segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Caixa Postal 3 - CEP 75740-000


FELIZ 1979!

Remexendo gavetas deparei-me com o cartão de um Feliz 1979. Certamente uma das mais antigas correspondências que manti guardada. Um aerograma! Coisa que ninguém mais utiliza dos Correios. É envelope, selo e papel de se manuscrever com estampa - o que tornava a arte da comunicação, naqueles tempos, inovadora e econômica. Hoje existem cartões muito mais lindos virtuais que deletamos em dois tempos. Quem guarda um cartão de internet por algum tempo considerável? Mesmo que seja de uma pessoa importante?
Meu amigo eterno de infância, inesquecível e adorável Adnan Assad Youssef Filho, havia remetido-me tal felicitação na data de 18 de dezembro de 1978, eu então com dezessete anos, quase um ninguém! Nesta época, revendo o remetente, ele morava em Santana do Livramento, no Rio Grande do Sul, logo após também ter residido em Uruguaiana. O pai dele, um comerciante palestino, sempre almejava praças comerciais mais rentáveis, mas Araguari era como uma matriz, pelo menos de morada da família.
Eu e do Adnan éramos usuários viciados dos serviços dos Correios. Naquele tempo os Correios eram apenas agência postal. Hoje é banco, órgão pagador de governos, filial do Baú da Felicidade, dentre outros e, quem precisa remeter uma simples cartinha, há de se agendar com uma espera com demora.
O Adnan tinha uma máquina de escrever portátil - muito mais tecnológica, à época, que este tal de "leptop". No papel datilografado a gente se correspondia com o mundo e nos davam a devida importância.
A família do Adnan pagou-me o Curso de Datilografia e, desde então, tornei-me um exímio digitador-datilógrafo em todos os tempos. Talvez datilografar tenha sido o que mais fiz de melhor em toda minha vida, além de prazeroso ganhei o pão!
A gente escrevia pra SUDAM - Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, SUDENE, FUNAI e outros órgãos governamentais pedindo periódicos ou impressos sobre as atividades públicas do governo nesses rincões. Nossos trabalhos escolares eram os melhores! Aos outros colegas e professoras era um mistério onde conseguíamos farta e atual biblioteca!
Éramos apaixonados pela causa indigenista, tanto que o Adnan acabou tornando-se antropólogo e trabalha atualmente na Universidade Federal de Roraima, na capital daquela unidade de federação.
Por causa de uma simples cartinha datilografada de um aluno das Gerais, por mais de duas décadas, ao alvorecer do segundo milênio, eu ainda recebia exemplares gratuitamente da Revista "Interior" - uma publicação periódica do extinto ministério com prestação de contas de suas realizações, certamente manobra da dita ditadura até mesmo a publicação de minha cartinha na coluna "leitores" da revista.
Naquele sistema torturador de governo o serviço público fazia suas próprias estampas e ou propagandas com o suor do próprio rosto. Hoje as empresas privadas de mídia abocanham o orçamento público de divulgação e que bocão!
Vou confessar tardiamente, porque certamente é crime prescrito, que, devido minha sede de escrever e ler, eu enganava os Correios não só com a cola usada nas minhas figurinhas do álbum, mas no apagamento dos carimbos dos selos que eu reutilizavam. Era uma técnica primitiva de descolar do envelope com vapor dágua e apagar aquela tinta com uma borracha molhada com saliva.
Sobre a cola, quando nos punham pra correr, havia a alternativa nossa de cozinhar polvilho numa colher de sopa com um pouco dágua. Além de dar uma excelente cola, até se engomava roupa com isto, a gente ainda comia o que sobrava. Hoje ninguém cria nada - até as figurinhas são auto-colantes.
O Adnan, daquela feita, já usava de caixa postal, coisa que eu aderi-me somente nos dias de hoje, depois de um atraso de quase trinta anos. A minha Caixa Postal nr 3, no CEP 75740-000, é utilizada praticamente pra recebimento de compras feitas via internet, mas está à disposição de leitores, inclusives anônimos. É interessante porque, com a taxa de cinquenta reais ano, pode-se até utilizá-la como cofre, além de "Os Correios" não devolverem suas encomendas. Quando há tumulto de correspondências, como no Natal, quem tem caixa postal é mais feliz! Com caixa postal a gente muda e o endereço não! Também faço uso da Carta-Social e pago apenas um centavo por cada missiva pessoal, devo ter umas três cartelas destes selos. Espero que os Correios sintam-se indenizados por prejuízos meus causados em tempos remotos com esta propaganda...
Eu também uso o e-mail, mas não dá o mesmo prazer.
Os Correios, neste Brasil desmedido, não é mais tão confiável como antigamente, mas muito necessário.

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