sexta-feira, 20 de setembro de 2019
Já fui preto da cabeça aos pés!
TUDO PRA FAZER ROLHA?
Parei na rodovia para rever e fotografar este exemplar da flora do cerrado. Muitos chamam de Pau Santo, mas conheci como Gordinha e Malvinha. São cascudas e utilizadas na indústria da cortiça. Uma matéria prima de várias utilidades térmicas, mas que o matuto passava e perguntava pra gente:
"- É pra fazer rolha?"
"- Sim, pra tapar seu buraco."
A mesma pessoa passava várias vezes com a mesma pergunta, só pra alugar.
Em Araguari-MG, tinha uma empresa, de nome LUNASA, que incentivava autônomos a um extrativismo dessas espécies.
Fui convidado para trabalhar, nos idos de 1977, ainda garoto, neste tipo de serviço. Nosso profissão momentânea nos dava o nome de casqueiros. Nossa equipe de casqueiros era composta por quatro pessoas. Um era o Tõe, cortava e picava as árvores no machado. Dois, que eram eu e o Amador, carregávamos as madeiras para o local onde se lhes desnudavam. Quem descascava as peças era o Eurípedes. Tanto o Eurípedes quanto o Amador eram filhos do meu padrasto. O primeiro virou sargento da polícia em Uberlândia, com o nome de Vital e o segundo virou subtenente dos Bombeiros em Araguari, com o nome de Davi. O Tõe era sem família e era alguém que vivia junto com eles. Não batia muito bem da cachola e acabou suicidando.
Toda madeira ficava com o fazendeiro como pagamento da casca. A área da extração que trabalhamos eram em terras de Ipameri e Cristalina, de um lado da BR 040.
A LUNASA quase patrocinou a eliminação destas espécies, coisa que nem o fogo milenar conseguiu. Depois que elas queimam, por fora somente, ficam chamuscadas e nós, que as carregávamos, ficávamos pretos em último tom. Só cinza.
Em volta dos casqueiros se fazia um assero em proteção do material trabalhado.
A gente morava em barraca de lona e dormíamos em rede. Folga só nos domingos. Só jantávamos porque ira ficando muito distante da barraca. O banho era num açude de um córrego.
Foram três meses de trabalho para fazer uma carga de caminhão. Tínhamos que abrir estrada para o caminhão chegar nos nossos depósitos.
Esta Gordinha da beira da rodovia está sapecada, mas com uma flor exuberante tentando imitar o Ipê. Ela é muito fofa.
A técnica hoje , segundo soube, é tirar-lhe a casca com ela ainda de pé, não por dó, mas que, como uma ovelha, voltará a ser tosquiada, se o fogo não vier antes.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
1 comentários:
Bom e já tão novo querido amigo Aristeu da Euzenia.
Leio com prazer duas crônicas, seus causos e me lembro dos versos : "Quem na vida não sofreu, foi prospecto de homem, não viveu."
Até agora lhe vejo como aquele homem inteligente ao ponto de se divertir com o bom e o ruim que viveu. Isso é demonstrativo de grandiosidade espiritual. E mais, escreve por prazer, sem esperar aplausos. Te aplaudo meu irmão!
Postar um comentário