domingo, 3 de janeiro de 2010
Sobrenatural ao Ratinho do SBT
Assombrando o Ratinho
Ratinho, sei que o cunho do seu Programa está voltado para com o deboche do sobrenatural – o que não é o meu caso nesta narrativa que te faço, mas faça bom proveito, se der.
No ano de 1999 ou próximo a ele, trabalhei numa empresa que prestou serviços de engenharia cartográfica para a CEMIG, mais precisamente na demarcação da cota de inunda da Usina Hidrelétrica de Queimado, no Rio Preto, divisa dos estados de Goiás, Minas e DF.
Depois do serviço pronto houve a necessidade de retornamos em dois carros para alguns complementos de determinação. Éramos três topógrafos, dois num fusca e eu numa Ipanema que nos dirigimos pra área de campo num sábado.
Para executarmos a tarefa tivemos que contratar quatro trabalhadores no Distrito de Palmital, pertencente a Cabeceira Grande-MG, numa distância de 20 km da área de trabalho.
Terminamos em torno de 18h00min. Meus dois companheiros queriam deixar os trabalhadores retornarem por conta própria. A estrada era de terra e não se sabia do transporte regular que por ali passava.
Não deixei os mesmos à deriva. Liberei meus covardes companheiros e me dediquei a transportar os trabalhadores até a currutela.
Andei muito pouco e um mangote do óleo lubrificante estourou, mas continuei a viagem de suposto risco.
Chegamos a Palmital bem à noite. Liguei para a minha esposa e relatei meu problema, pois era possível que eu não retornasse. Apesar de estar com apenas a roupa do corpo, ela me aconselhou que não retornasse mesmo com um possível conserto do carro, pois as estradas eram perigosas principalmente só.
Um senhor de um ferro-velho improvisou uma câmara de ar ciclística no local do defeito e garantiu-me a viagem.
Esqueci as recomendações da esposa e parti, afinal não estava só – Jesus estava comigo! Sei que coloquei no toca-fitas um trabalho do Padre Zezinho e deixei Palmital pra trás.
Enquanto viajei pela estrada de terra foi tudo bem, mas quando entrei na BR 251 a coisa ficou esquisita.
De cara cruzei com uma carreta de soja que jogou uma pedra no teto do meu carro. Falta de sorte pensei, mas outra carreta, mais à frente, jogou outra pedra no teto e então a coincidência já estava me apavorando. Fiz um xingamento e mais uma pedra caiu no teto do carro e desta vez não cruzava com nenhuma carreta. Arrepiei.
Mais à frente avistei um carro no sentido contrário, com “pisca-alerta” ligado pedindo socorro. Diminuí a velocidade, mas não tive coragem de parar – algo me impediu e forçou a continuar. No exato momento que passei pelos “necessitados de socorro” meu pneu traseiro esquerdo estourou. Era mesmo uma armadilha, mas continuei a viagem com o pneu furado. Quando cheguei ao trevo para São Sebastião-DF, parei para ver o estrago. O pneu virou uma goma preta borbulhante e a roda não saía com a simples força de um homem. Teria que se utilizar de uma alavanca de força pra desengripar os parafusos que auto se apertaram.
Abandonei o carro e fui buscar socorro na cidade satélite. Aquela rodovia era cheia de bandidos e então tive que carregar alguns equipamentos topográficos bem como documentos cartoriais de propriedades ribeirinhas à barragem.
Acredito que dois quilômetros deviam distar-me da cidade e foram os mais longos da minha vida.
Quando iniciei minha caminhada ou martírio os relógios deviam badalar dez da noite. Estava muito escuro e nublado. Não dava pra enxergar quase nada, mas o horizonte iluminado formava um sulco da estrada que me levava. Bateu um medo sepulcral. Eu só olhava pra frente como que o pescoço paralisado. Vinha na minha cabeça a sentença “Jesus está comigo, Jesus está comigo”, mas isto pareceu atiçar o inimigo ainda mais.
Tanto do meu lado direito quanto do meu lado esquerdo, uivos alucinantes me acompanharam. Eram grunhidos horrorosos muito próximos e meu pescoço engessado agora assistia meus olhos se fixarem na própria órbita. Minha boca tentava balbuciar uma Ave-Maria, mas não passava disto. Travou também minha cachola. Só minhas pernas, automaticamente e num ritmo frenético, perseguiam uma trajetória ininterrupta sem cambalear. Os urros que ainda ricocheteiam na minha memória não pertencem a nenhum animal conhecido. Muito assombroso, mas ainda, na minha fé, volto a pensar no assunto e ponho-me a questionar: Será que forças me assustavam simplesmente ou me escoltavam de um mal maior?
Encontrei o socorro no destino e, quando cheguei pálido em casa, minha esposa disse-me: Eu sabia que você corria perigo, que você estava vindo embora e rezei o tempo todo pra você.
Intuição feminina – Proteção à distância.
Vale lembrar que antes disso tenho uma história de homem sem medo, de dormir sozinho na beira do rio, dentro de cemitérios e em taperas abandonadas...
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2 comentários:
Jizuiz Paieterno. Sei muito bem o que é passar medo no mato e sozinho. Depois te conto minhas histórias...
Prefiro nem comentar...
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