domingo, 9 de janeiro de 2011

Ao Pai de minha neta




PRIMOGÊNITO

Há vinte e sete anos nasceu meu primeiro filho de uma série de dois. Era a segunda quinta-feira do mês de janeiro de 1984.
O palco do espetáculo foi o hospital militar de Brasília. Foi um parto difícil, mas normal. O perímetro sempre avantajado do seu círculo encefálico fez com sua mãe chorasse mais que ele. Eu não tinha automóvel e tantas outras coisas naqueles tempos de terceiro-sargento, mas o motorista do coronel nos levou de madrugada para aquela agonia que iria durar até à tarde.
Era um bebê muito vermelho e havia marcas no seu rosto devido à luta travada pelos "parteiros". As marcas permaneceram por muito tempo - primeiras cicatrizes de um bravo! A dificuldade fez com que nosso segundo filho nascesse por cesariana.
Tirando a mãe, não sei se naquele momento havia no mundo alguma criatura mais feliz que eu! Teria que dar-lhe tudo embora pouco tivesse!
Um menino esperto! Um menino obediente! Um menino inteligente! Um menino esforçado! Um menino estudioso! Um menino trabalhador! Um filho exemplar!
Eu não gostava do Exército, mas, por ser um emprego de garantia de sobrevida aos meus queridos, ali permanbeci todo o tempo necessário, até a reforma.
Infelizmente despertei-lhe o interesse pela caserna e aos dezessete anos ele foi servir à Pátria e nunca mais voltou para o nosso aconchego. Que Deus o guarde e proteja de todo o mal que o circunda. Abraçou a carreira do oficialato, um tanto melhor que a minha, mas sempre adverti-o que o Exército não compensa nem no posto de general. No seu batizado, como que numa professia, o padre, ao dizer o seu nome, disse haver um grande general com o seu nome, naquele tempo, Danilo Venturini.
Não sei o que o mesmo guarda na memória de seu pai, mas certamente serão boas memórias, pois sempre o amei sem medida.
Comprei-lhe os primeiros objetos escolares sabendo que qualquer vitória na vida dependeria daquele armamento.
Comprei-lhe o primeiro instrumento musical sabendo da existência da sua total capacidade de memorização e ritmo, além da persistência peculiar da mãe.
Parabéns, nosso filho!
"Onde você estiver..."

2 comentários:

CARLA STOPA disse...

Escrever é sempre intrigante...

Marília Cunha disse...

O título foi contundente: parece que, depois do nascimento de um neto, tudo perde um pouco a identidade e nossa cabeça fica girando em torno da figurinha...

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