Chega um momento da nossa
vida que sentimos a nossa realidade tão efêmera e principiada de fins. Amigos
da nossa faixa etária começam a partir do campo material. O Edson Francisco
Pereira, quando muito, tinha três anos a mais que eu. Esta sua partida
aparentemente precoce está voltada a uma deficiência leucêmica, xeque vital
ainda longe de recursos médicos ou financeiros do nosso mundo. Atuou e, como dizíamos
no meio militar, e Espírita sempre: Missão cumprida.
Naquele tempo que estávamos juntos éramos tão próximos que ele
e esposa, distinto casal uma só carne, transformaram-se em padrinhos de um dos
nossos dois filhos. Quantos afilhados deixou? Todos os conhecidos queriam nesta
condição de quase parentes próximos ou mais.
Nosso palco, de maior temporada, foi Brasília e o nosso
cenário se desenvolvia na Asa Norte. Do meu apartamento funcional se avistava o
deles, ao ponto de as comadres combinarem de que, quando uma colocasse uma
fralda de uma das crianças na janela, era pra que a outra fosse visitar a uma.
Eles também tiveram apenas duas crianças como nós.
Éramos jogadores de canastra que avançávamos as madrugadas.
Embora da mesma graduação militar, o Edson que, além de abocanhar um pequeno
espólio de herança, sempre soube fazer bons negócios, o contrário de mim, um
mero consumidor, fadado a não comerciar com lucro.
O Exército nos separou neste País Continental, mas, ainda assim,
mesmo com pouca presença física, nutrimos uma comunicação quase que escassa,
porém de muita estima e admiração.
O último presente pessoal que recebi dele foi um livro de
romance espírita onde se desvendava a vida além daqui. Que ele esteja trilhando
por estes caminhos do Pai que ele sempre acreditou ladrilhar.
Certa vez alguém queria chamá-lo de Sargento Pincel, aquele
personagem dos Trapalhões, e o chamou de Sargento Pastel, coisa que jamais
aliviei e esta nova alcunha sempre fora utilizada por mim. Então digo-lhe:
Sargento Pastel, sovado pela vida, que trilhou caminho apertado do cilindro,
alegrado pelo caldo de cana, parecendo um sorriso frito crocante, sem a sua
carne fica um vazio na massa. Siga em Paz, teu crédito é grande por aqui.
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