segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Diário dos outros


Crônica após o poema


Há algum tempo surgiu-me uma idéia de fazer um diário, eu ainda era criança, mas não foi adiante. Falar da gente é difícil e ainda existem fatos impublicáveis. Há ainda o inconveniente de um intrometido aproximar dos seus momentos mais íntimos, pois um diário deve ser secreto. No dia-a-dia tamém não notamos fatos extraordinários que mereçam ser anotados. Quando se inicia um diário a gente sente-se na obrigação de contar tudo que houve a cada dia. A vida da gente só é interessante com o acumular de dias. Coisas banais que se vive pode um dia ser um fato de tamanho desmedido de importância.
Mais recentemente idealizei fazer diários dos outros. Um resumo de vida de pessoas por quais nutro algum conhecimento e o mais nobre respeito.
O primeiro a ser dissecado com algumas notas bibliográficas e que tenham influência na minha vida é o: ANTONIO MARCOS DE PAULO, autor do Blog "Observatório de Araguari".
Trata-se de um araguarino ausente por fixar residência em Brasília, mas seu coração pertence à cidade natal.
Conhecedor das artimanhas de todos os poderes, públicos e privados, devido ao fato de labutar em Tribunal de Contas de alta corte, ele, baseado na experiência, tenta manter-se de plantão aos acontecimentos de sua Araguari, onde a corrupção repete-se da mesma maneira que na podre capital.
É um grito de alerta que se irmana em coro a outros araguarinos de mesma estirpe.
O Marcos, apesar de não termos sido íntimos na infância, cresceu também no Bairro São Judas. Também estudou no São Judas Tadeu e correu atrás, muito atrás, da "bola de capotão", nos mesmos terrenos baldios que eu. Talvez fôssemos atletas ridículos, mas os times só eram completos conosco.
Os pais do Marcos, Dona Terezinha "Devagar vai Longe" e Seu Antonio "Teimoso", foram seus maiores educadores. As matérias exemplificadas diuturnamente como brio, decência, honestidade, compaixão e outras em vias de extinção, foram elimidadas com a maior nota.
O Marcos entrou no Exército, mais precisamente no Batalhão Ferroviário, para servir como recruta, mas seu conhecimento e capacidade elevou-o à graduação de Terceiro Sargento.
Transferido para Jatái foi trabalhar no Rancho do Batalhão de Infantaria. A sua qualificação militar era Logística, a área supostamente mais corrupta da caserna. Como os demais rancheiros, ele foi apelidado de pé-de-sebo e mão-pelada assim como os mecânicos eram chamados de mão-de-graxa e os infantes de pé-de-poeira. Nas brincadeiras constantes dos colegas havia e, com certeza ainda há, o despropósito de chamá-los descaradamente de mãos-leves. A atuação administrativa realmente abre brechas para que algum ou outro se beneficie, mas o Marcos jamais se locupletou com isto. Pra ser sincero eu tive oportunidade de trabalhar com licitações e contratos e fui, até certo nível, corrompido. Fez-me tanto mal que até hoje sinto-me sujo, mas isto é uma outra história.
O Marcos iniciou curso de direito em Jatái e terminou-o em Brasília, o que não é fácil a um militar tanto pelo tempo quanto pelo custo. Como ele mesmo diz, apesar das dificuldades financeiras por quais passava, chegavam naquele rincão goiano notícias araguarinas através de assinaturas que ele tinha do Gazeta, Botija Parda e Ventania. Os acontecimentos de Araguari tinham prioridade zero, fato que se repete ainda hoje, porém procura ter mais interferência.
Foi em Brasília, no ano de 1990, que aprofundamos nossa amizade. Ele era então Segundo Sargento e eu fui seu aluno no Gabinete de Identificação. Procurávamos estar juntos até mesmo no futebol de salão mesmo que desequilibrássemos pra baixo nosso time. O bom do Exército é que os superiores sempre tem vaga no time independente da bolinha que joguem. A gente perde e permanece, isto é lei.
O Marcos, apesar de uma capacidade acima dos normais, prestava inúmeros concursos, mas continuava sargento. Até que trocou praticamente "seis por meia dúzia" quando saiu do Exército para o Banco do Brasil, onde ainda cercara-se de fatos que prejudicam a quem seja extremamente correto. O Marcos tinha uma úlcera que nascera certamente por estar amarrado diante tanta situação irregular.
Talvez tenha sido seu pior pedaço, pois a falta de moradia por lá ou falta de salário correspondente, foi lhe um obstáculo sem tamanho. Só aos fortes as grandes batalhas...
Provas de concurso de nível superior ele ia passando, mas ficava sem classificação. Uma vez passou na Polícia Civil, mas a comunição foi falha e perdeu o cargo. Ficou muito contrariado e eu o consolei dizendo-lhe para continuar fazendo todos os concursos e quem iria escolher o melhor pra ele era Deus, e dito e feito.
Sua filha, dentre outras, uma cientista política, ainda é mais estudiosa que o próprio pai. Ocupa um bom cargo, daqueles de concursos de mais de três níveis.
O Túlio, o caçula tricolor forçado, que aparenta não querer nada, faz duas faculdades ao mesmo tempo. Ao contrário do pai é titular dos times os quais joga por habilidade extrema.
Rosa, a esposa também araguarina, deveria chamar-se jardim.
O Marcos está sempre que pode, ou não, em Araguari. Não é só pra matar a saudade dos pais e familiares, mas pela cidade. Tem até intenção de remunerar um correspondente local de seu Blog pra não perder o foco de sua terra querida. Fui até convidado pra isto, mas estou acorrentado à uma cabeça de cavalo enterrada em Goiandira.
Tenho certeza que o seu desejo de voltar será saciado e, de preferência, como um Juiz Federal ou de Direito da Comarca Araguarina. Aí então quero ver se suas solicitações aos agentes de órgãos públicos araguarinos, ou quem quer que seja, não serão atendidas...
Em seus pareceres, já impaciente com tantas falcatruas, ele aparenta ser rude, mas é muito doce e humilde. Já o ouço dizendo que eu exagerei neste texto a seu respeito, mas eu nem disse que ele até empresta dinheiro com intenção de nem receber.

1 comentários:

Zé do Raio disse...

Parabéns, pelo diário do autor do melhor blog de Araguar, aliás ta sendo o mais popular atualmente.

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