terça-feira, 14 de junho de 2011

O orelhudo quer me deixar


O Covil do homem

Tenho ainda, por pouco tempo certamente, um velho cão fiel (redundância). São mais de dezesseis anos de convívio fraterno. Há quase cinco anos que o mesmo faz uso de uma medicação cardíaca. Ele teve um derrame e, desde então, religiosamente, administro a medicação idêntica aos humanos (enalapril, digoxina e furosemida).
Muitos acham graça deste cuidado com um animal, mas pra mim é mais que um animal – um companheiro de todas as horas. À chegada do trabalho sempre vinha me saudar e, numa cidade grande, no terceiro andar, sabia reconhecer o barulho do meu carro em meio ao caos urbano.
Outro dia, numa farmácia popular, quando iria comprar a medicação cardíaca canina, orientaram-me para pegar receita médica no meu nome para que eu não pagasse por tal medicação. É o jeitinho brasileiro por qual não me acostumo. Ficaram espantados diante da minha negativa e sabão, pois honestidade ainda é algo assustador e pouco atingível.
Em cidade muito pequena é difícil de cuidar dos animaizinhos, pois ninguém gasta com veterinário e eles não montam “pets shops”. Veterinário é supérfluo e, quem realmente gosta e cuida, tem que ir à cidade vizinha para tais cuidados. Recentemente um veterinário tentou fundar um consultório na cidade, mas desistiu pra nossa infelicidade. Contou-me que um cliente, retrato idêntico de muitos os quais teve contato, pela despesa com o animal de estimação estar estimada em quarenta reais, mandou sacrificar o bicho. Cruz credo! Esconjuro!
Pastor evangélico cria passarinho na gaiola enquanto outro que, apesar de ir ao culto todo dia, com um estilingue, fica apedrejando os cachorros de rua. Nunca vi tais ensinos do Grande Messias.
Cristo, por ter sido pastor de ovelhas também, deve ter tido um cãozinho que o auxiliava. Não consigo ver alguém que diz amar o próximo e que não tenha paixão por animais.
O amor à natureza precisa aumentar para que nós mesmos nos salvemos. Atualmente pertencemos a uma alcatéia e nosso covil está fadado à destruição se assim continuar.

1 comentários:

Anônimo disse...

Aristeu,

também sou adepto do incondicional amor ao cão vira latas. É a melhor marca do mercado.

Quanto a refutar proposta de maracutaia, nada a espantar, em se tratando de Aristeu Nogueira.

EDILVO MOTA

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