Janis Peters Grants,
comentarista predileto do Facebook, sobre esta indagação tua comecei uma
viagem, uma triste viagem no tempo e lugares. Em princípio esta empresa
abocanhou como logomarca o símbolo do pecado, para agradar aos místicos. Somos
cercados de ciências específicas diversas por todos os lados, mas nenhuma
supera a filosofia, aquela que permanece incólume mesmo que se caiam reinados e
potestades, comunismo, socialismo, imperialismo, ditadura, todo e qualquer sistema
que se curva à economia. O capital venceu. O ano de 2012 deve ser mesmo o fim
deste mundo canalha da moeda, do descaso ao meio ambiente e das bolsas de
valores. Não sei como será depois disto, mas o importante é que aconteça. Dou
até o meu restante de vida medíocre por isto.
Todos nós, com raras exceções
dos santos que aqui existem, gostamos de comprar produtos baratos e hoje estão
baratos demais. Acontece que por trás dos preços baixos está o trabalho escravo
ou semi-escravo – a exploração do ser humano como mero animal.
Toda indústria quer
produzir na China por causa da mão-de-obra farta. Direitos trabalhistas por lá
é sonho para o futuro distante. O principal para aquela super-população,
faminta e miserável, é a sobrevivência. Dizem até que a fome instiga a
inteligência e de bobos aqueles milenares não tem nada.
Em contrapartida, no
meu interior brasileiro, não há mão-de-obra disponível, nem cara. O que deve
ser feito, mesmo que se tenha dinheiro disponível, deve ser feito por a gente
mesmo. Tenho me especializado num senhor faz-tudo. Portanto não é preciso ir
além-mar, pois no nosso País muitos também trabalham em troca de comida apenas,
inclusive isto aconteceu comigo. A grande diferença é a razão do caos. Há
também aqueles outros que se satisfazem as migalhas sociais distribuídas por um
mandatário.
Janis, estive no Vale
do Jequitinhonha em trabalho de demarcação de cota de inunda da Usina de Irapé
e atestei a miserabilidade que nos assola, principalmente naquela macro região
mineira. Eu tinha dinheiro pra pagar até, digamos, cinqüenta reais por dia
trabalhado aos peões, mas tive que pagar quinze reais apenas. Era o preço de
exploração local. Participei indignado de reuniões com o governo local, comerciantes,
mas tive que praticar os preços dali para não gerar uma revolução por ali,
afinal, segundo os próprios, meu trabalho era passageiro e os empregadores
locais teriam condições de manter os preços que eu pagava por toda uma vida. Lógico
que dei alguma compensação extra, mas cheirando a banditismo, é mole? Tive que
me curvar, pois dependia da colaboração de toda a população pra realizar o
trabalho, principalmente dos fazendeiros possuidores de terras ribeirinhas.
Em Cristália a
Prefeitura só tinha dois funcionários, um o prefeito e o outro seu secretário
geral, um genro. Veja bem, cem por cento de nepotismo. (risadas). Quando a
Prefeitura precisava realizar alguma obra contratava trabalhadores, por dia, preço
de salário mínimo. Encontrei um caçador de espingarda a tira-colo, percorrendo
aqueles morros numa velha bicicleta e, durante três dias, pelejou e não
encontrou nenhuma caça pra subsistência familiar. Inóspito até aos animais de
todos os portes.
Janis, pra mim ninguém
deveria ganhar mais de dez mil reais. Vai faltar pra alguém, lei da
compensação. Não existe função que valha mais que este meu teto salarial
suposto. Jogador de futebol ou piloto de corrida ou apresentador televisivo,
por exemplo, é uma ofensa a qualquer trabalhador, um desestímulo sem
precedentes.
Não sei como deverá
ser após 21 de dezembro, mas religião também não dá certo. Nos Atos dos
Apóstolos havia a divisão de bens e isto só durou conforme os bens, depois a
igreja confiscou tudo.
Deve estar certo
trabalhar pela comida já que o Pai determinou que ganhássemos o pão de cada dia
com o suor do nosso rosto, mas estamos suando não apenas o rosto, estamos, uns
muitos, totalmente banhados de suor e lágrimas, na mesma proporção.
3 comentários:
UBERLÂNDIA-MG, 24 de janeiro de 2012.
Prezado Amigo Aristeu,
Também não sei como será a Ceia neste NATAL.
Seja lá como for, e onde for, compartilharemos de iDeais e do pão nosso, específico para este dia, conscientes de que foi adquirido com dignidade.
Temos dignidade para lembrar e comentar até sobre quem labuta lá do outro lado no mundo. Como poderia passar despercebido o que acontece ao nosso redor ?!
Chamam-nos de EXCESSIVAMENTE CRÍTICOS.
Qualifico-os de EXCESSIVAMENTE CÍNICOS.
E pensar que - INICIALMENTE - o Cinismo era apenas uma corrente filosófica, que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos...
Grande abraço
Atenciosamente,
Janis Peters Grants.
Realmente Aristeu só mesmo a estabilidade do conhecimento da Filosofia para explicar melhor tantas aparentes controvérsias sobre os efeitos da economia e a distribuição de renda. Mas apenas para consolo dos letrados já que para os famintos interessa engolir alguma coisa. Faz lembrar o Joãozinho Trinta que percebeu que quem gosta de pobreza são os intelectuais. Mas quem não encontra um prato de comida por dia sabe a profundidade desse sofrimento. Quem tem o consolo da riqueza por vezes não significa que tem a felicidade. As empresas pregam que não é o salário que deixa o empregado mais produtivo e que deve procurar motivação pessoal dentro de si mesmo. Talvez os chineses de tradição budista vejam de maneira diferente a vida e talvez diferentemente dos cristãos que aguardam a ajuda dos céus. Em ambas as crenças, a definição da natureza ou dimensão de Deus é fundamental, seja confiando mais em si, no primeiro caso, ou aumentando a esperança na chegada da ajuda, na segunda crença. De modo geral, pobres ou ricas, parece que as pessoas nascem com um profundo sofrimento e disfarçam a vida toda buscando alegrias temporárias, ou trabalhando, para ver se o tempo passa mais rápido. Enfim, na China, na Europa, nos EEUU ou aqui a pobreza surpreende de forma implacável e no mesmo tom.
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