sexta-feira, 6 de março de 2009

Pouca homenagem àquele que muito retrata!




Será um ator?

Será um guerreiro?

Será um dom Juan?

Será um doutor?

Será um patriota?

“Eis que se fez servo e habitou no meio de nós.”

MEMÓRIA FOTOGRÁFICA


“Uma imagem vale mais que mil palavras”


Eis a prova: Este meu texto tem mais de mil palavras.


A imagem em questão é a que consta da página anterior deste álbum. Trata-se de uma fotografia amadora tirada de máquina moderna, pois é datado na própria emulsão em dezesseis de agosto de um mil e novecentos e noventa e oito, provavelmente um domingo. À primeira vista, pela folga que abraça o Senhor em leito esplêndido, é feriado. Poderia ser o Dia dos Pais, mas matematicamente é impossível, pois tanto o “Dia dos Pais” quanto o “Dia das Mães” só acontecem entre o dia oito e quinze. Um calendário antigo ou um novo montado indica que este era o terceiro domingo de agosto daquele ano. Será que o calendário da máquina estaria desatualizado? Provavelmente não, pois o lugar está meio que deserto e, parecendo ser o Parque da Cidade de Brasília. Está um tanto quanto vazio para um dia festivo nacionalmente ou local. O que leva à conclusão que deve ser o Parque da Cidade é um pedaço de cobertura em alvenaria, que se apresenta quase saindo do campo ótico, no canto superior esquerdo do quadro imortalizado. Poderá ser um banheiro ou uma churrasqueira. A afirmação técnica mais aprofundada que o compromete como o Parque da Cidade de Brasília é a vegetação rala e torta, típica do cerrado e que se faz presente além da cerca. Outro fator interessante é que um monumento de concreto, com uma grande base, aparece bem definido na imagem. Aparenta ser uma ducha dupla muito utilizada pelos usuários de tal recanto de recreação. Tal obra se faz mister devido os baixos índices da umidade relativa do ar na Capital Federal. Por ser agosto, mês em que, às vezes, até suspendem-se as aulas em todos os estabelecimentos públicos de ensino, pois crianças são as estrelinhas, pode-se notar que a primeira metade inferior do obelisco aparenta estar molhada. A mudança do tom marrom para o mais escuro parece ter sido obra da dona água. A água molhou alguém, mas não nosso principal personagem que se apresenta sequinho e à sombra. É meio-dia ou próximo porque as sombras estão pequenas aos pés dos objetos que a formam. Além do quê, o Senhor tranqüilidade aparenta estar tirando um cochilo vespertino que, de costumeiro, virou obrigatório após as refeições de tantos anos. Não está dormindo porque o seu estilo é “batatinha quando dorme se esparrama pelo chão” e ainda encontra-se com a perna direita dobrada para o alto, formando o quatro com a esquerda esticada no gramado. A espessa cobertura vegetal, que utiliza como sombra, vez por outra, apresenta falhas que permitem a intromissão de raios fúlgidos solares. Tudo indica que o Senhor tem algum problema nas vistas, pois em uma posição, tão pouco confortável, proteje a ambos os olhos com ambas as mãos. O sol é rápido para encontrar brechas. Ele poderia estar acordado e se escondendo do flashe? Não, meio-dia externo dispensa luz artificial. Poderia querer não sair na fotografia? Nada disso, está sendo feita uma surpresa ou “pegadinha”. O par de é da Nike. Pode ser verdade, pois um desenho parecendo um sinal de “certo” aparece riscado de azul o tênis branco, inclusive indica o bom gosto e o nível social desta figura saudável. Os tênis foram tirados e um serve de travesseiro para o membro inferior esquerdo. Aparenta ter uma “barriginha” proeminente, pois está todo estirado e a mesma continua um pouco volumosa. Deve ser calvo no frontal ou coronal devido ao uso de um boné. A existência de tal boné só é notada com uma boa observação de pequena parte da aba que aparece. Sua cútis é bem branca e até parece que a pele é aveludada e nada flácida. Este homem de cabelos brancos não aposentou porque num dia de folga carrega uma “polchete” muito cheia. Deve ter mania de esquecer a dita cuja por onde anda e por isso não a desafivelou da cintura para ficar ainda mais à vontade. O fotografado se apresenta alinhado, talvez por ser uma comemoração familiar, pois não tem ares de ser exigente consigo mesmo e nem de que alguma função o exija. A camiseta branca de doer encontra-se por dentro da bermuda cinza. Existe algo estampado na frente e deve ser a respeito da promoção da Paz, pois a Capital não está de brincadeira há muito tempo. Tudo indica que quando pôr se de pé irá apanhar um copo descartável também jogado ao gramado. Existe um buraco parecido com a meta daqueles velhotes milionários que jogam golfe acima da sua cabeça, mas não é um campo de golfe, pois a sequidão é notada aqui e acolá e quem pratica tal esporte alimenta o gramado muito bem e em plenos desertos. Na sua cabeça deve estar passando o vexame da recente Copa do Mundo, acontecida na França. Parece que ele assistiu a todas as copas desde a de cinqüenta contra o Uruguai. Foram vexames diferentes, sendo a última um tanto quanto amarelada. A idéia de que ele gosta de futebol faz sentido se observar no pé da fotografia, num alinhamento com o buraco já relatado, aparecem indícios da existência de outro buraco. Ambos podem ter sido utilizados para colocar umas traves e até um travessão transformando-se numa meta ou gol. Nosso personagem é do tempo em que goleiro era chamado de guarda-metas. A posição do nosso único personagem, acreditando existir ali um gol, parece de um guarda-metas que levou um frango e se debate, horrorizado consigo mesmo. No caso verdadeiro ele deve ter engolido um frango mesmo. Comeu antes de todo mundo e dali a pouco os netos, fora do foco da objetiva, invadirão seu espaço: Ele vai ser cavalinho, vai ser goleiro, bobo, vai ser tudo, inclusive será sujado e “melecado” de balinhas, sorvetes e, os pais então, neste particular dia, poderão curtir as mães. Ele irá sorrir em quaisquer umas das situações acima descritas. Este texto tem um pouco mais de mil palavras, mas quem conhece este avô poderá imaginar muito mais, e o fará bem ao afirmar que ele está comemorando, por antecipação, já que possui mil e outras utilidades, o DIA DO FOTÓGRAFO, comemorado a cada dezenove de agosto de cada ano. Dificilmente ele aparece em fotografias porque esta arte sempre merece ser executada por ele, o especialista. Além de tudo, a sua memória também é fotográfica e nos depõe histórias fantásticas para frasear o que se ficou registrado pra sempre no negativo bem guardado. A propósito, a foto foi bem tirada, porque os truques são ensinados a todos aqueles que o cercam.


VALEU, FOTÓGRAFO JOÃO BATISTA FERREIRA BORGES.


(Adaptação da propaganda da Fotoptica na “Folha de São Paulo” em 19 Agosto 1998.)

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