domingo, 19 de dezembro de 2010

Meu último editorial no Jornal da Escola


Conto o que se disse e poupo os lares.

Teve um tempo que não longe vai, tanto é que ainda me lembro, que as noites eram mais escuras e nossos pais tinham mais crédito.
As ruas eram de poeira e fogão era fornalha, luz de lamparina, água de cisterna, TV em preto-e- branco, chuvisco e chiado no parente mais próximo do centro urbano.
O rádio era o centro das atenções, mas no rabo do fogão à lenha os mais velhos encantavam nossos medos com suas estórias abomináveis, sem pé e sem cabeça, saci e mula.
As peraltices do Saci-Pererê, de cachimbo e gorro, encorajavam-me a fazer travessuras e sair pulando num pé só, ora no direito e ora no esquerdo, pois havia estas duas opções para ganhar em resistência do coleguinha. Trocava de pé no ar e ele nem percebia.
À noite as peraltices na vizinhança aconteciam bem menos, pois a mula-sem-cabeça e o lobisomem me espreitavam. Se ela não tinha cabeça como soltava fogo pelas ventas?
Nossos pais nos amedrontavam e isto surtia efeito para nossa sobrevivência. Hoje não há mais como coibir os filhos que, destemidos, com uso de substâncias alucinógenas que encorajam, conseguem visões que nunca tivemos e sempre evitamos. Craques na baforada do cachimbo, como o Saci, também não tem cabeça, são mulas, transformam bens em pó, luz em escuridão... e adeus precoce na aventura terrena!
A instituição do "Dia do Saci", em combate ao enlatado "Dia das Bruxas" americano, é no dia 31 de outubro. Neste ano coincidirá com nossa presença nas urnas. É mais um punhado de mentiras, mas, como eterna criança, o eleitor continua acreditando e participando do pesadelo.

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