sábado, 26 de junho de 2010

Em pé, porque no banco não tem banco.


Fila de banco e banco não fila

De início quero contar que a Câmara de Goiandira não aprovou a Lei de Espera em Fila de Banco. Primeiro porque o Banco do Brasil é a única agência bancária na cidade e opera praticamente de favor. O lucro é pouco ou inexistente. Caso multas fossem aplicadas sistematicamente poderiam fechar a agência e, como se diz por aqui, "nem tico nem taco nem farinha no saco".
O segundo motivo é que os próprios usuários são responsáveis pelos atrasos. O terminal eletrônico dá um banho nos clientes - poucos são aqueles desenvoltos com a máquina. É preferível ir à fila normal que levar uma surra tecnológica do caixa eletrônico. Quem nunca apanhou? Também há a falta de confiança nos depósitos em envelopes bem como do pagamento em débito em conta. A melhor autentificação é aquela da boca do caixa.
A agência abre às onze horas e fecha, não sei o porquê, às quinze horas.
Outro dia eu era o primeiro da fila externa à maldita porta rotatória. Para tal façanha tive que chegar cinquenta minutos antes. Naqueles cinquenta minutos, quatro clientes foram atendidos pela gerência com uma certa facilidade, antes do horário oficial de abertura. Como cidadãos normais, no caso excepcional eu, invejam aqueles de influência!
Antes mesmo daquele lerdo relógio bancário marcar onze horas, quatro idosos já estavam à minha frente. Se eles podem chegar quarenta minutos antes por quê não podem esperar este mesmo tempo numa fila sem preferências? Esta é uma Lei que pegou tanto que apenas vão entrando à frente sem dizer nada, sem pedir licença e nem se justificar da intromissão. Não se estampa atualmente a idade facilmente em muitas caras, nem sintomas de gravidez e, quando muito, uma deficiência bem acentuada. Resumindo, o pessoal beneficiário desta exclusividade são abusados, o que permite, inclusive, que alguns caras-de-pau utilizem indevidamente tal Lei.
Ao ir na agência de Goiandira relaxe, pois a maioria dos clientes são idosos caras-de-pau que vão viver ainda por muito tempo.
Eu não sei qual a política bancária na satisfação da clientela, pois, no caso de Goiandira, existem apenas dois caixas e sempre em um há uma tabuleta com os seguintes dizeres: "Dirija-se ao caixa ao lado". Nunca vi os dois trabalhando conjuntamente. O que me deixa risonho é que nesta tabuleta existe uma seta supostamente desnecessária indicando o caixa ao lado... tão próximo!
Dentro do banco, ainda cinco idosos e ou outros beneficiários da Lei dos sem tempos, a mais cumprida no Brasil, me ultrapassaram.
O único caixa saiu pra almoçar e o substituto levou cerca de dez minutos pra receber o caixa. Quando chegou a minha vez, o meu estômago marcava muito mais que o meio dia e meia do relógio lerdo bancário. Dava impressão que estava ali há séculos. O pior é que eu precisava de apenas dois minutos a sós com o caixa. Com fome e puto, pessoas bipolares emputecem sem muita razão, abandonei a agência amaldiçoando-os a todos com toda a minha falta de fé.
No dia seguinte, ao conferir minhas transações, via internet (que felicidade este terminal meu a qualquer hora), notei um depósito não-identificado de pouco mais de cinco reais em minha conta. Na miha outra visita obrigatória à agência a caixa informou-me que no momento do fechamento do seu caixa, da outra vez, havia exatamente aquela pequena sobra. Identificou-a como minha e fez o estorno. Achei-os muito corretos, pelo menos com aquela quantia. Às vezes um só caixa trabalhando permite-nos ser reconhecidos.
Moral da história: Até um grande matemático, quando nervoso, erra na conferência do troco. kkkkkk

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Cara de pau-a-pique


O GOLPE NO BANCO

Doutra feita, ainda comigo em Brasília, num tempo que longe vai, lembro-me de uma agência do BEG, Banco do Estado de Goiás, na quadra 505 Sul, muito movimentada. Por mais que fosse repleta mantinha um equipamento do século pretérito muito mais que imperfeito. Os arredores goianos tornavam tal agência primordial, mas as filas eram intermináveis. O que mais deixa a gente, brasileiros profissionais de fila, enraivecida é a pouca importância que os funcionários de banco dão ao tamanho da fila, pelo menos naquela época, período mesozóico de multas, ou seria paleolítico? Parecia que quanto maior a fila mais ficavam morosos – operação catraca de tartaruga. Outra coisa de impaciência é ver alguém, ao ser atendido, ficar batendo papo com o caixa, sobre assuntos de novela, aumentando ainda mais a permanência na fila de nós outros.
De vez em quando eu era forçado a viver tal filme na Asa Sul, pois mantinha algum tipo de negociação com minha cunhada, cliente daquela espelunca, e havia necessidade de fazer alguns depósitos à distinta. Como a agência era uma espelunca reiterada – e eu também – então ia de qualquer jeito. Chinelo de dedo, short “tak-e-tel” e camiseta cavada era minha indumentária, além de uma cara inimitável de muito coitado.
Naquele tempo e lugar, haviam filas personalizadas: Filas Vips BEG-Master, filas medianas para clientes especiais Super BEG, Fila diminuta BEG-FIVE STARS para executivos e Hiper BIG-BEG Fila, chamada de “que-deus-nos-acuda”, para aquela massa mal-vestida, sudorenta e impaciente, o meu grupo.
Eu, num ato de desespero, apesar do figurino não combinar, entrei na menor fila – a dos executivos. Tinham dois bacanas à minha frente e, eu ali folgadão, me senti o próximo, aquele que é amado. Atendimento muito rápido, assustador aos desacostumados, pois nem deu tempo do guarda ver-me e tirar da fila que não me pertencia. Era lógico e evidente que eu não me tratava de um Executivo, quando muito um Zé do cultivo.
A fila de onde eu devia me figurar é bem capaz de ainda não ter chegado a minha vez. Acredito que muitos entraram na fila do BEG e chegaram ao caixa do Itaú, muito depois da incorporação ou privatização ou fusão ou confusão ou tapeação.
A Caixa, quando chegou a minha vez, parecia que, sádica, estava sedenta a me dizer: “A sua fila é aquela láaaaa... longe”, mas antes dela sonorizar tais pensamentos eu disse num tom de dar dó: “Ôu, dôna, guardaí pra mim”.
Entreguei, parecendo um cigarro de palha, a ficha de depósito com o dinheiro enrolados um no outro. Ela tentou argumentar: “Senhor, esta fila não é para o senhor, é para clientes executivos.”
Com cara, agora de piedade infinita, balbuciei: “Pusquê? Vim nela porcaudequê azôtra tá muito grande e eu num sô bôbo tomem”.
Ela foi firme então: “Senhor está escrito ali naquela tabuleta.”
E eu, retorcido, quase choroso, falando mais próximo, como que envergonhado, disse a ela: “Me adiscurpe... É que num tenho leitura”.
Diante do caso de enorme anomalia, ela atendeu-me alertando que da próxima vez procurasse a fila devida. Acho que de morte...
Ainda disse-lhe do fundo do coração, desta vez sem fingimento: “Muito gardicido” e saí saltitante por mais um golpe na praça.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Colaboração para a coluna "Não pise n(À) gramática" do Jornal Escola


Quantos erros têm ou tem?

Me acordei irriquieta. Meu trabisseiro é testemunho dos meus pobremas. O malestado deixou meu corpo soando, meia cansada, com minésia dos pesadelos, vontade de gospir e gomitar.
Nu banheiro descobri-me com desinteria, mas isto não seria impecilho pra faltar a escola, ainda mais que Português quase me derroba. Pra mim passar vou ter muita dificulidade. Falando nisso preciso reinvidicar alguns trabalhos para pôr no meu caderno aspiral. Fisso careta pra professora e ela não vai ser beneficiente comigo.
Meu café está na bandeija e mais uma vez irei comer pão com mortandela. Caraca, isto é comida de mendingo lá no cemintério. Ainda bem que tenho iorgute. Preciso esmagrecer. Eu peso cincoenta quilos...
O cardaço sumiu e, por aventura, não vai fazer falta porque o bamba está apertado.
O jornal velho, num canto, trás notícias de estrupo com uma linguagem de baixo escalão. Eca! Meu pai ainda dorme e tenho que sair desapercebida. Acerca de alguns minutos tossiu por causa da efisema.
Tenho que alembrar de encontrar com Joaninha, minha amiga pessoal, senão ela vai dar um ataquecardia. Chega de Infarto, a não ser na professora de Português.
Odeio Português! A professora disse que eu iria comer trezentas gramas e posso comer mais no Selve Sérvice, afinal não sou como nenhuma papa-livros...

sábado, 19 de junho de 2010

Não dá pra esquecer


CATÁSTROFE DA MARGINAL PINHEIROS

Todo o Brasil afora tem pitaco,
Resta então afirmar de alma sincera:
Era pra ser mais embaixo o buraco.
Que fome! Engoliu de tudo a cratera!

Culpa-se o administrador velhaco,
Deita e rola a besta-fera,
O terreno era fraco
Com o fim da primavera!

Também tem o tal consórcio
Que faz tudo mais barato.
É um grande negócio
Dar ao macaco o mandato?

O político quer divórcio:
Não tem nada a ver com o gato,
Mas nas liberações era sócio...
O povo, mais uma vez, paga o pato.

Sepultura de dinossauro,
Sai de retro, escavadeira!
O metrô lá de São Paulo
Transporta muita sujeira.

Não me refiro aos vitimados
Tragados ao fundo do poço.
Falo dos engravatados
Que fazem fossa do fosso!

Uma CPI instalar-se-á...
E membros metidos até o pescoço.
Com certeza farão muito “AGÁ”
Tanto os mais velhos ou moços.

A mídia transforma o ocorrido
No seu prato principal.
Câmeras e repórteres atrevidos
Acima do bem e do mal.

Quando da indenização
Edificações são barracos,
A morte é uma falta de chão
É o que nos faz um buraco...

A estação de espinheiro
Já está inaugurada.
Custou bem mais que dinheiro,
Vidas e muitas burradas.

Neste Brasil dos perigos,
Tanto em terra como céu,
Façamos de Deus um abrigo,
Pois só Ele é fiel!

Há de se louvar a espera
Dos parentes no canteiro,
Mas não tem coisa mais bela
Que o heroísmo dos bombeiros!

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Professor faz falta.



Grave

Das poucas coisas que lembro /De um passado que me esfola / É quando chegava dezembro / E ‘‘curtia’’ as férias da escola. / Os professores eram nossos artistas; / Até sonhávamos em sê-los; / A qualquer aluno da lista / Um diretor erguia-lhe os pêlos. / Hoje, tempos do vil erário, / Apenas mercenários, jamais mestres. / Professores de um teatro de horrores, / Se ajuntando aos cafajestes. / Nenhum salário será justo, / Pois educação não tem preço e custo. / Contente-se com gratidão e amor, / Verdadeiro educador. / Você sabe que o país não vai bem / E em muito está reprovado. / A culpa de onde vem? / Daquele que o tem ensinado. / A grave greve como direito / É um entrave em todo peito. / Quando se atreve e vêm à tona /Muitos planos desmoronam. / O sonho de qualquer remunerado / É merecer sempre mais, / Mas quem os tem governado / foi eleito ou ensinado por tais.

sábado, 12 de junho de 2010

Aventura Ferroviária X


POR LINHAS TORTAS DE FERRO

Quando se chega a Goiandira, oriundo de Catalão, do lado direito, um pouco antes da Delegacia, que fica do outro lado, há uma casa que abriga o ex-ferroviário Benedito José Filho, chamado de Benedito Doido e sua família. A calçada arborizada, com bancos improvisados, permite o bate-papo na rua, por horas a fio, ainda mais se aquecido com cafezinho. Cumprimentos e sorrisos são esbanjados aos transeuntes, normalmente vizinhos de longa data.
Benedito nasceu na roça, junto com a Segunda Grande Guerra, em 1939, em terras mineiras, mais precisamente de Patos de Minas. Ainda menino, aos dez anos, juntamente com a família, atravessou o Rio Paranaíba e foram cultivar terras à beira do Rio São Marcos, na Fazenda dos Salvianos, nas terras goianas de Catalão. O contato com o rio, seu companheiro de aventuras infantis, trouxe-lhe muito prazer e alívio do cansaço de pequeno lavrador.
Sua caneta foi a enxada e as linhas de seu caderno eram sulcos no chão, por onde brotaria a sua lição feita com o suor do rosto para a conquista do pão.
Ainda mudou-se aos dezoito anos para a zona rural de Três Ranchos que, à época, realmente tinha três ranchos e não quinhentas mansões.
Plantavam milho, feijão, algodão e mamona. A mamona era pra fazer azeite que movimentava máquinas e caminhões, ou seja, nosso atual biodiesel.
O pai de Benedito, também de mesmo nome obviamente, foi contratado por uma firma terceirizada para ser foguista da Maria-Fumaça, por um pequeno trecho. Passou de fornecedor de lenha para usuário. Era um homem matuto, porém muito observador. Aprendeu a pilotar a máquina apenas observando. Um dia precisou deste conhecimento, pois o maquinista bêbado prostrou-se. O velho Benedito, valendo-se por dois, colocava a lenha e dirigia a composição. Como se diz na linguagem do futebol – ele batia o escanteio e corria pra cabecear a bola. Com esta atitude fora coroado como maquinista – recebera o quepe, um diploma do ofício e um convite para ingressar-se na rede, mas não quis. Na realidade ouviu conselhos de sua mãezinha. Ela tinha muito medo pela sorte do filho. Naqueles tempos os trens eram assaltados e os condutores mortos a pauladas. Certa chacina ocorrida dentro de um vagão de passageiros, em Catalão, não saía da cabeça daquela senhora.
Na cabeça do neto, Benedito Doido, ainda ecoa as palavras da avó ao seu pai – “Não vá, meu filho, pelo leite que de mim mamou”.
O velho Benedito, quando o filho xará contava então trinta e dois anos, valendo-se do seu longo prestígio com Zé Tavares, Mestre de Linha, pediu para que arrumasse uma colocação ao filho. Assim aconteceu a entrada à Estrada de Ferro de Benedito Doido. O velho Benedito, por ter ouvido o conselho da mãe, sofreu atraso de vida.
Benedito Doido trabalhou pouco mais de vinte e seis anos como tatu. Tatu é como eram chamados por fazer buracos para encaixe dos dormentes. A picareta era a dolorosa aliada.
Teve uma aposentadoria especial e a provocou quando a privatização estava certa, o que ocorreu após um ano após de inatividade.
Antes de ir para o trecho, local ermo de trabalho ao longo da estrada de ferro, deveria fazer a marmita, o caldeirão como ele mesmo diz. As coisas evoluíram e, depois de certo tempo, bastavam levar os mantimentos que um cozinheiro faria a comida no local. Uma promoção de bóia-fria pra bóia fresca e quente.
Normalmente algum vagão velho de passageiros, estacionado em um desvio antigo, servia de alojamento. Era muita alegria fomentada pela cachaça abundante. O trabalho era chamado de quinzena, mas na verdade trabalhavam uma semana de seis dias e outra de quatro dias, ou seja, trabalhavam de segunda a sábado, folgavam domingo, retornavam na segunda e, na quinta, encerravam a semana. Serviço pesado na reformas de linhas. Um fraco não se adaptava e só os fortes permaneciam. Fracos não eram aqueles que não suportavam a dureza do trabalho, mas as brincadeiras provocantes que não cessavam hora nenhuma.
Doutra feita, isolados na recuperação de linhas, foi enviado um mensageiro para informar que toda a turma fosse renovar exames médicos para permanência no trabalho. Tal mensageiro, irresponsável de marca maior, ficou bêbado pelo caminho e não deu o recado. Com isto todos foram demitidos.
Benedito Doido então, durante quarenta dias, foi trabalhar na “Colier”, certa empreiteira da Rede. Nesta oportunidade receberam aviso para retornar às funções antigas. Alguém vira que não foram culpados. Ainda voltaram ao batente sem a necessidade de exames médicos, pois eram homens duros e saudáveis, provados a ferro e fogo numa agenda de desenvolvimento sem parada.
Na volta ao trabalho, Benedito teve como feitor um João Calixto, exatamente neste momento quando recebeu o apelido de Benedito Doido.
O Feitor mandou-o lavrar uns dormentes para colocar na linha em substituição aos estragados. Benedito então, mentindo, e pra tirar sarro do feitor junto aos companheiros, disse que não sabia fazer isso. Pediu pra o feitor ensiná-lo. O gaiato, dando uma de Joãozinho-sem-braço, ficou prestando atenção na lição que sabia de cor e salteado. O feitor fez calmamente todo o serviço, inclusive explicando dos perigos ao se trabalhar sem segurança. Depois da instrução dada pediu a Benedito para socar do outro lado. Benedito exagerou na força, pra disfarçar o conhecimento, e uma pedra voou na canela do feitor que saiu gritando: - “Você tá doido? Você só pode ser doido. Você é doido.”
A turma não perdeu tempo em apelidá-lo. Mesmo não importando o apelido pegou. Hoje é um doido de três salários mínimos e muito grato pela sorte que Deus lhe deu.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

A Grande Companheira


Como se chama a Mulher do General?

Parece pergunta dúbia, mas é um ser de mil respostas e algumas vamos ver:
É aquela esposa fiel que não virou as costas a todos os postos do Quartel.
Já foi namorada de bicho duro sempre a fim de aspirar aos galões oficiais.
Num longo e sofrido conto de fadas, seu grande príncipe é o Cadete Marcial,
Mas Mulher de General, nesta história com “H”, faz um papel primordial.
Era uma vez a Mulher do General que não dormiu com o Tenente aquartelado,
Pois como Oficial-de-dia, nas mil e umas noites, fez falta um bocado.
Mulher de General é aquela que recebeu os xingamentos do querido Capitão
Que deveriam ser direcionados ao Comandante de Batalhão.
Nessa época, o soldo apertado arrocha mais com o surgimento do herdeiro,
Que tem nos olhos o brilho do artilheiro,
Mas é ofensa, pois vida dura como a do pai a mãe nem pensa.
A Mulher do General viu seu Major ser o menor,
Encanecido o seu cabelo, rosto enrugado e preocupado com os estudos,
Que na Caserna jamais cessam e são escudos
Dos esforçados, dos dedicados e exclusivos.
A Mulher do General já deu o ombro ao seu Tenente-Coronel
Que num quadro de acesso figurava bem atrás
Sendo chacota de rodinhas promocionais.
A Mulher Compromisso foi persistente com o Coronel,
Assim chamado por uma década de interstício.
Seus filhotes foram anjos bem criados,
Dentro também da Hierarquia e Disciplina
Que regulam os comandados.
A Mulher do General quando está em baixa é atriz
E com as amigas sabe sorrir, ficar calada e, na verdade, ser mais antiga.
A Mulher do General é obrigada, tão quanto ele, a servir à Pátria:
Brilha o cinto, reluz a espada e faz o vinco,
Emociona com o passado, mas é durona.
A Mulher do General, com tudo a limpo,
É lavadeira que paga as contas, é motorista e quem mais reza pela Paz,
É um garimpo, a escolhida pra não ter lugar.
O Grande General é o cume que recebe a luz,
Mas a sua família é o resto da montanha.
A Mulher do General só tem um posto, como tantas,
E se orgulha de simplesmente em graduar
Mais que Rainha do lar:
Ela é terna mulher de militar!

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Depois da Tela Branca


DIREITOS RESERVADOS

TELA BRANCA RETANGULAR
DE UM PREÇO SINGULAR
NUM CAVALETE A ESPERAR.
BISNAGAS MULTICORES E PINCÉIS
DESORDENADOS COMEÇAM SEUS PAPÉIS
EM MOVIMENTOS VARIADOS.
UMA PRANCHETA REBOCADA,
CORES CONFUSAS MISTURADAS
VÃO E VOLTAM E SÃO LIMPADAS.
A ARTISTA LEVANTA E AFASTA.
OBSERVA AO LONGE E CRITICA.
UM SIMPLES QUADRO NÃO BASTA,
POIS É SUA ALMA QUE FICA.
MAIS UMA RARA CRIADORA DE BELEZA
ONDE POR POUCO A VIDA SE FAZ PRESENTE
NA OBRA E AS VISTAS SÃO ACESAS
AO DEPARAR BELOS TRAÇOS DA MENTE.
DEPOIS DE TUDO PRONTO
O VALOR VAI ALÉM DO ESTIMADO:
CIFRAS E QUANTIAS DE DEIXAR TONTO
DEPENDENDO SOMENTE DO NOME ASSINADO.
A ARTE DESTE POETA NADA VALE E É INTRUSA,
MAS NESTES VERSOS FINAIS DEIXO REGISTRADO
QUE MINHA ESPOSA É A PINTORA E A MUSA
E TÊ-LA EM TELA ME É PATENTEADO.

terça-feira, 8 de junho de 2010

ASTRONAUTA MARCOS PONTES


TURISMO INTERGALÁTICO?

Havia uma base, um foguete e bem mais que uma tripulação,
Mas foi para o espaço, em Alcântara, com muita antecipação!
Atentado? Russo ou americano? A quem importa a ocasião?
O quê fazer? Se tanto tempo se leva para outra formação?

Pegamos carona na boléia, ou melhor, uma cara lotação.
Na nave espacial Soyuz, que em russo quer dizer união.
Num país mui amigo, nosso vizinho, de nome Cazaquistão.
Tem um Deus diferente e valente nos versículos do Corão.

Dois deuses ocupam o mesmo lugar no espaço ou não?
Estamos buscando mais verdades, próximo da imensidão.
E se der fome? O quê se come? Uma colheita de feijão?
Com pouca insolação, irrigada pelas geleiras de Plutão?

Alternativas mil devem ser buscadas em qualquer rincão,
Pois é escrito para os Cristãos que “Céus e terra passarão”.
A “prometida” aos judeus está comprometida de montão.
Marcos Pontes vive sorrindo, mas viu grande devastação.

Nosso astronauta foi bem preparado para notável missão,
Foi útil até para o Presidente Lula, candidato à reeleição.
O cosmonauta internauta está no ar em rádio e televisão,
Nas revistas, jornais, bate-papos e livros de educação!

Mestre-sala e porta-bandeira com nota dez na evolução,
Esta linda festa aí no Céu não é exclusiva da tripulação.
Não deixe nosso príncipe sapo cair de dentro do violão!
Sua história será contada por quem tem chapéu na mão.

O Brasil, visto de cima, como é? Tem crateras a Nação?
A riqueza, nas cores do pendão, tem a mesma proporção?
Esta viagem foi linda, mas não desviou minha atenção.
Minha cabeça está nas nuvens, mas os pés estão no chão!

domingo, 6 de junho de 2010

Aventura Ferroviária IX


NONA ESTAÇÃO

PUXA-VIDA! CRUZE OS BRAÇOS SÓ PRA FOTO.

Início de Junho de 2010 quando me encontrei como o Ex-Ferroviário Sebastião Antonio da Silva, o popular Puxa-Vida. Este apelido acompanha-o desde a tenra idade quando saiu de Janaúba, Norte de Minas, e pisou em terras goianas. Quem é do Norte de Minas é quase um baiano. A expressão “Puxa-Vida” é o carro chefe na comunicação deste senhor carismático, sorridente, boa-praça. Uma cútis dourada pelo sol e os cabelos grisalhos, não tanto e que diminuem sua idade setentona. Sua estatura não eve passar de 160 centímetros, mas a firmeza nas palavras e o olhar penetrante dão-lhe ares de um gigante cativante.
Puxa-Vida coisa nenhuma, pois ele não é de se lamentar jamais e detém um bom humor inalterável. Puxa-Vida, embora analfabeto, liderou homens em diversas empreitadas e, diga-se de passagem, homens rudes de difícil doma.
A conversa com ele é uma avalanche de histórias que fica difícil encaixar os fatos num cronograma, mas a errônea ordenação dos fatos no tempo não nos incomoda neste relato das aventuras dos homens ferroviários.
Ele adentrou à Rede Ferroviária logo no início de 1974. De imediato trabalhou uns quatro meses numa equipe de reparos, mas logo foi para a função de cozinheiro, sua classificação de função sem concurso.
Naquela época, por vontade do Feitor Zé Martins, ele foi admitido. Ele sempre sonhara em ser ferroviário e a realização deste sonho ele computa a Nossa Senhora de Aparecida. Ele era um lavrador nas proximidades do Km 127 da Rede, um local próximo ao Povoado do Veríssimo, distrito de Goiandira, quando fora recrutado. Estava muito endividado e há cinco anos incomodava a Padroeira do Brasil em suas rezas clamorosas. Ele recebeu, no meio da mata, onde tirava feixes de lenha para vender, recados para ir à Venda, mas não foi pensando serem cobradores. Por fim, um certo conhecido de nome Miguel Rocha, o buscou para ir fazer exame de saúde em Araguari para ser admitido na Ferroviária. Ele foi chefiando uns quarenta homens, segundo ele mais bobos do que ele mesmo. (Uma risada malandra inunda o ambiente nesta hora da entrevista).
Puxa-Vida é aparentemente um homem fraco, mas naquela ocasião estava ainda adoentado. Com astúcia ele deixou que o médico atendesse a todos e ele se colocou por último. Ele acreditava que o médico iria se cansar e não o consultaria com o rigor inicial. Dito e feito, pois o médico apenas perguntou se tinha algum problema e ele disse estar saudável como um côco. Puxa-Vida atestou-se apto.
Embora tenha tido uma vida um tanto desregrada, ele dá sempre Graças a Deus, o Guia de cada instante de sua vida, pois qual analfabeto recebe como aposentadoria cerca de quatro salários mínimos? Sem intervenção de Nossa Senhora ele estaria vendendo certamente feixes de lenha de um fogo que se apaga.
Puxa-Vida era o chefe da Cantina e o cardápio que ele oferecia à Turma girava em torno dos seguintes ingredientes: arroz, feijão, macarrão, batatinha e jabá, mas com um tempero sem precedentes. Certa vez vieram algumas professoras de arte culinária para ensinar e muito mais aprenderam com o professor da escola da vida, Puxa-Vida.
Certos funcionários, como maquinista e guarda ferroviário, não tinham direito à alimentação e, caso comessem, deveriam ter a matrícula anotada para desconto. Puxa-Vida ignorava tal ordem e alimentava a todos – ele multiplicava a ração não com milagre, mas com uma administração eficiente, pois as etapas eram mais do que suficientes e sempre sobravam. Nem por isto seu pescoço ficava isento da degola.
Meu irmão, Policial Ferroviário do capítulo anterior, viveu à custa de Puxa-Vida um bom tempo, mas Puxa-Vida o ensinou a sempre ter um fogão à mostra no seu cômodo e alguns víveres, como se fizesse sua própria refeição, para despistar a caridade alheia.
Não esquece que quando meu irmão foi embora lhe deixou uma mesa e um moto-rádio. Quem não deve também tê-lo esquecido é meu irmão, pois somos família de pessoas gratas. A gratidão também não falta em Puxa-Vida.
Ele foi minerador em Nova Lima-MG e assistiu muitos companheiros enchendo as botinas de ouro. O ouro ali corria como se água fosse, mas ele não matou a própria sede.
Também foi garimpeiro e, juntamente com um amigo, tirou um diamante de um quilate e oitenta e cinco, o que se equivale a 285 miligramas. Tal pedra foi vendida por Quinze milhões de Cruzeiros, uma boa quantia pra ser dividida entre aqueles pobres diabos.
Ele disse que o amigo era ateu, pois não queria ir com ele à Aparecida do Norte pra dar um pouco do fruto da sorte e do trabalho árduo pra Santa. O amigo disse que santo não come e, neste instante apareceu no garimpo, sabe-se lá de onde e como, um filho deste sócio que estava desaparecido há mais de trinta anos. O rapaz levou o pai pra Brasília, onde tinha um armazém, e conquistou o dinheiro do pai. Disse que em seis meses devolvia com juros de sobra e outros trinta anos já se passaram em que o rapaz mais uma vez desapareceu...
Puxa-Vida bebeu o dinheiro em Ipameri, sua Las Vegas particular. Em Ipameri havia recursos de medicina à população através do 6º Batalhão de Caçadores do Exército, mas as consultas tinham um preço. Puxa-Vida, que também se diz cara-de-pau, levou a esposa para atendimento em altas horas da noite sem sequer um níquel. A Providência não o abandonou, pois o médico ao saber da sua profissão de garimpeiro disse que queria fazer uma anel pra filha. Por extrema sorte Puxa-Vida tinha um diamante de seis pontos no bolso e ofereceu ao médico que aceitou sem pestanejar. Um xibiu, como são chamados estas pequenas pedras, devam custar um quarto do salário mínimo. Tal ato não só pagou aquela consulta, mas várias outras daquele médico militar de traços japoneses que ficou seu amigo sem medida.
Trabalhou também numa mina de chumbo, nas proximidades de Ipameri, na serra do Rio do Braço, mas não ganhou nem tempo de serviço.
Este Batalhão do Exército de Ipameri tinha avião que fazia a rota pra São Paulo. O comandante, devido às dificuldades da população local, dava carona pra quem quisesse tentar a vida em São Paulo. Puxa-Vida ganhou uma passagem, mas adormecido no teor alcoólico perdeu o embarque, ao que dá também graças a Deus.
A ferrovia foi uma mãe, mas no seu início de carreira achou-a madrasta. Ele levava marmita pelo Trole, precursor do alto motriz, que se movimentava tipo remando e, quando vinha a composição em sentido contrário, havia a necessidade de tirá-lo no braço da linha.
Puxa-Vida aprendeu a desenhar o nome com alguns amigos do garimpo e só. Todo seu conhecimento e toda a sua felicidade são proporcionados pelas duras páginas da existência.
Existiu um chefe que ele tem mágoa, pois era só ter festa na cidade que o manda-chuva, por pura maldade, afastava-o e alguns outros para trechos no meio da roça, onde dormiam no chão e muitas vezes ficavam por lá esquecidos sem pão e sem água.
Aposentou-se com a privatização, mas estava disposto a atuar muito mais.
Puxa-Vida foi filmado e entrevistado, provavelmente pela TV Cultura, durante duas horas, para o documentário “Memorial da Rede”, mas não foi agraciado com uma cópia do filme que, com certeza, dá bilheteria.
Na sua infância Puxa-Vida saiu de Belo Horizonte para Goiânia de Maria-Fumaça. Foi a mor à primeira vista, muito embora a viagem tenha durado seis dias. Ele ainda morre de rir da situação do foguista, todo pretinho de carvão, e com um vagão inteiro de lenha pra queimar. Era muito fogo e faísca na cara. Alguma centelha ainda viajava pela janela e iniciava queima de pastagens e matas, pois onde há Maria-Fumaça há fogo.
Ele cita proezas a respeito de um tal Vicente Marô, nas cercanias da Fazenda Raul Gonçalves, também pras bandas de terras ipamerinas. Este tal Vicente Marô era o maioral na Rede antiga que foi talhada na picareta. Ele admitia e demitia com muita facilidade. Até enforcamentos ele promovia aos desafetos. Quem pedia demissão era cercado no meio do caminho, por ordem dele, e vitimado por assalto seguido de morte. Vicente Marô chegou a ter quase quinhentos alqueires de terras, mas para pagar seus pecados seus dois filhos entraram para o sacerdócio, um padre e uma freira.
Puxa vida, eu parei por aqui, mas as histórias do Sebastião não têm fim.