terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Suicídio


TUNICO MINEIRO

Não éramos amigos do peito, mas há quase duas décadas mantínhamos contato, inclusive de bastante trabalho. Foi uma das pessoas mais educadas que conheci e que primava pelo bom uso da Língua Portuguesa, tal qual uma minoria de nosso Estado. Seu jeito polido até parecia insuportável no meio “estúpido” militar. Participamos de duas campanhas topográficas de duração de cerca de três meses cada e, mesmo sob condições hostis, não perdia a linha. Definitivamente foi alguém de estirpe.
Certa época, uma avalanche de problemas psiquiátricos me mostrou o Espiritismo como caminho para a solução ou cura definitiva. Como dito, aos quatro cantos, somos todos médiuns que precisamos de desenvolvimento, fui desenvolver. O Tunico montou uma mesa de estudos no intervalo dos dois expedientes e aprofundamos o Kardec como Ciência, Filosofia e Religião. Há um capítulo do evangelho do Professor Rivail que dedicamos muita atenção – O Suicídio e a Loucura, isto porque o segundo tópico me afetava diretamente. Jamais imaginei que o primeiro tópico fosse afetar o Tunico. Apesar de ser um evangelho apócrifo, em este capítulo, o suicídio é totalmente condenado. A certa altura abandonei o Kardecismo e nem sei o que foi feito do Tunico neste campo. Com certeza não aprendeu muito, pois por duas vezes atentou contra a própria vida e na segunda obteve êxito. Entre a primeira e a segunda transcorreu mais de quatro meses – tempo suficiente para que se tivesse feito algo mais pela sua recuperação total. Estou no meio dos irresponsáveis que se omitiram, pois ele havia me ajudado em situação semelhante.
No intervalo das tentativas conversamos na Farmácia do Zé Maria, no Mercado do Alberto, no Espetinho da Esquina e noutras rápidas ocasiões, mas tudo ao acaso sem muita abordagem ou força bem dada. Muitos são os que têm o direito de imaginar o que leva uma pessoa vitoriosa, possuidor de uma família maravilhosa, vir a praticar um ato tão brusco, mas também têm o dever de aprender a lição para um próximo caso. Posso escrever, por ter tal experiência, que nossa mente é mais do que inexplicável.
Não devemos ficar sós e todo amor nos é pouco.
Que Deus, juntamente com o Tunico, ampare as três mulheres sofredoras que o amaram tanto, mas que não foram bem orientadas da operação constância. Os “amigos” como eu... Bem... Deixa pra lá.

2 comentários:

Ellen disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ellen disse...

Acho que quase todos em algum momento da vida pensam em suicídio, nem que seja apenas como uma ideia passageira, quase absurda... Mas é preciso muita coragem (ou será covardia?) para tirar a própria vida. Talvez, nem um nem outro. Apenas desespero...

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