sábado, 30 de julho de 2011

A RAFAEL KESLER


OS PROTAGONISTAS DA NOSSA VIDA

Acabo de deliciar-me com a crônica de Rafael Kesler, estudante de Direito, escritor, 22 anos, colunista do Diário de Araguari, no link http://rafaelkesler.blogspot.com/2011/07/invisibilidade-social.html .
Um texto apropriado e o autor com uma visão privilegiada de quem observa os fatos sob um camarote especial.
Rafael, você finaliza dizendo ter fé suficiente para que toda a situação seja revertida e eu te digo que apenas fé não resolve nada. Um texto como o seu já é um pequeno feito e pode ser o início de uma obra.
Analisar uma situação tão desafortunada pelo meio televisivo, no conforto e segurança de um verdadeiro lar, serve apenas de alerta que normalmente é seguido de esquecimento.
Há de se viver junto ao drama para que nossa alma fique impregnada das mazelas existentes na nossa sociedade. É um aprendizado para sempre. Não há uma invisibilidade social, mas uma cegueira quase que total para aqueles que não querem ver, afinal “pobres sempre os teremos conosco.”
Já atuei junto à população carente, principalmente na “favela” da Estrutural em Brasília, e posso afirmar peremptoriamente que muitos seres humanos dão as mãos uns aos outros. Em meio a crianças usuárias de drogas já ouvi uma tocando violino como se fora um anjo.
Dentro de favelas percebe-se nitidamente a variedade de religiões que buscam resgatar filhos de Deus através não só da palavra, mas também do pão. Eu, por exemplo, pertencia ao movimento dos Vicentinos Católicos, mas havia também sociedades civis como ONGs ou até mesmo empresas privadas, na busca incessante de elevar ou promover tais categorias de pessoas da situação tão desumana. A Estrutural nasceu em torno de um lixão.
É muito fácil culpar os administradores públicos, mas qualquer canetada de recursos públicos, em prol desta inferior camada, é combatida veementemente por todos. É um tal de dizer que cesta básica gratuita sustenta vagabundos, mas ninguém quer dar emprego a estes desocupados. Pertencem ao lixo e que cuidem de nossos lixos, quando muito.
O transporte coletivo não entra na favela e, na verdade, nem a Polícia, ambulâncias, bombeiros, Correios ou empresas telefônicas. Se favelados comprarem um bem nalguma loja não encontrará transportadora.
Queremos sempre mais presídios para abrigar esta categoria de vizinhos desagradáveis, desde que tais presídios fiquem bem longe de nós.
Falando nisto, se os governantes atuarem e construírem escolas ou postos de saúde no seio desses eleitores miseráveis, hão de faltar professores e profissionais de saúde.
Haveremos sempre que bradar por reformas, mas só mesmo o amor pra reformar o ser humano que, uma vez reformado, não haverá mais o que reformar.
Abra o olho, não para a televisão, mas para aquele que te vê por baixo, pois alguém na nossa esquina esmolando é o nosso próximo – o protagonista da nossa ascensão a Deus.

2 comentários:

Rafael Kesler disse...

Olá Aristeu, sinto-me honrado pelas suas palavras, pelas críticas, pelo debate e pelos elogios.
Creio que quando todos nós, escritores militantes nas causas sociais, suscitamos o debate de temas relevantes por meio das palavras, estamos guerreando justa e dignamente por um mundo melhor, um mundo mais igualitário.
Na verdade, não creio que apenas fé seja suficiente, mas também, transcrevendo o meu texto: "educação, .... conhecimento, ... reivindicação popular, honestidade, justas e benéficas políticas públicas, virtude, força moral e da garra do povo brasileiro podem contribuir para o fim da "invisibilidade social". A fé também é importante, mas não sozinha.
Sobre o título, "A INVISIBILIDADE SOCIAL", ele se relaciona mais com uma questão de pólo ativo e pólo passivo. Por exemplo, em relação à inefiência do Poder Público em relação à algumas questões sociais posso dizer em "cegueira social". Em relação às vítimas, às pessoas que vivem na miséria posso dizer em "invisibilidade social", pois não há como negar que elas são pouco muito pouco percebidas no cenário social.
E finalizando, a minha ênfase no Poder Público justifica-se pelo fato de este ser o responsável pelo bem comum, pelo bem da sociedade, já que vivemos em um Estado Democrático de Direito.
De qualquer forma, agradeço muito. Creio que todos nós lutamos da mesma forma por um mundo melhor, caro amigo. Espero que continuemos engajados na luta social. Muito obrigado.
Creio que o meu texto cumpriu sua função, que é a de suscitar o debate sobre as mazelas sociais.
Vamos manter contato sempre. Abraços.

Rafael Kesler
(COLUNA VISÃO JOVEM - DIÁRIO DE ARAGUARI)
www.rafaelkesler.blogspot.com

natal fernando disse...

Interessante esse papo.
Realmente a “Estrutural” de Brasília, mesmo com o progresso já conseguido com alguma urbanização, ainda tem dificuldades em colocar as crianças nas escolas. Esta semana algumas mães tentaram vaga em Vicente Pires, bem longe de lá, mas não conseguiram e logo alguém lembrou a constituição que obriga o Estado a dar educação gratuita a todos, etc.. O mesmo acontece em todo o Pais. Ao menos o tal de Poder Público já está instruído e instrumentado para agir. Mas a falência linear do País, inclusive promovida por meio de cortes lineares no Orçamento Público, dificulta o atendimento a todas as demais necessidades. Ou seja, para cada área há que ser destinada uma parte da riqueza nacional, um pouquinho para casa própria, outro para segurança, outra parte pequena para a saúde e assim vai. De modo que, mesmo com a consciência de todos que educação é prioritária, o tal Poder Público, fica impotente se não destinar um pouco para cada área. Mas todos devem fazer de tudo para pressionar o tal de Poder Público para destinar mais recursos para as criancinhas desprotegidas nascidas com o infortúnio de seus pais. Tudo isso não invalida nossa ação fraternal e solidária, sempre apregoada pelas igrejas. E elas tem feito sua parte. Mas, como em toda parte do mundo, ninguém consegue extinguir a miséria, mas quem se atira à caridade para colaborar na diminuição do sofrimento dessas criaturas, no mínimo, se torna um ser mais afável e respeitador de seus semelhantes menos afortunados. Peço a máxima vênia ao ilustre Doutor, para relembrar a todos o que prescreve a nossa Constituição Federal:
Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:
V - proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação e à ciência;
Art. 30. Compete aos Municípios:
VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
Art. 208. O dever do Estado com a educação será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009) (Vide Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
II - progressiva universalização do ensino médio gratuito; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 14, de 1996)
IV - educação infantil, em creche e pré-escola, às crianças até 5 (cinco) anos de idade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)
VII - atendimento ao educando, em todas as etapas da educação básica, por meio de programas suplementares de material didáticoescolar, transporte, alimentação e assistência à saúde. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 59, de 2009)
§ 1º - O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito público subjetivo.
§ 2º - O não-oferecimento do ensino obrigatório pelo Poder Público, ou sua oferta irregular, importa responsabilidade da autoridade competente.
§ 3º - Compete ao Poder Público recensear os educandos no ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à escola.

Postar um comentário