sexta-feira, 29 de abril de 2011

Doutor Goiandira


DR LÉLIO DAVID VIEIRA

Vão dar-lhe nome de Alameda...
Meu Deus! Isto é tão pouco
Pra quem com mãos de seda
Trabalhava-nos como um louco.

Órfãozinho que se criou
Em mão de parentada
E médico se formou
Para ser pessoa amada.

Poderia ser arquiteto,
O seu sonho primeiro,
Mas Deus o pôs no caminho certo
Onde se dedicou por inteiro.

Tinha muita alegria
Confortava ao medicar
A si mesmo foi agonia
E não deu pra se salvar!

Uma dor no peito sobreveio
Porque tinha grande coração.
Tomba o velho amigo cheio
De esperança e compaixão!

Quem dele nunca se aproveitou
Que atire a pedra primeira
Duro caminho desbravou
Numa terra zombeteira.

Na vida assumiu tudo
Entre partido e candidato
Fazendeiro bem sortudo
E diretor de sindicato

CRM 813 carimbado
Demonstrava ao patrão
E o respeito ao empregado
Era a primeira lição!

O Hospital de Goiandira
O manteve em seu ventre
Ouço agora tocando lira
Nosso Lélio Para Sempre!

sábado, 23 de abril de 2011

Bendita a sanidade


Diário de um alucinado

Numa prancheta do Grupo “Equilíbrio” ao qual pertencia, descobri que cheguei à Mansão Vida no dia 18, numa sexta, sem ainda a hora definida. O psiquiatra Hoel Mendes, que me atendeu sentenciou-me como sendo Douglas e Vera Maria, pobres almas penadas, que me internaram ali. Fiz algum texto para o psiquiatra para que ele avaliasse o grau de insanidade que em mim repousava. Foi algo interessante, mas nada a esses seres ou semi-deuses causam impacto. Dois psicólogos – um é o Marco Aurélio, seriam meus terapeutas.
Existe distribuição para outros grupos, inclusive sei de um com o nome de superação, reservado ao pessoal usuário de drogas em tratamento. Caberia eu lá? Droga medicamentosa nãp deixa de ser droga. Fio interagindo muito bem apesar do mestre ser um tanto sem medida no espanhol e alguns lunáticos querendo apenas fugir deste lugar de cárcere. Ali também existem médicos internados, generais, psiquinalistas e o barco, parecendo à deriva, não nos deixa a ver navio. Existem problemas mil distribuídos em alas que nada amenizam a individualidade de um mundo de orates, manias, esquizofrenias e pobres diabos que, detendo o frasco de remédios, pode-se manipular bonecos de olhos arregalados. Qualquer tempo em exposição aos doutores psiquiólogos ou terapeutas musculosos respiradouros páuseos podem arrancar do seu íntimo pacientoso sequer parcela mínima flagrante de suas dores ou dilemas indecifráveis.
Somos farrapos de um exército que se tornará vitorioso se o amor for o remédio de boa medida ou em overdose.
Fui surpreendido na tarde, 24, quinta, antes da chuva, pela visita do meu filho segungênito. Um garoto bonito de porte e também de coração, mas que poucos têm a oportunidade de tatear quão delícia são seus ventrículos e aurículas.
Pedi-lhe cigarros, não que tenha abraçado novamente por este vício indecente, mas para que através dele eu possa ter mais interação com outros pacientes necessitados desta fumaça.
Também experimentamos o dulcíssimo café expresso e caputtino. Esta sua atenção para com a minha plena recuperação também está o deixando em maus lençóis no emprego, mas a sua competência o desculpará frente ao chefe. Ele contou-me detalhes do que fez com ele me trouxesse à tranca das raias das loucuras. Tinha razão plena! Algum remédio de socorro que foi-me receitado pelo Doutor do HFA, entre eles meu temido haloperidol, que me fizeram desabrochar os meus mais íntimos monstros terríveis.
Através do celular dele, que também é proibido, liguei pra minha esposa perdoando-a por não ter retirado-me dali dentro daquele prazo estúpido estipulado por mim anteriormente. Sofreu com isto indevidamente ainda mais que esta se desdobrando no pós operatório de nossa cadelinha e da assistência terapêutica ao nosso velho cão cardíaco. Sem contar que ainda continua estudando artes e engolindo sapos de nosso outro filho que está perdido. Entre amores que escravizam ou cegam.
Eu estou feliz não de todo nem de completo, mas felicidade são instantes ilúcidos.

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Depressão causa suicídio


Depressão

Depressão é um buraco
Muito fácil de entrar
Uma vez lá embaixo
O melhor é enterrar!

Pensa assim o deprimido
Não tenhdo onde se agarrar
Entupido de comprimido
E uma tristeza de amargar!

Pensam uns que é preguiça
Outros pensam em desamor
Vai no Centro... Vai na missa...
E é mais dor aonde for!

Queira Deus Onipotente
Segurar na mão doente
Que o deprimido não sente
O arder do sol nascente!

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Uma carta para a Dilma


Direto da Clínica Psiquiátrica

Caríssima Presidenta, preimeiramente quero te dizer que não votei em você nem segundamente. Talvez seja por complexo dos ensinamentos militares dos quais fui vitimado e não ter participado da ditadura, mas ter escutado vossos feitos, santa guerrilheira!.
Verdade ou mentira, mas um pouco de admiração tenho porque você penhorou sua vida por um ideal pátrio. Só não acredito numa luta contra a ditadura, mas a favor de um comunismo nascente.
Sei que atitudes extremadas podem ter sido feitas pelos dois lados, mas é a guerra, é a vida, é o ideal, é a missão, é o dever.
Eu no seu lugar, minúsculo que sou, gostaria de ver meus torturadores pressionados, mas será que o faziam por prazer?
Estou gostando de ver que aos poucos você está se desrelacionando do seu padrinho. Seu voo solo poderá render aos brasileiros maiores solavancos no progresso, afinal enquanto ele cortou na própria carne um dedo mínimo, a sua cabeça ficou à deriva. Estão repeteindo leis sobre mandatos que, inclusive, poderá mexer no seu, mas não arrede pé. Isto só acontece quando estes parlamentares doscobrem-nos como vocacionais ao heróis, o que você aparenta ser, nossa Rainha!

Tempestade no barco


Louco poeta

Ouvi um trovão celestial... Meus parcos estudos não puderam sentenciá-lo como estratosférico ou cromosférico, mas presente na altura das nuvens negras que se dissipavam sobre nós. Iria demorar a precipitação, pois o Eoles pouco colaborava. Era seu dia de marasmo. Apesar de incentivado pelo relâmpago ligeiro e audaz o vento se aquietava frente àquele mero curisco local.
Cidadãos tremiam temendo a tempestade, mas nuvens brancas povoavam um cinturão abaixo do reboliço. Estas mocinhas em forma de pluma brincavam de metamorfose e estátua. Movimentando sorrateiras vi uma nuvem floquinho transformar-se numa arraia de boca aberta. Com um pouco de movimvento transformara-se numa cabeça de cachorro que tinha uma careta de um olho só abaixo. Parece que um jacaré negro engoliu as nuvenzinhas e transformou-se numa massa cinzenta. As árvores mais altas sustentaram um balanço com frequência e amplitude modulada.
O tempo mudou. Abriu-se os cantos dos pássaros, pois era chegada a hora do recolhimento da pequena fauna. A fauna é medicamentada pela flora? Quem é o manipulador? As andorinhas são as últimas a se aninhararem. A fumaça provacada pelos cigarros é recusada pelos bichos enquanto envermelham dodos humanos com um sarro total.
Tocou-se o sinal do jantar e fui.
Choveu muito sobre o sanatório.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

MANSÃO VIDA


Curta Memória de um interno

Cheguei à “Mansão Vida”, Clinica de Internação Psiquiátrica próximo a Santo Antonio do Descoberto-GO, aturdido.
Nem vida nem mansão foram observadas por dois dias. Um trauma, tipo coma, ofertado por um remédio violento, tipo sossega-leão, de nome Haldol, amorteceu meu ser e até me fez ver monstruosidades. É um hipnótico sem precedentes.
Sou um bipolar assumido que se julgou prejudicado renal com os metais de lítio e caí na tentação de não usar o Carbonato de Lítio por uns tempos. Moral: A crise de pinéu veio forte e nem cheguei a checar os rins.
Não é fácil se posicionar com o que enfrentamos em internações como confinamento e ordens várias, retenções, isolamento, camisa de força e ainda vislumbra-se ser um ofício do bem em que a própria família “enfiou” ou “confiou” naquela instituição.
À primeira monta ouvi dizer que tal Ester, uma enfermeira, é a dona da Clínica que conta ainda com uma parceria com certa “Comunidade”, onde usuários químicos dependentes revolvem a terra em busca de hortifrutigranjeiros para a alimentação em geral. Ainda assim a diária gira em torno de quatrocentos reais.
A bebida, a droga e os fármacos são quase que uma luta perdida... Noutros cantos, porém não ali com bons índices positivos.
Dona Ester eu não conheço, mas é o esteio desta grande obra. Mil pães são consumidos diariamente – Seria um cesto de Jesus?
Este trabalho envolve recuperação, equilíbrio, superação de pessoas conectadas a células já mortas cerebrais.
Pessoas que são supostos justos na sociedade se ofereceriam para tiro de misericórdia a tais pacientes.
Lendo alguns recortes na administração do Santo Complexo, li algumas palavras alusivas à Ester Mansão. É uma cidadã honorária em várias câmaras legislativas e com louvor abonado por instituições de peso como SENAI, por exemplo.
Outra Ester, a Bíblica, foi uma judia que salvou seu povo da escravidão e ainda destronou a rainha Vasti. Por uma ironia talvez, uma mesma Vasti da atualidade, não sei bem se Pastor ou Pastora Evangélica, encerrou uma placa da nossa “Ester Vida” mostrando toda a sua grandeza: Ester Giraldi Dias, com certeza Ester Giraldi “Pancada”, mas uma mão maior repousa sobre seus dias.
Não deve ter muito tempo e nem umbigo para homenagens, mas o testemunho de vida é que transforma outras vidas. Estereotipada com o extermínio do mal, busca forças externas. Ester, enfermeira de cunho doce e servil, atende com mansidão. Seu campo de trabalho é de grande messe e me inspira a que também façamos o mesmo noutras paragens. A esterilidade do pó que leva ao pó custa muito caro, lágrimas sem fim e dor sem volta.
Saber como este trabalho é mister é como conhecer um pouco dos mistérios divinos.
Ester é o esterco da semente do amor.
Ainda assim forcei minha alta de tal Manicômio!