
Curta Memória de um interno
Cheguei à “Mansão Vida”, Clinica de Internação Psiquiátrica próximo a Santo Antonio do Descoberto-GO, aturdido.
Nem vida nem mansão foram observadas por dois dias. Um trauma, tipo coma, ofertado por um remédio violento, tipo sossega-leão, de nome Haldol, amorteceu meu ser e até me fez ver monstruosidades. É um hipnótico sem precedentes.
Sou um bipolar assumido que se julgou prejudicado renal com os metais de lítio e caí na tentação de não usar o Carbonato de Lítio por uns tempos. Moral: A crise de pinéu veio forte e nem cheguei a checar os rins.
Não é fácil se posicionar com o que enfrentamos em internações como confinamento e ordens várias, retenções, isolamento, camisa de força e ainda vislumbra-se ser um ofício do bem em que a própria família “enfiou” ou “confiou” naquela instituição.
À primeira monta ouvi dizer que tal Ester, uma enfermeira, é a dona da Clínica que conta ainda com uma parceria com certa “Comunidade”, onde usuários químicos dependentes revolvem a terra em busca de hortifrutigranjeiros para a alimentação em geral. Ainda assim a diária gira em torno de quatrocentos reais.
A bebida, a droga e os fármacos são quase que uma luta perdida... Noutros cantos, porém não ali com bons índices positivos.
Dona Ester eu não conheço, mas é o esteio desta grande obra. Mil pães são consumidos diariamente – Seria um cesto de Jesus?
Este trabalho envolve recuperação, equilíbrio, superação de pessoas conectadas a células já mortas cerebrais.
Pessoas que são supostos justos na sociedade se ofereceriam para tiro de misericórdia a tais pacientes.
Lendo alguns recortes na administração do Santo Complexo, li algumas palavras alusivas à Ester Mansão. É uma cidadã honorária em várias câmaras legislativas e com louvor abonado por instituições de peso como SENAI, por exemplo.
Outra Ester, a Bíblica, foi uma judia que salvou seu povo da escravidão e ainda destronou a rainha Vasti. Por uma ironia talvez, uma mesma Vasti da atualidade, não sei bem se Pastor ou Pastora Evangélica, encerrou uma placa da nossa “Ester Vida” mostrando toda a sua grandeza: Ester Giraldi Dias, com certeza Ester Giraldi “Pancada”, mas uma mão maior repousa sobre seus dias.
Não deve ter muito tempo e nem umbigo para homenagens, mas o testemunho de vida é que transforma outras vidas. Estereotipada com o extermínio do mal, busca forças externas. Ester, enfermeira de cunho doce e servil, atende com mansidão. Seu campo de trabalho é de grande messe e me inspira a que também façamos o mesmo noutras paragens. A esterilidade do pó que leva ao pó custa muito caro, lágrimas sem fim e dor sem volta.
Saber como este trabalho é mister é como conhecer um pouco dos mistérios divinos.
Ester é o esterco da semente do amor.
Ainda assim forcei minha alta de tal Manicômio!