terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Por que Apple fabrica o iPhone na China?




        Janis Peters Grants, comentarista predileto do Facebook, sobre esta indagação tua comecei uma viagem, uma triste viagem no tempo e lugares. Em princípio esta empresa abocanhou como logomarca o símbolo do pecado, para agradar aos místicos. Somos cercados de ciências específicas diversas por todos os lados, mas nenhuma supera a filosofia, aquela que permanece incólume mesmo que se caiam reinados e potestades, comunismo, socialismo, imperialismo, ditadura, todo e qualquer sistema que se curva à economia. O capital venceu. O ano de 2012 deve ser mesmo o fim deste mundo canalha da moeda, do descaso ao meio ambiente e das bolsas de valores. Não sei como será depois disto, mas o importante é que aconteça. Dou até o meu restante de vida medíocre por isto.
        Todos nós, com raras exceções dos santos que aqui existem, gostamos de comprar produtos baratos e hoje estão baratos demais. Acontece que por trás dos preços baixos está o trabalho escravo ou semi-escravo – a exploração do ser humano como mero animal.
        Toda indústria quer produzir na China por causa da mão-de-obra farta. Direitos trabalhistas por lá é sonho para o futuro distante. O principal para aquela super-população, faminta e miserável, é a sobrevivência. Dizem até que a fome instiga a inteligência e de bobos aqueles milenares não tem nada.
        Em contrapartida, no meu interior brasileiro, não há mão-de-obra disponível, nem cara. O que deve ser feito, mesmo que se tenha dinheiro disponível, deve ser feito por a gente mesmo. Tenho me especializado num senhor faz-tudo. Portanto não é preciso ir além-mar, pois no nosso País muitos também trabalham em troca de comida apenas, inclusive isto aconteceu comigo. A grande diferença é a razão do caos. Há também aqueles outros que se satisfazem as migalhas sociais distribuídas por um mandatário.
        Janis, estive no Vale do Jequitinhonha em trabalho de demarcação de cota de inunda da Usina de Irapé e atestei a miserabilidade que nos assola, principalmente naquela macro região mineira. Eu tinha dinheiro pra pagar até, digamos, cinqüenta reais por dia trabalhado aos peões, mas tive que pagar quinze reais apenas. Era o preço de exploração local. Participei indignado de reuniões com o governo local, comerciantes, mas tive que praticar os preços dali para não gerar uma revolução por ali, afinal, segundo os próprios, meu trabalho era passageiro e os empregadores locais teriam condições de manter os preços que eu pagava por toda uma vida. Lógico que dei alguma compensação extra, mas cheirando a banditismo, é mole? Tive que me curvar, pois dependia da colaboração de toda a população pra realizar o trabalho, principalmente dos fazendeiros possuidores de terras ribeirinhas.
        Em Cristália a Prefeitura só tinha dois funcionários, um o prefeito e o outro seu secretário geral, um genro. Veja bem, cem por cento de nepotismo. (risadas). Quando a Prefeitura precisava realizar alguma obra contratava trabalhadores, por dia, preço de salário mínimo. Encontrei um caçador de espingarda a tira-colo, percorrendo aqueles morros numa velha bicicleta e, durante três dias, pelejou e não encontrou nenhuma caça pra subsistência familiar. Inóspito até aos animais de todos os portes.
        Janis, pra mim ninguém deveria ganhar mais de dez mil reais. Vai faltar pra alguém, lei da compensação. Não existe função que valha mais que este meu teto salarial suposto. Jogador de futebol ou piloto de corrida ou apresentador televisivo, por exemplo, é uma ofensa a qualquer trabalhador, um desestímulo sem precedentes.
        Não sei como deverá ser após 21 de dezembro, mas religião também não dá certo. Nos Atos dos Apóstolos havia a divisão de bens e isto só durou conforme os bens, depois a igreja confiscou tudo.
        Deve estar certo trabalhar pela comida já que o Pai determinou que ganhássemos o pão de cada dia com o suor do nosso rosto, mas estamos suando não apenas o rosto, estamos, uns muitos, totalmente banhados de suor e lágrimas, na mesma proporção.

3 comentários:

Ianis disse...

UBERLÂNDIA-MG, 24 de janeiro de 2012.

Prezado Amigo Aristeu,

Também não sei como será a Ceia neste NATAL.

Seja lá como for, e onde for, compartilharemos de iDeais e do pão nosso, específico para este dia, conscientes de que foi adquirido com dignidade.

Temos dignidade para lembrar e comentar até sobre quem labuta lá do outro lado no mundo. Como poderia passar despercebido o que acontece ao nosso redor ?!

Chamam-nos de EXCESSIVAMENTE CRÍTICOS.

Qualifico-os de EXCESSIVAMENTE CÍNICOS.

E pensar que - INICIALMENTE - o Cinismo era apenas uma corrente filosófica, que pregava essencialmente o desapego aos bens materiais e externos...

Grande abraço

Atenciosamente,
Janis Peters Grants.

natal fernando disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
natal fernando disse...

Realmente Aristeu só mesmo a estabilidade do conhecimento da Filosofia para explicar melhor tantas aparentes controvérsias sobre os efeitos da economia e a distribuição de renda. Mas apenas para consolo dos letrados já que para os famintos interessa engolir alguma coisa. Faz lembrar o Joãozinho Trinta que percebeu que quem gosta de pobreza são os intelectuais. Mas quem não encontra um prato de comida por dia sabe a profundidade desse sofrimento. Quem tem o consolo da riqueza por vezes não significa que tem a felicidade. As empresas pregam que não é o salário que deixa o empregado mais produtivo e que deve procurar motivação pessoal dentro de si mesmo. Talvez os chineses de tradição budista vejam de maneira diferente a vida e talvez diferentemente dos cristãos que aguardam a ajuda dos céus. Em ambas as crenças, a definição da natureza ou dimensão de Deus é fundamental, seja confiando mais em si, no primeiro caso, ou aumentando a esperança na chegada da ajuda, na segunda crença. De modo geral, pobres ou ricas, parece que as pessoas nascem com um profundo sofrimento e disfarçam a vida toda buscando alegrias temporárias, ou trabalhando, para ver se o tempo passa mais rápido. Enfim, na China, na Europa, nos EEUU ou aqui a pobreza surpreende de forma implacável e no mesmo tom.

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