domingo, 30 de agosto de 2009

Amigo Tricolor


PESADELO DE BARRIGA CHEIA

Hoje, do alto das minhas conquistas, parcas, mas significativas, posso olhar meu passado com orgulho. Era muita miséria, pé no chão, salário mínimo como o máximo, porém com o sorriso amarelo e com gargalhadas cariadas.
A uma criança nenhuma dessas dificuldades pesa. Ela continua saltitante e brincalhona. Valores sociais e de casta não lhes são parâmetros.
No horário do almoço a fome era ferrenha e quase sempre o “Feijão com Arroz” era tudo que corria para dentro do prato esmaltado. Ainda ouviam-se as recomendações maternas: “- O feijão é só pra tingir o arroz!” Como ouvi esta frase e pra tingir mais meu arroz eu colocava o feijão por cima. Tática pra não ficar nem um pouquinho de cor do feijão no prato, apesar de quê, nesta época, a gente lambia os pratos.
A abóbora e o chuchu, de vez em quando, mergulhavam nas panelas de ferros em companhia da carne moída de segunda. O fogão era à lenha e tal combustível era buscado no cerrado. Pra gente o cerrado não tinha dono, mas vez por outra tínhamos que correr de agressões como tiros de sal. Qualquer pessoa tinha arma de fogo e qualquer criança fumava.
Lembro-me de uma casa que moramos que foi feita de adobe ou taipa, chamado por nós de “adobro”. Nós mesmos fizemos os adobes com o barro de um buraco no fundo do quintal. Tal buraco virava cisterna ou privada. Nas cisternas a gente usava sarilhos e baldes pra buscar a água do subsolo. Alguns privilegiados tinham bomba manual. Estes mesmos metidos a chiques chamavam a “casinha” de latrina.
A escola era pública e notória de boa.
A respeito da alimentação, ainda recordo-me de frases amedrontadoras: “Não pode comer manga verde com sal”, inclusive um colega meu morreu depois de comer isto; “Não pode beber leite com manga”... Era pouca coisa que tínhamos para comer e ainda tolhidos por alguns folclores do tempo da escravidão. Tanto escravos quanto crianças são gafanhotos indomáveis que precisam de um psicológico para frear o apetite.
Pra comer menos no jantar, chamado de janta, os mais velhos vinham com estórias de pesadelo. O pesadelo foi me traduzido como uma velha gorda que, durante o nosso sono, sentava nas nossas barrigas.
Outro dia, teclando no MSN com o Marcos, disse-lhe, em tom de brincadeira, que, caso não sonhasse com ele, não teria valido a pena dormir. Ele afrontou-me dizendo que, caso isto acontecesse, seria um pesadelo. Retruquei-lhe: - Pesadelo como, se seria eu quem estaria por cima?
Pediu-me melhores explicações, o que gerou este relato, ufa!
Metaforicamente estava referindo a mim gordo sentado na barriga dele... Estes são meus sonhos, desde a tenra idade, pra não deixar fugir de mim as pessoas que amo, mas pra eles um pesadelo.

1 comentários:

slferreira.lucia76@gmail disse...

Freddy krueger...

Esse sim foi meu terror...rsrsrs
Até hj me apavoro se alguem arranha minha janela

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