domingo, 8 de março de 2009
CRONICÂNCER
Tenho a crônica como doença bastante avançada, incurável. Sou um impaciente compulsivo em estado irreversível de dar dó.
Meu maior desconsolo é devido à pessoa mais íntima de mim não me ler. Como efeito coliteral dessa mania escriturária, sou superdotado de concentração precoce – o mundo pode desabar, quando estou a canetar que continuo alheio ao espetáculo do fim do mundo. É por isto, às vezes, num tom deprimido ou pejorativo, que minha não-leitora mais famosa se aproxima desesperançada e brava: - Ô, escritor, Deus me livro de você, tô te chamando faz um tempão... (blá, blá, blá)
Ela é tão não-leitora minha que se eu suicidar com uma poesia atravessada no pescoço e deixar um bilhete - o inédito vai junto comigo ao caixão. Na minha lápide quero uma frase bem lapidar, resumindo minha vida: Aqui jaz um poeta de uma musa analfabeta dele.
Só de vingança, professora!
Pra se ter uma idéia do estado não-regenerativo deste lendário, vou fazer um relato dos apenas vinte minutos do passeio noturno que fiz com meus “canis familiaris”...
Um rápido passeio com meus amigos
Moro numa descida de quem vem e numa subida de quem vai, além do quê saindo pela direita estarei descendo. Hoje resolvi subir.
O cachorro fez xixi no poste e a lâmpada apagou. Foi bom, embora nada tivesse a ver uma coisa com a outra, porque enquanto isso a cadela deixou um “monte” na calçada e ninguém viu. Pensei em limpar na volta, mas vamos fazer de conta que foi cachorro de rua. Só quem entende muito desse assunto veria que era uma composição putrefata de ração importada doutra cidade e não restos de comidas vira-latas.
O problema também é que qualquer bosteiro de plantão olharia muito rapidamente, o suficiente para desviar-se da trajetória do monte, e emitiria uma nota de merda: - Eca.
Na esquina, um terreno baldio destinado ao Ministério Público, há “anos atrás”, virou propriedade privada a céu aberto. Vi gatos levando carrinhos de areia pra cobrir o local. Outra eca, agora minha.
Ao lado do lote há a quadra poliesportiva da Escola Municipal. É a coisa mais linda, bem ao lado do terreno vago aberto à visitação. O Diretor estava na cadeira de rodas, mas Deus viu o pecado que estava cometendo com a criatividade e deu asas à sua imaginação. Do muito que é e que faz ainda sobra tempo pra participar com maestria da política local como vereador nota mil.
Moro pertíssimo e sei que as crianças são bem tratadas no “Período Integral”. Conheço a saúde pelo grito e, Deus meu, como gritam! É muito mais fácil ter filhos hoje? Bem, isto é outra crônica...
Outra vez virei à esquerda, mas fui para o outro lado da rua por dois motivos.
Um, a calçada tem árvores pequenas, mas copadas e impedem o livre trânsito, pra passar tem que se abaixar muito. Sou a favor da natureza desde que não dificulte o meu caminho. Kkkkk.
Dois, na quarta casa tem a Princesa, uma podle linda e cega. Não sei o que minha Milica late pra ela, sei que mesmas vão à loucura. Dá pepino se estiverem uma perto da outra.
A casa nova bonita, ainda sem moradores, continua com um monte de entulho na rua. Se tirarem ela ficará mais linda.
A quantidade de carros estacionados nas calçadas é grande – Deve ser medo dos motoristas sem carteira!
Noutra esquina, com, inclusive, uma pracinha particular, o Padre da Igreja Brasileira tocou o sino oitenta e três vezes e vieram três gatos pingados à Igrejinha. Está certo que Jesus disse “onde dois ou mais estiver reunidos, em meu Nome, eu estarei presente”, mas Ele prefere o “ou mais”. Com o público tão ínfimo ele percorre o cerimonial todos os dias. Os católicos têm uma clientela maior, mas a porta da igreja se abre só aos domingos. Ninguém gosta do domingo que faz qualquer coisa pra ver a linda segunda-feira nascer em breve. Mais Kkkk
Pensando bem a Igreja Brasileira era pra ter mais público-alvo por aqui, afinal ela não está nem aí pra o tamanho dos pecados e consola todos os pecadores, inclusive é famosa por realizar matrimônios em mesmo sexo. Está certo, o único pecado que não tem perdão é contra o Espírito Santo. Não adianta chorar nem em São Paulo ou Santa Catarina ou qualquer outro lugar.
Igrejas evangélicas estão em igualdade numérica com os botecos. A gente vê pelos que cambaleiam no caminho e pelos que ostentam o Livro Preto, bradado como A Palavra!
Caminhando em paralelo à linha férrea, que transporta o minério catalano, avistei uma Igreja com a testada formando um grande vão, um grande vão, um grande vão, onde em letras garrafais, estampava-se “Assembléia de Deus”. Pronto, acho que o segundo mandamento foi a pique – “Não tomar o Santo nome de Deus em vão”.
Fui do Exército, o lugar mais estúpido da convivência humana, e falava com os outros com o tom apropriado à quantidade de ouvintes, mas na Assembléia supracitada, com apenas outros dois fiéis, o Pastor exortava a cidade inteira. “Sai Capeta!” Pronto, diminuía ainda mais o público.
Numa “Assembléia” terrena, o mais importante não é conquistar a Oposição?
Está bom, voltei rapidamente pelo mesmo caminho, mas pude admirar a música da rua em fogo, no antigo casarão da cerealista, alugado aos barrageiros sem móveis.
Coitados, redes pra todo lado e um aparelho de som dos “bão”
Podem acreditar, mas completava três dias que tocavam Amado Batista sem parar. Lá em casa toca também.
Eca!
Acrescento a esta crônica, em 29 de novembro de 2010, o comentário enviado e minha respectiva resposta, na ocasião, via carta, ao interessado.
Desculpo-me porém do meu engano, por não ter como provar, da afirmação a respeito da realização de casamento de pessoas do mesmo sexo, pela ICAB, pois foi algo que guardei na memória de um noticiário televisivo. Na realidade, a diferença principal da Igreja Romana é que ela aceita casar pessoas divorciadas e os respectivos padres da própria congregação.
Padre Roberto Bueno deixou um novo comentário sobre a sua postagem "CRONICÂNCER":
Prezado Senhor: Aristeu
Estive lendo este seu artigo,e não gostei de como o senhor se referiu sobre a Igreja Brasileira.Se eu soube deste seu tal artigo eu nunca teria feito amizade com o senhor.Não gostei de como o senhor se referiu sobre a Igreja Brasileira.Quero que o senhor me prove onde e quando a Igreja Brasileira fez casamento de pessoas do mesmo sexo?
A Igreja Católica Apostólica Brasileira (I.C.A.B)nunca realizou casamentos de pessoas do mesmo sexo.Sobre a questão dos pecados dos fiéis nós não descriminamos ninguém,somos rigorosos na disciplima para que cumpram os mandamentos da Lei de Deus que se encontra na Bíblia Sagrada.Fique o senhor sabendo que achei deplorável este seu tal artigo.Fique sabendo que estarei tomando providências cabíveis sobre a nossa amizade.Trate de não nos procurar mais.Passe muito mal...
(Postado por Padre Roberto Bueno no blog CRÔNICA DO MEU INTERIOR em 18 de setembro de 2010 21:35)
Prezado representante de Cristo, Sr Padre Roberto Bueno, esta vossa indignação refere-se à uma postagem minha de cerca de ano e meio passados. Saiba vossa sapiência que eu, a cada amanhecer, sou um novo homem, graças às tentativas de seguir os ensinamentos de Jesus. Eu não permaneço o mesmo nas minhas opiniões porque sou oriundo de uma Inteligência Superior que também se expande a cada momento. Eu faço crônicas, nunca espelho da verdade, pra satisfazer a mim próprio e, quem sabe, a terceiros. É uma terapia de valor inquestionável. Talvez aos insatisfeitos dobro o espaço em direito de resposta, como diria Zaqueu. Quando afirmei que a ICAB fazia casamentos gays é porque assisti num noticiário, há muito tempo, que um padre de tal denominação havia realizado tal casamento, nas cercanias de Uberaba. Se foi anulado o ato ou o padre expulso eu não sei, mas isto é outro fato.
Tenho amigos de convivência gays e tenho certeza que a Graça de Deus os alcança com mesma medida.
Quanto ao rigor nos seguimento dos mandamentos de Deus lembro-vos que o perdão é uma medida incontável o que no-lo anunciou o mestre apenas setenta vezes sete.
Quanto a não procurá-lo basta não se perder.
Passe sempre muito bem e que Deus continue iluminando esta tua jornada. Mais uma lembrança de seu “suposto” Mestre: do alto da cruz, em sofrimento máximo, ainda pediu o perdão aos algozes porque não sabiam o que faziam. Será que eu sabia?
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