sábado, 20 de março de 2010
Pintura de poesia
Minha esposa pinta belos quadros. A um casal de amigos, certa vez, ela pintou um bem bonito. No verso da tela deixei um poema, afinal era de um casal para outro e não sei pintar. Muito trabalhoso, mas também assinei a obra. No 13º verso, a partir da letra “A”, da palavra somAm, escrevi na vertical ARISTEU. Lógico que só a empregada veria meu poema quando fosse espanar...
(Aqui a palavra ARISTEU não aparece verticalizada por causa da formatação, mas cada letra do meu nomem ocupa o espaço de número 22).
VERSO NO VERSO
A arte por toda parte é sinal Divino
Os olhos de brilho se inundam
Os corações de alegria se abundam
E a alma acalma o menino.
Todo espaço é pedaço útil
E dele deve se aproveitar
Para uma mensagem passar
Mesmo que a esmo ou pareça fútil!
Pare e repare que o perfeito
Pode ser conjunto de mal formados
Bem postos de lado a lado.
Num lapso e colapso, o quê aproveito?
O orto ou o torto somAm-se à beleza,
O direito e o avesso Refinam,
O abraço e a cruz só Iluminam,
O amor com o clamor eSpantam tristeza.
Não são inversos frenTe e verso,
Ao contrário: são párEos!
Tal homem e mulher – Um relicário:
Metades que ardem com o universo!
A lágrima e o sorriso
Um dia um amigo apresentou-me um poema de sua autoria muito bonito com o título de “Bendita Lágrima”.
Retruquei-o imediatamente dizendo: Se existe bendita lágrima eu te mostrarei um maldito sorriso:
MALDITO SORRISO
Maldito sorriso
Que disfarça a verdade,
Que serve como aviso
Da porta que se abre
E a mentira que explode.
Sorriso que encanta
E em qualquer rosto cabe:
Ao desanimado acode
E ao morto levanta.
Sorriso que aprisiona a fera
Quando se declara um coração aberto
Sorriso incontido, nada espera.
Escancara em grito certo.
Sorriso contagiante e instantâneo,
Pólen do amor de Judas eterniza
Que se abre também aos desenganos
Sorriso bandido,
Amigo da multidão...
Às vezes escondido
Alivia o coração.
Sorriso certeiro e bem feito,
Ou gargalhada descontrolada,
Invejam-te e esvazias meu peito!
As Alterosas Mineiras
O Norte de Minas, nas proximidades de Ijicatu, às margens do Rio Jequitinhonha, eu trabalhei como topógrafo. Nunca vi gente tão hospitaleira, mesmo sabendo que estávamos ali pra fazer levantamento da cota de inunda da Usina de Irapé - a qual engoliria toda a sua história e geografia. Num lugar tão inóspito Deus cravejou de diamantes e gente do mesmo quilate.
JEQUITINHONHA
SÃO TANTAS PEDRAS DE TANTO JEITO
E TANTOS PEDROS DE PRANTO EM PEITO!
TANTOS MENINOS COM MUNIÇÃO
E O CANTO VIVO DA PASSARADA!
CASAS MODESTAS DE TAIPA E CHÃO,
MAS FAZEM FESTA A QUALQUER CHEGADA.
CACHORROS MAGROS ENCOLHEM O RABO
E UM SORRISO LARGO ENCHE A ENTRADA.
TUDO É “CUMPADE” QUE ENTRA SUADO
E SECA O POTE EM POUCAS GOLADAS.
É ÁGUA FRESCA COM COR E GOSTO
BUSCADA A BALDE OU MANGUEIRADA
QUE PÕE ABAIXO O SUOR DO ROSTO.
SÃO TANTAS PEDRAS DE TANTO JEITO
E TANTOS PEDROS DE PRANTO EM PEITO!
O RIO ABAIXO COM ÁGUA TURVA
INDICA ACIMA MUITOS BRILHANTES.
EM CADA BARRA E EM CADA CURVA
BATEM PENEIRA COMO GIGANTES
É PEDRA PÃO QUE ÀS VEZES EM VÃO
BUSCAM INCESSANTES SEM MURMURAR!
quinta-feira, 18 de março de 2010
DIREITO HUMANO
Poema enviado
Quem sou eu?
Qual a minha diferença?
Qual a minha preferência?
Sei que sou filho de Deus.
Eu nasci de uma mulher,
Não sou garfo nem colher,
Bendita fruta entre as mulheres.
Sou delicado e pouco me fere.
Desde menino explosão de talento
Um arco-iris no firmamento.
Faço luzes, faço brilho
Aonde quebro a mão.
Sou carnavalesco
De um mundo de ilusões.
Sou terceira via
Dos pecados e dos perdões.
Com o lado esquerdo do cérebro
Travesti meu pontencial.
Se muito eu me requebro
É o meu comercial.
Menina, eu sou "santa",
Purpurina ou homossexual.
Deixei de ser lagarta
E não estou farta da borboleta.
Sou estrela, sou artista
Sou mudança, sou transformista.
domingo, 14 de março de 2010
Saudades da neta
Enfeitiçado
Minha neta chegou,
O tempo parou
Meu Deus, só dá ela,
sempre Bella,
Coisa Bella,
Furacão que alucina
Tudo de pernas pra cima
Os ares teus sopram velas
Brisa Bella, Tagarela.
Se entro na internet
Ela se intromete
E quer Turma da Mônica
No Youtube
E que nada perturbe
A dona da rede,
Mama muito e tem sede,
Devora a tijela,
Magali Amarela.
Nunca mais vi jornal
E nenhuma novela
É DVD do shurek
E overdose de Cinderela
Bolhas ao papavento,
E tinta aquarela,
Dodói na canela,
Cosquinha na costela
Paralisa a Bella
Uma amassadela
Com qualquer bagatela
Ou um monte de bala,
Mas haja cautela,
Com o sono que engana
Não quer ir pra cama
E nem pôr pijama,
Dona Isabella.
Vai entrar na carruagem
E sair de cena,
Sumir da tela,
Coração gela,
Peito arruela,
Lágrima na remela,
E avô bom de sela,
Cai de quatro por ela.
Aventura Ferroviária VIII
O HOMEM DE FERRO
Tenho cinco irmãos e três irmãs. Sou o sétimo filho na cronologia dos partos bem sucedidos. Meu irmão, imediatamente mais velho, o sexto no ranking dos sobreviventes, tem o nome de Eustáquio. Tem como eu, o nome do Santo do dia em que nasceu. No caso dele é o santo do dia 20 de setembro, um santo que foi sacrificado dentro de uma estátua de metal aquecida em brasas. Realmente um homem de ferro. Nossos nomes eram dados pelos padres quando nos batizavam.
Que santo qual nada, na família poderia ser chamado de Zeus Táquio, pois sempre fora o mais formoso, um metido deus grego no seu particular universo.
Apesar de apenas um par de anos nos separar a sua estatura sempre me deixou no chinelo. Nos tempos de criança parecia sempre mais rapagão se comparado à minha e demais figuras infantis em seu derredor. Eu além de ser o mais feio liderava o grupo dos fracotes.
Não tive muita amizade com ele, mas lembro-me dele ter me tirado de enrascadas juvenis com enfrentamento de outros garotos. Ele, assim como eu, desde tenra idade foi um grande batalhador, um incansável.
Lembro-me que ele era um bom aluno enquanto circulava pelo Grupo São Judas Tadeu, em Araguari. Quando foi para o Polivalente o sucesso nos estudos desandou, mas sempre foi inteligente, sem dúvidas. A necessidade de trabalhar deve ter sufocado o excelente aluno.
Entre 1978 e 1979 ele demonstrou toda a sua força nas fileiras do Exército. Assim que deu baixa do Batalhão Ferroviário adentrou, mediante concurso, à Polícia Militar. Durante um ano no policiamento ostensivo agradou aos seus comandantes sendo então transferido para a Polícia Florestal.
Até o ano de 1983 vasculhou matas e rios em busca e apreensão dos inimigos da natureza. Terra, água e ar foram seus elementos de vida.
Embora na graduação de soldado sempre desempenhou funções burocráticas acima de sua competência. Seu dinamismo enciumou seu superior imediato que, num primeiro vacilo, pediu sua remoção para a Capital Mineira.
O vacilo cometido foi não ter tido a coragem de recolher uma rede de um pescador de sustento próprio.
Apesar de estar inscrito no Curso de Sargentos da Polícia daquele ano ele, totalmente abatido e desmotivado, optou por ser agente de segurança da Rede Ferroviária, onde passara no Concurso com méritos, além de contar com vantagens pecuniárias e uma carreira mais estacionária.
Como agente de segurança ferroviária vistoriava estações, trens de passageiros que ainda existiam e os lacres das cargas. O tráfico de drogas era uma tônica também sobre os trilhos. Desvios de carga sempre foi uma rotina brasileira também.
No primeiro ano ficou destacado em Goiandira, onde, nas horas vagas atuava como porteiro de clube e segurança de festas.
Fez uma troca com um amigo e ficou o restante do tempo em Araguari sob o comando do Supervisor Oto, um grande pai e amigo merecedor de todas as honras possíveis.
Por um trecho ferroviário, não muito vasto, ficava até vinte dias em trabalho móvel contínuo, exercendo, nas suas limitações, o poder de polícia.
Para Eustáquio não existe paisagem mais exuberante que a existente aos olhos dum viajante de trem. Pena que as cargas não sabem o que são paisagens e o turismo férreo engatinha no mesmo lugar.
O pior trabalho que ele fez foi durante uma greve da categoria. Seus companheiros grevistas ameaçavam sabotar as linhas, principalmente para Brasília.
Os transportes cessaram, mas o envio de combustível para a capital federal tinha que prosseguir a qualquer custo.
No transporte de tal carga preciosa e explosiva, entre Araguari e Brasília, ele fez a escolta. Não era uma simples escolta, pois ele foi pendurado na frente da máquina com uma carabina na mão e na outra um farol em busca de alterações nos trilhos. Estar preparado para matar amigos é de um esforço sem tamanho.
Até hoje, vez por outra, ainda sonha com esta ação hercúlea onde tudo, Graças a Deus, terminou bem.
Segundo Eustáquio, o transporte ferroviário é tão rico que, somente uma boa varredura dos restos de grãos em vagões-containers, pode vir render trinta sacos de sementes ao dono da vassoura. Coisas que ele viu.
Em 1996, diante à iminente privatização da Rede, foi seduzido pelo PID – Programa Individual de Demissão – e acertou suas contas. No seu cálculo sonhador, a quantia de um vencimento por ano de serviço, promoveria sua independência financeira. Compraria uma Kombi e promoveria transporte e negociação entre os produtos do campo e a faminta zona urbana. Queijos endurecem, frutas estragam, verduras murcham e ovos quebram... Os planos foram por água abaixo, além do quê Kombi será sempre problemática.
Quis fugir à saga da família que é de sermos todos militares o tempo todo e seus olhos quase verdes não o ajudaram como comerciante.
Além da indenização havia a promessa de que todos eles seriam remanejados para outras empresas como seguranças, mas esta parte do acordo não foi cumprida.
Mesmo após cinco décadas de vida a sua força não abandonou seus braços. Tais apêndices permitem-lhe ainda trabalhar duro como pedreiro. Se seus sonhos ainda não foram realizados colabora então para com a plena realização dos sonhos de outros.
Seu amigo Paulinho, Paulo José de Oliveira, outro Polícia Ferroviária Federal também demissionário, ainda circula fardado. Prossegue numa eterna busca da realização da prescrição constitucional da categoria que é sua implementação e aumento de efetivo. Eles podem voltar à ativa ou então se tal for totalmente implantado o Paulinho poderá figurar como Presidente da Associação ou Sindicato da Categoria enquanto o Zeus do meu irmão fará parte do Conselho Deliberativo... Estas foram as últimas palavras de Paulinho na última visita feita. Eustáquio até assinou um livro em solidariedade ao trabalho fecundo e incansável do amigo. Ganhou inclusive um brasão, um verdadeiro distintivo de Xerife do condado – O homem de ferro!
quinta-feira, 4 de março de 2010
Virtude que some
HONESTIDADE
Honestidade é uma bandeira para todos, mas que poucos empunham. Tida como virtude máxima do cidadão ela segue como uma qualidade em perigo de extinção na sociedade, principalmente a brasileira.
A falta de caráter, nos dias atuais, é tão evidente que, conforme dito por Ruy Barbosa, muita gente sente vergonha de ser honesto.
Honestidade é honradez e onde está que não a vejo? Dizem que na Finlândia...
Honestidade é probidade ou atitude proibida?
A compostura faz-se presente apenas quando câmeras filmadoras inundam o ambiente, por todos os ângulos.
Sejamos honestos enquanto as oportunidades esquivas estejam ausentes.
Honestar é um verbo de difícil conjugação quando a “boquinha” faz-se grande e sujeito da oração.
É muito careta devolver o troco a maior. É estupidez não piratear. É burrice não pular a roleta.
Decência e decoro, irmãos gêmeos da honestidade, também definham em Conselho de Ética composto por membros larápios – nossos indignos representantes.
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