parente mais próximo do centro urbano.
O rádio era o centro das atenções, mas no rabo do fogão à lenha os mais velhos encantavam nossos medos com suas estórias abomináveis, sem pé e sem cabeça, saci e mula.
As peraltices do Saci-Pererê, de cachimbo e gorro, encorajavam-me a fazer travessuras e sair pulando num pé só, ora no direito e ora no esquerdo, pois havia estas duas opções para ganhar em resistência do coleguinha. Trocava de pé no ar e ele nem percebia.
À noite as peraltices na vizinhança aconteciam bem menos, pois a mula-sem-cabeça e o lobisomem me espreitavam. Se ela não tinha cabeça como soltava fogo pelas ventas?
Nossos pais nos amedrontavam e isto surtia efeito para nossa sobrevivência. Hoje não há mais como coibir os filhos que, destemidos, com uso de substâncias alucinógenas que encorajam, conseguem visões que nunca tivemos e sempre evitamos. Craques na baforada do cachimbo, como o Saci, também não tem cabeça, são mulas, transformam bens em pó, luz em escuridão... e adeus precoce na aventura terrena!
A instituição do "Dia do Saci", em combate ao enlatado "Dia das Bruxas" americano, é no dia 31 de outubro. Neste ano coincidirá com nossa presença nas urnas. É mais um punhado de mentiras, mas, como eterna criança, o eleitor continua acreditando e participando do pesadelo.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Diário dos outros


Crônica após o poema


Há algum tempo surgiu-me uma idéia de fazer um diário, eu ainda era criança, mas não foi adiante. Falar da gente é difícil e ainda existem fatos impublicáveis. Há ainda o inconveniente de um intrometido aproximar dos seus momentos mais íntimos, pois um diário deve ser secreto. No dia-a-dia tamém não notamos fatos extraordinários que mereçam ser anotados. Quando se inicia um diário a gente sente-se na obrigação de contar tudo que houve a cada dia. A vida da gente só é interessante com o acumular de dias. Coisas banais que se vive pode um dia ser um fato de tamanho desmedido de importância.
Mais recentemente idealizei fazer diários dos outros. Um resumo de vida de pessoas por quais nutro algum conhecimento e o mais nobre respeito.
O primeiro a ser dissecado com algumas notas bibliográficas e que tenham influência na minha vida é o: ANTONIO MARCOS DE PAULO, autor do Blog "Observatório de Araguari".
Trata-se de um araguarino ausente por fixar residência em Brasília, mas seu coração pertence à cidade natal.
Conhecedor das artimanhas de todos os poderes, públicos e privados, devido ao fato de labutar em Tribunal de Contas de alta corte, ele, baseado na experiência, tenta manter-se de plantão aos acontecimentos de sua Araguari, onde a corrupção repete-se da mesma maneira que na podre capital.
É um grito de alerta que se irmana em coro a outros araguarinos de mesma estirpe.
O Marcos, apesar de não termos sido íntimos na infância, cresceu também no Bairro São Judas. Também estudou no São Judas Tadeu e correu atrás, muito atrás, da "bola de capotão", nos mesmos terrenos baldios que eu. Talvez fôssemos atletas ridículos, mas os times só eram completos conosco.
Os pais do Marcos, Dona Terezinha "Devagar vai Longe" e Seu Antonio "Teimoso", foram seus maiores educadores. As matérias exemplificadas diuturnamente como brio, decência, honestidade, compaixão e outras em vias de extinção, foram elimidadas com a maior nota.
O Marcos entrou no Exército, mais precisamente no Batalhão Ferroviário, para servir como recruta, mas seu conhecimento e capacidade elevou-o à graduação de Terceiro Sargento.
Transferido para Jatái foi trabalhar no Rancho do Batalhão de Infantaria. A sua qualificação militar era Logística, a área supostamente mais corrupta da caserna. Como os demais rancheiros, ele foi apelidado de pé-de-sebo e mão-pelada assim como os mecânicos eram chamados de mão-de-graxa e os infantes de pé-de-poeira. Nas brincadeiras constantes dos colegas havia e, com certeza ainda há, o despropósito de chamá-los descaradamente de mãos-leves. A atuação administrativa realmente abre brechas para que algum ou outro se beneficie, mas o Marcos jamais se locupletou com isto. Pra ser sincero eu tive oportunidade de trabalhar com licitações e contratos e fui, até certo nível, corrompido. Fez-me tanto mal que até hoje sinto-me sujo, mas isto é uma outra história.
O Marcos iniciou curso de direito em Jatái e terminou-o em Brasília, o que não é fácil a um militar tanto pelo tempo quanto pelo custo. Como ele mesmo diz, apesar das dificuldades financeiras por quais passava, chegavam naquele rincão goiano notícias araguarinas através de assinaturas que ele tinha do Gazeta, Botija Parda e Ventania. Os acontecimentos de Araguari tinham prioridade zero, fato que se repete ainda hoje, porém procura ter mais interferência.
Foi em Brasília, no ano de 1990, que aprofundamos nossa amizade. Ele era então Segundo Sargento e eu fui seu aluno no Gabinete de Identificação. Procurávamos estar juntos até mesmo no futebol de salão mesmo que desequilibrássemos pra baixo nosso time. O bom do Exército é que os superiores sempre tem vaga no time independente da bolinha que joguem. A gente perde e permanece, isto é lei.
O Marcos, apesar de uma capacidade acima dos normais, prestava inúmeros concursos, mas continuava sargento. Até que trocou praticamente "seis por meia dúzia" quando saiu do Exército para o Banco do Brasil, onde ainda cercara-se de fatos que prejudicam a quem seja extremamente correto. O Marcos tinha uma úlcera que nascera certamente por estar amarrado diante tanta situação irregular.
Talvez tenha sido seu pior pedaço, pois a falta de moradia por lá ou falta de salário correspondente, foi lhe um obstáculo sem tamanho. Só aos fortes as grandes batalhas...
Provas de concurso de nível superior ele ia passando, mas ficava sem classificação. Uma vez passou na Polícia Civil, mas a comunição foi falha e perdeu o cargo. Ficou muito contrariado e eu o consolei dizendo-lhe para continuar fazendo todos os concursos e quem iria escolher o melhor pra ele era Deus, e dito e feito.
Sua filha, dentre outras, uma cientista política, ainda é mais estudiosa que o próprio pai. Ocupa um bom cargo, daqueles de concursos de mais de três níveis.
O Túlio, o caçula tricolor forçado, que aparenta não querer nada, faz duas faculdades ao mesmo tempo. Ao contrário do pai é titular dos times os quais joga por habilidade extrema.
Rosa, a esposa também araguarina, deveria chamar-se jardim.
O Marcos está sempre que pode, ou não, em Araguari. Não é só pra matar a saudade dos pais e familiares, mas pela cidade. Tem até intenção de remunerar um correspondente local de seu Blog pra não perder o foco de sua terra querida. Fui até convidado pra isto, mas estou acorrentado à uma cabeça de cavalo enterrada em Goiandira.
Tenho certeza que o seu desejo de voltar será saciado e, de preferência, como um Juiz Federal ou de Direito da Comarca Araguarina. Aí então quero ver se suas solicitações aos agentes de órgãos públicos araguarinos, ou quem quer que seja, não serão atendidas...
Em seus pareceres, já impaciente com tantas falcatruas, ele aparenta ser rude, mas é muito doce e humilde. Já o ouço dizendo que eu exagerei neste texto a seu respeito, mas eu nem disse que ele até empresta dinheiro com intenção de nem receber.

sábado, 4 de dezembro de 2010

Dois Sacanas: Carlos Drummond de Andrade e Eu



Pensamento Satânico

"Satânico é meu pensamento a teu respeito, e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão, numa sede de vingança incontestável pelo que me fizeste ontem. A noite era quente e calma, e eu estava em minha cama, quando, sorrateiramente, te aproximaste. Encostaste o teu corpo sem roupa no meu corpo nu, sem o mínimo pudor! Percebendo minha aparente indiferença, aconchegaste-te a mim e mordeste-me sem escrúpulos.
Até nos mais íntimos lugares. Eu adormeci.
Hoje quando acordei, procurei-te numa ânsia ardente, mas em vão.
Deixaste em meu corpo e no lençol provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu durante a noite.
Esta noite recolho-me mais cedo, para na mesma cama, te esperar. Quando chegares, quero te agarrar com avidez e força. Quero te apertar com todas as forças de minhas mãos. Só descansarei quando vir sair o sangue quente do seu corpo.
Só assim, livrar-me-ei de ti, pernilongo Filho da Puta!!!!"

Carlos Drummond de Andrade


Ela e o Austin

Aproximei-me sorrateiramente e ainda pude ver o meu amor arrastando o Austin, pelo braço, para o nosso quarto. Naquele corpo-a-corpo pude ver o Austin o tempo todo de boca aberta.
Mantive-me à espreita pra não interromper aquela relação cheia de vibrações. Sentaram-se à nossa cama e meu amor, querendo obter a nota máxima, colocou o Austin no seu colo confortavelmente. Encaixou a sua coxa na cava do Austin e o abraçou. O Austin até então mudo, ao ser tocado e esfregado, soltou gemidos sonoros. A tensão foi aumentada e o instrumento, manipulado com muito intimidade e rapidez, pelas mãos de meu amor, esticou-se ao limite máximo. O corpo de ambos soavam... os trastes se comprimiam... Sem saber, aqueles dois, em todas as posições possíveis, tocavam uma pra mim, então tive que interromper o meu gozo de satisfação com intermináveis palmas...
Meu amor, minha ave canora, tanto que podia ter um violão Austin, legitimo espanhol, mas tem um made in China.

PS: Sem contar que depois de tanto êxtase o Austin vai pra dentro do armário!
Aristeu Nogueira Soares

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Antônio Marcos de Paulo



OUTRAS PESSOAS

Existem pessoas que envelhecem...
E outras que comemoram a vida!
Existem pessoas que pecam...
E outras que perdoam!
Existem pessoas que se realizam...
E outras que não se contentam!
Existem pessoas que o dia é longo...
E outras que se realizam a cada minuto!
Existem pessoas com objetivos na vida...
E outras em que a vida é objeto!
Existem pessoas que desistem...
E outras que recomeçam!
Existem pessoas que passam...
E outras que permanecem!
Existem pessoas que ensinam...
E outras que modificam!
Existem pessoas que sorriem...
E outras que não ficam tristes!
Existem pessoas que constroem estradas...
E outras que abrem caminhos!
Existem pessoas escravas...
E outras que cativam!
Existem pessoas que badalam...
E outras que martelam!
Existem pessoas sisudas...

E outras, bem poucas, Antonio!
Existem pessoas madalenas...
E outras, bem poucas, Marcos!
Existem pessoas frutas amargas...
E outras, bem poucas, de Paulo!
Existem pessoas caroço...
E outras, bem poucas, é massa!
Existem pessoas que vão
E outras que permanecem

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

O leão era manso


Em cima daquele morro...


No meu país das bandalheiras
Tudo pode e tudo é crime.
Contrabando lá na feira
E corrupção que não redime!

Plágio, cópias de livros
E conexão clandetina.
De tudo eu me sirvo
Viva eu made in china!

Prendo o animal silvestre
E compro a nota da madeira.
Tudo num golpe de mestre
Propinar fiscais é brincadeira.

O crime é organizado
Até na invasão de terras
Com custos contabilizados
Esta máquina não emperra.

Compro voto e falcatruas,
Sequestro e escravizo.
Emprego o menor de rua
Pra matar e dar aviso.

Urino a via pública
Exploro sexo e "boca".
O morro é minha república
A planície dorme de touca.

Espanco a Maria da Penha
Na violência doméstica.
Clono cartão e senha,
Mas no congresso tenho ética!

Desacato a autoridade
Onde moro ponho censura
Fecho o comércio da cidade
E pratico a tortura.

Busco armas poderosas
E novas rotas à droga
Na minha vida perigosa
Compro os de farda e de toga.

Quando preso na cadeia
Faço dela fortaleza.
Aumento mais minha teia
Viro mais que realeza.

Tenho rádio pirata,
Lavo dinheiro na Igreja,
Ostento ouro e a prata
Onde quer que eu esteja.

Tenho carros importados
E apartamentos em zona sul.
Elejo dois deputados:
Um vermelho e um azul.

Torço para a raposa,
Mas também sou urubu,
Por muito ou qualquer coisa
Dou carne humana ao pit-bull.

Quando chega a mercadoria
Solto fogos e balão.
Muita festa e alegria
Mostro na televisão.

Falam que eu sou forte
E então eu acredito.
Sou o senhor da morte,
Super-homem e até mito.

De repente exagero
Onde toco vira fogo
Quando menos espero
A polícia vira o jogo!

Acabou-se a paciência
Chegam em mim por terra e ar
Força armada e presidência
Acabam de acordar.

Pernas pra que eu te quero
Agora ou mato ou morro.
Chega de lero-lero
Do morro pro mato corro!

Se o cerco for rompido
Farei de mim mais um cristão.
Vale a pena ser bandido
Só noutra encarnação.

Chega de impunidade!
Grita o povo pelo Pai,
Mas pra vencer toda maldade
O sangue do justo cai.