domingo, 26 de junho de 2011

Melancolia


NEM SEMPRE

Interessante que melancolia começa com mel, mas arde como pimenta.
Nem sempre a gente está com a crônica na ponta da língua e começa com devaneios. Nem sempre se agrada, o nem sempre chegou. A vontade de escrever é maior do que o que escrever.
Um dia fui magro e meu umbigo colava às costas. Ninguém me via.
Um dia fui criança, mas não brincava e hoje, se brinco, dizem-me não ser mais criança. Uma grande parte de minha vida foi pesadelo, mas nem por isso deixei de sonhar. Muitas vezes não durmo, mas só me notam as orelhas.
Dizem que sou vitorioso, mas luto bravamente por um empate econômico.
Eu já sorri muito quando meus dentes eram tortos e agora serenizo quando estão ortopticamente sanados. Talvez eu seja a coisa errada no lugar certo ou a coisa certa no lugar errado.
Eu já bebi tanto e não matei a sede e hoje afogo-me nas próprias mágoas.
Eu já joguei pra não ganhar e hoje espero sentado ganhar sem jogar.
Eu já fui bonito aos meus próprios olhos e hoje só enxergo defeitos que são troféus do tempo.
Eu já mendiguei um pedaço de pão e hoje ofereço o pão inteiro.
Às vezes lutei bravamente, mas muitas vezes desisti precocemente.
Meus olhos sem graça já viram o mundo colorido enquanto hoje meu sorriso amarelo desponta a cada alvorecer.
Já tive coragem de enfrentar generais e hoje me assusta um simples cabo.
Já dirigi bêbado e não fui condenado, mas critico hoje quem bebe e dirige com uma força de quem nunca fez.
Já dei carteirada e hoje me julgo ninguém.
Parece ser tarde, parece não ter mais gosto, mas busco a felicidade, não minha, mas de todos.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Visse o toco?


MANIFESTO DO TOCO

Sou o toco, mas já fui sibipiruna genuinamente brasileira.
Hoje, no auge da minha desimportância, zombam de mim. Meu passado me indica a competência para a destinação. Lembro-me que sob minha proteção, a guisa da sombra fresca, o Manoel se fez Bonito.
Assim como o homem se julga “sapiens” eu sou da linhagem “Caesalpinia peltophoroides”. Minha família da Mata Atlântica era numerosa, verdadeira árvore genealógica! Hoje nada de lógico. Habitávamos no coração da cidade, hoje sem coração.
Os passarinhos agora passarão...
A praça está em desalinho enquanto éramos alinhadas. Grosseiros são aqueles que nos dizimaram.
Minhas flores eram mais coloridas que o ouro e atraíam os abelhudos, o que nos faziam manar mel além do leite.
Iria viver mais de cem anos e com mais de dezoito metros, mas fiquem sabendo que minha imponência e eternidade continuam incomodando. Já não me nutro de seiva e tampouco me importam os raios solares, mas amo as terras araguarinas por quem dei a vida e também posso dar o fogo da paixão.
Nos altos estudos universitários sempre fui indicada como uma boa peça para o paisagismo urbano e fui dizimada, juntamente com a família, por um “secre-otário imunicipal”.
Eu sou candidato a prefeito com meu chapa Edilvo pelos corações partidos. Não tendo família para praticar o nepotismo. Não queira fazer de mim uma cruz para o Edilvo, pois como eu, sempre trabalhou desinteressado pelo chão araguarino.
Vote em mim porque toco não dá galho.

terça-feira, 14 de junho de 2011

O orelhudo quer me deixar


O Covil do homem

Tenho ainda, por pouco tempo certamente, um velho cão fiel (redundância). São mais de dezesseis anos de convívio fraterno. Há quase cinco anos que o mesmo faz uso de uma medicação cardíaca. Ele teve um derrame e, desde então, religiosamente, administro a medicação idêntica aos humanos (enalapril, digoxina e furosemida).
Muitos acham graça deste cuidado com um animal, mas pra mim é mais que um animal – um companheiro de todas as horas. À chegada do trabalho sempre vinha me saudar e, numa cidade grande, no terceiro andar, sabia reconhecer o barulho do meu carro em meio ao caos urbano.
Outro dia, numa farmácia popular, quando iria comprar a medicação cardíaca canina, orientaram-me para pegar receita médica no meu nome para que eu não pagasse por tal medicação. É o jeitinho brasileiro por qual não me acostumo. Ficaram espantados diante da minha negativa e sabão, pois honestidade ainda é algo assustador e pouco atingível.
Em cidade muito pequena é difícil de cuidar dos animaizinhos, pois ninguém gasta com veterinário e eles não montam “pets shops”. Veterinário é supérfluo e, quem realmente gosta e cuida, tem que ir à cidade vizinha para tais cuidados. Recentemente um veterinário tentou fundar um consultório na cidade, mas desistiu pra nossa infelicidade. Contou-me que um cliente, retrato idêntico de muitos os quais teve contato, pela despesa com o animal de estimação estar estimada em quarenta reais, mandou sacrificar o bicho. Cruz credo! Esconjuro!
Pastor evangélico cria passarinho na gaiola enquanto outro que, apesar de ir ao culto todo dia, com um estilingue, fica apedrejando os cachorros de rua. Nunca vi tais ensinos do Grande Messias.
Cristo, por ter sido pastor de ovelhas também, deve ter tido um cãozinho que o auxiliava. Não consigo ver alguém que diz amar o próximo e que não tenha paixão por animais.
O amor à natureza precisa aumentar para que nós mesmos nos salvemos. Atualmente pertencemos a uma alcatéia e nosso covil está fadado à destruição se assim continuar.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Numa enrascada e então homenagem ao Santo das Causas Impossíveis


POESIA A SANTO EXPEDITO

001. Pra iniciar essa narrativa,
002. Desd’esta primeira parte
003. A história ficou mais viva,
004. Pois busca em um “saite”
005. Obteve cinco mil endereços
006. Com gratas respostas.
007. Neste Santo de apreço
007. Que a cada dia aumenta
008. Sua legião devota:
009. É nosso Santo Expedito
010. Com origem na Armênia.
011. Que pareceria mais um mito
012. Se hoje não fosse a presença
013. Em Melitene, sua cidade,
014. Aonde fora martirizado,
015. Com grande felicidade,
016. De mais santos no calendário.
017. O nome de hoje lá é Melatia.
018. Entre os rios Tigre e Eufrates,
019. Berço da Cristã família,
020. Da qual fazemos parte.
021. Entre o Mar Cásipo e o Negro
022. No Cálcaso, além da Capadócia,
023. Nesse lugar de sossego
024. Seu sangue regou a fé nossa.
025. Roma pra manter vasto Império
026. Assegurou-se em pontos frágeis.
027. De uma defesa a ferro e fogo,
028. Colocando ali legiões ágeis.
029. Com comandantes capazes.
030. Expedito da XII Legião
031. Que por ter em seus quadros
032. Somente soldados cristãos
033. Teve inimigos recuados.
034. Tal Legião era chamada
035. Por todos de “Fulminante”,
036. Pois por estar encurralada
037. Certa vez um tempo antes
038. Sem água, sem provimento
039. Pronta pra ser derrotada
040. Todos os joelhos dobraram
041. Em uníssono movimento
042. E ao Único Deus suplicaram
043. Uma intervenção no momento.
044. Esta atitude suplicante
045. Pareceu então armadilha
046. O inimigo titubeante
047. Pasmou-se e parou na sua trilha.
048. No Céu surgiram trovões,
049. Relâmpagos em forma de espada
050. Deceparam os corações
051. Dos inimigos à entrada.
052. Diocleciano era o Imperador
053. Que Roma tinha à frente.
054. Parecia um amor
055. Aos cristãos e sua gente,
056. Mas seu genro Galero,
057. Pagão convicto de idéias vis
058. Depreendeu grande flagelo
059. Com intrigas o quanto quis
060. Fez saber ao nobre sogro
061. Que o cristianismo conspirava
062. E suas assembléias eram um logro,
063. Pois outro fim almejavam.
064. Um mar muito sangrento
065. Pelos anos de trezentos
066. Começou a acontecer.
067. Até os próprios familiares
068. Pela espada fez morrer.
069. Diocleciano, em todos os lugares,
070. Inclusive em seu palácio,
071. Fez muito uso do gume de aço.
072. Expedito, um oficial,
073. Dessa armada romana,
074. Foi tentado pelo Mal
075. E por idéias insanas:
075. “Não se converta com afã.
076. Ser Cristão está perigoso,
077. Deixe isto pra manhã.”
078. Estava o Mal em forma de corvo
079. Que foi resistido enquanto pode
080. E ao ver tão grande estorvo
081. Escreveu na sua Cruz um “Hodie”.
082. Pisoteando a ave agourenta.
083. Neste latim se assenta
084. Além do Hodie um Crás
085. Sua imagem nos faz
086. Pedir depressa e obter.
087. É Expedito junto a Cristo
088. Que de pronto nos faz ver.
089. O imperador romano
090. Ao saber de seus insultos
091. Com seu poder sobre-humano
092. Mandou-o a seus deuses prestar culto
093. Claro que não aconteceu
094. Foi flagelado e decapitado,
095. Mas perante Nosso Deus
096. É um Santo bem cotado.
097. Sua história terrena
098. É bem pouca conhecida,
099. O que se torna uma pena,
100. Mas as graças obtidas
101. É que se contam em centenas
102. Em milhões de nossas vidas.
103. Dezenove de abril,
104. Desde aquela era,
105. É sua data consagrada.
106. Nesse século tantos santos se fizera,
107. Pois foi muita gente sacrificada:
108. São Gálatas, Polieucto, Rufo,
109. Hermógenes, Aristonico e Caio,
110. São Sebastião também entra em cena,
111. Exterminados nas calendas de maio.
112. Terra de predileção no Testamento,
113. Pois o seu monte Ararat,
114. Como eterno estacionamento,
115. Da Arca Aliança e resgate.
116. Santo das causas urgentes
117. Patrono dos militares
118. Legionário combatente
119. Defensor dos nossos lares
120. Homem pronto para o combate
121. Encontramos nos altares.
122. Atua em qualquer parte
123. E sem distinção de lugares.
124. Seu nome foi espalhado
125. Muito mais que sua vida
126. A cada milagre alcançado
127. A cada graça obtida.
128. Ao iniciar este cordel
129. Escutou-se um canto crás,
130. Mas um dos membros do Céu,
131. Assoprou que esse corvo jaz.
132. É Expedito que numa decapitação
133. Também deu a vida pelos irmãos.
134. Sua existência é exata,
135. Embora esquecido pelos historiadores,
136. Mas narrativas eclesiásticas
137. Grafam seu nome com louvores
138. É então na Ásia Ocidental
139. Que surge este santo marcial.
140. Os primeiros que ali pregaram
141. Foram Judas Tadeu,
142. Simão e Bartolomeu.
143. As sementes não tardaram
144. E os cristãos ali cresceram
145. Trajano, quando Imperador,
146. Uma legião ali criou.
147. Foi pra defender o avanço
148. De qualquer inimigo romano.
149. Há hoje no lugar um povo manso
150. Que dificilmente erra
151. Com mais de 2500 anos
152. É o primeiro País Cristão da Terra.
153. Invadidos pelos bizantinos,
154. Perseguidos por romanos,
155. E levados ao russo comunismo,
156. Mas um terremoto divino
157. A este povo acabou dando
158. O ressurgir do nacionalismo
159. Nesta pátria é devido,
160, O culto a Santo Expedito
161, Desde o dia seguinte
162. Da sua morte virou rito.
163. Transpôs o oriente
164. E a cada dia é crescente
165. Três séculos de perseguições
166. Com Constantino foram encerrados
167. Trespassaram corações,
168. Mas santos foram multiplicados.
169. Cristo, como pedido queremos isto:
170. Faça-nos ser também santificados.
171. Na data de dezenove de abril
172. Os devotos fazem festa.
173. Pagamentos de promessas
174. Sem que falte um só til,
175. Pois dizem que o Santo Militar
176. Também é urgente em cobrar
177. Os soldados desta Legião
178. Eram tratados de “expeditus”
179. Porque tinham armas leves
180. Que permitiam boa movimentação.
181. Já os outros - “impeditus”
182. Tinham aversa missão.
183. Dessa História talvez seja
184. A origem do seu nome,
185. Mas existem outras que, sem demora,
186. Nos dão mais acalantos,
187. O importante é que o Santo
188. Intercede nas nossas vitórias.
189. Protetor dos estudantes,
190. Jovens e viajantes,
191. O crescimento dos fiéis
192. Dá ao Santo a nota dez.
193. Fragmentos de sua ladainha
194. Mostram frutos da sua vinha:
195. Invencível Atleta da fé;
196. Até a morte fiel,
197. Tudo perdeste e permaneceste de pé,
198. Pra ganhar Jesus no Céu
199. Venham os golpes da chibata
200. E a espada que não mata
201. Recebeste a coroa da Justiça
202. Oh! Patrono da Juventude
203. Inimigo da preguiça
204. Ao se pôr em atitude.
205. Modelo dos Soldados
203. Saúde dos adoentados.
204, Advogado dos pecadores,
205. Mediador dos pleitos,
206. Pronto socorro à nossa voz
207. Em todos nossos clamores
208. Por tudo que tem nos feito
209. Perante Deus-Pai, Rogai por nós

O discurso do primeiro encontro continua válido


ENCONTRO TOPOGRÁFICO

Saudosos encontreiros, antes de mais nada seria bom definir encontro topográfico como um ponto onde o plano de assuntos, além de descoordenados, tendem ao infinito de um clube tridimensional.
Como vício, embora tantos o digam arte literária, não poderia deixar de anotar as minhas impressões sobre esta iniciativa, com certeza, de enézimas repetições.
Talvez alguns achem que as adesões não tenham sido satisfatórias em consonância às espectativas, mas onde dois ou mais topógrafos estiverem reunidos fluirão histórias incríveis e jamais repetitivas.
O primeiro fato, que me vem agora à mente, foi quando recente, num trabalho de campo e gabinete, realizado na bacia norte de Minas, um civil, operador de GPS, vale ressaltar que qualquer um pode ser, numa roda de boteco nos propôs como tema para um livro, idealizado e estruturado por ele mesmo, intitulado “Guerreiros do GPS”. Aconteceram risos, pensamentos e manifestações diversas. Eu, como amante da literatura e da topografia, não deixei de conjecturar a respeito. Imaginem, se algumas poucas aventuras, como operador de GPS, foram capazes de suscitar inspiração para uma tentativa e eternização, o que daria uma vida inteira de realizações não apenas topográficas?
Topografia é a arte de desenhar a Terra, mas para muitos aqui presentes é um campo diverso. Nós, não apenas desenhamos as curvaturas e reentrâncias da Terra, nós fazemos História. Desde a pontaria geodésica, aos astros mais longíquos, à determinação instantânea e milimétrica da posição, o personagem principal é o topógrafo.
Quem passou pela Topografia poderá passar por qualquer outra experiência. Prova disso é que, aqueles que não continuaram na Caserna, estão espalhados nas mais diversas atividades profissionais: são bancários, juristas, legisladores, técnicos diversos, doutores, políticos, odontólogos, engenheiros, empresários e... é melhor deixar de lado tais citações dado a infinidade do índice de aproveitamento do pessoal.
Mesmo dentro do Exército, onde a ocupação de claro é específica, os topógrafos se irradiam: segurança de autoridades, identificadores, contadores, assessores, professores e tantas outras posições haja visto que mesmo num quadro complementar, nunca deixarão de ser topógrafos.
O ser topógrafo está emaranhado com o progresso. A Geografia é o escopo ou a mortalha, mas seu campo de batalha é o universo, a filosofia, enfim a busca da precisão sem fim. Se localiza entre a cidade e o campo, entre os avanços tecnológicos e o tirocínio do reflexo, entre a grota e o oceano, entre os mestres e os matutos, entre o sóbrio e o ébrio, entre a loucura e a razão, entre o plano e o corte abrupto do abismo, entre o civil e o militar, entre gênios e braçais, entre família ou em prostíbulos, dá mais que livro ou mera poesia.
O Zênite e o Nadir o coloca como centro do universo, mas o que ele pretende é viver simplesmente no limite.
( Aristeu do litro )

domingo, 5 de junho de 2011

Morrer ninguém quer - Ficar velho também não!


INSS

INSSaciável é a sede pelas falcatruas.
INSSalubre é a situação dos aposentados.
INSSatisfação é a verdade nua e crua.
INSSucesso no INSStituto reformado.
INSScrito nele todos os brasileiros
Que INSSpirados deram suas vidas
Por um INSSuficiente pacote de dinheiro.
INSSegurança a cada simples recaída
INSSuportável mendicar descontos
A cada INSStante de receita prescrita.
INSStrumentos de preferência dá confronto,
Pois INSSensível é a descendência maldita.
INSSurgir contra a situação não adianta
INSSignificativa seria qualquer manifestação.
Ser idoso é um INSSulto e nó na garganta
Em qualquer INSStância da nossa Nação!