sábado, 7 de dezembro de 2013

EU SOU FUBÁ



Prato de comida

Por um prato de comida,
Deixa-se a terra natal,
Na Araguari prometida
A fome iria se dar mal.

De nove, os três pequenos,
Por um prato de comida,
Provariam do veneno
De uma avó sempre mordida.

Era um de dura lida,
Não sabia o que fazia,
Por um prato de comida
A Vódrasta obedecia.

Pra trás ficaram três,
Com a fome ainda ardida,
“Ponham pouco todos vocês,
O prato é raso de comida.”

Por um prato de comida,
Mal se quis à avara avó.
Sara então esta ferida,
Jesus desmancha este nó.

Na cidade Sorriso,
Por um prato de comida,
Fazer de tudo foi preciso,
Toda a família investida.

Uns à toa na torcida,
Ficavam de boca aberta,
Por um prato de comida,
Avançavam sempre alertas.

O pai com mínimo salário,
Invernou-se na bebida.
Partiu com meio centenário
E rareou o prato de comida.

Por um prato de comida,
A mãe com outro se ajuntou
E os filhos na repartida,
Com a filha mais velha ficou.

Abandona-se então a escola,
Pra ganhar o prato de comida,
O que o mundo mais esfola
É a fome sem medida.

A Lei de Deus foi cumprida,
Com pranto suor do rosto,
Teve –se o prato de comida
Recheado a todo gosto.

Quando a fome aperta
Troca-se por uma jazida.
Simples mingau de fubá
Vira o melhor prato de comida.

Boia fria como prato de comida,
Desce bem no agricultor.
No restaurante é sortida,
Mas que pesa na hora de por.

No quartel vai-se engajar,
Por um bandejão de comida.
Sobre o estômago a marchar
Assim é nossa vida.

Um menu de boa pedida,
Pra não ter mais sede e fome,
É encontrar a verdadeira comida,
O Poço que abastece os homens.

O Prato Nosso de cada dia,
Merece uma boa esculpida,
De suor, lágrimas e alegria
De uma alma agradecida!

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Mengo, há quem não Aprov.




REGATAS

Teve um tempo que só se ouvia futebol pelo rádio e, neste tempo, eu ganhei uma camiseta do Cruzeiro, coisa simples, mas que meus coleguinhas babavam principalmente os do time sem camisa. Todos, inclusive eu, pobres um tanto e não sabíamos devido a uma felicidade gratuita.
Aquela camisa azul era envergada por grandes nomes como Dirceu Lopes, Nelinho, Tostão e o goleiro Raul em princípio de carreira, mas eu ainda não era torcedor. A bendita TV Globo, ainda em preto e branco chuviscado, começou a transmitir o futebol carioca e o paulista. A sardinha puxada para a brasa do carioca desde o sempre.
Devemos muito à Globo e sua telinha maravilhosa que nos trouxe o circo, o espetáculo, o mundo... Um idealismo pode se transformar num capitalismo para sobreviver, por isto uma corrente de intelectuais difamam a Rede Globo, mas é a selvageria dos ricos negócios que maculam mandatário, atletas e tevês.
Então com a TV eu vi o Flamengo. Havia um driblador esculachado que me chamou a atenção – Paulo César Caju. Sempre gostei do esculacho, mas depois dele veio o Zico e toda esta história onda do Clube de Regatas Flamengo.
Fui ao Maracanã na última conquista. Não sou mais aquele menino pobre, mas não posso me dar ao luxo de sair do interior goiano para simplesmente ver o Mengo a mil e duzentos quilômetros. Consegui um passageiro para dividir comigo as despesas de combustível e pedágios.
Meu filho terminou um curso militar coincidente com o jogo e fui à sua formatura. Matar dois coelhos com uma cajadada e ainda levei um cartaz de cunho político para lançar um protesto sobre o executivo araguarino. Araguari é minha mãe adotiva.
Eu já morei no Rio em 82 e 91 e frequentei o velho Maracanã. Gostava mais dele que do atual. Futebol era de pessoas mais humildes, menos em alegria desdentada. Havia vendedores ambulantes de todo jeito e que entravam gratuitamente. Vendiam cervejas, água, amendoim torrado, geladão (nome do picolé), mate gelado e outros petiscos infantis. Hoje a polícia e guarda municipal confisca tudo, mesmo fora do Maraca. Cerveja, o principal combustível do torcedor, só na Copa do Mundo. Só o bilhete de entrada custou duzentos e cinquenta reais e o transporte até o estádio ainda é caótico aquele trem. Comprar ingressos pela internet democratizou e ampliou as vendas, mas tornou-se seleto também.
A torcida é uníssona, ainda que sem maestro aparente. No jogo da final iríamos vibrar muito com apenas o zero a zero, mas duas bolas com endereço certo carimbou a faixa e ficamos sem noção, tri-campeão, nunca poucos sempre roucos, multidão.
O novo Maracanã treme menos, pois não tem coração acelerado, bolso e bolsa. Nesta final da Copa do Brasil meu vocabulário só tinha a palavra Mengo enquanto que noutros dicionários curriculares omitem este povo, esta nação de vasto território e mares, cercada de inimigos por todos os lados.