quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Herbert de Souza



O SANTO ATEU

Na produção de riquezas até o lixo é do chefe. Parece brincadeira, mas é o que está ocorrendo. Flagrei um segurança do Conjunto Nacional impedindo que uma miserável recolhesse latas vazias de refrigerantes das lixeiras. A alegação foi de que tais latinhas pertenciam ao patrão. É mesmo a dizimação total. Inclusive nem sei como a excluída conseguira entrar ali.
Parece que provoco acontecimentos, mas apenas sou um observador do quanto nos desamamos. Um senhor maltrapilho, desnutrido e que, apesar de parecer alcoolizado, esbanjava um sorriso límpido de orelha a orelha, me chamou a atenção. Num rápido bate-papo incitei-o a se juntar aos sem-terra, já que milhares deles acampavam o entorno do DEFER. O que recebi como resposta deixou-me boquiaberto: “ - Moço, eu sou andarilho. A Terra inteira me pertence.”
Exatamente neste instante lembrei-me de um outro homem também esquálido, doente, feio, papa-sangue e de olhos imensamente esbugalhados. Teimoso, insistia em permanecer no meio de nós como uma afronta às previsões médicas. Este herói brasileiro foi realmente um sociólogo no sentido amplo da palavra. Não acreditava em Deus aqui na Terra, mas pelo que fez deve ter conquistado o lado esquerdo de Deus-Pai-Todo-Poderoso lá no Céu.
- Betinho, rogai por nós.

1 comentários:

Ellen disse...

Adorei a frase: “ - Moço, eu sou andarilho. A Terra inteira me pertence.”
Muito interessante essas suas observações pela vida...

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