DOUTORA FERNANDA,
ANDA, ANDA, ANDA...
O
tratamento de doutor (a) recai, atualmente, por direito, sobre aqueles
profissionais que possuam doutorado em qualquer linha do conhecimento. No uso
diário, ao longo da história, de fato só pertenciam a certa categoria da Saúde
como os médicos e, recentemente odontólogos que nunca deixarão, na língua
diária, de serem apenas dentistas. Os advogados também entram neste seleto rol.
Numa
concepção de necessidade a gente sai chamando de doutor (a) todos aqueles que
poderão nos aliviar dos sofrimentos da carne e mente como psicólogos e
fisioterapeutas.
O
fisioterapeuta ainda poderia ser tratado de curandeiro ou milagreiro, pois sua
atividade, além do douto saber, requer a paciência e a capacidade de encorajar
o vitimado da lesão a levantar e andar, abrir e abraçar. Com seus movimentos
aparentemente fracos e pesos insignificantes vão tonificando músculos,
costurando tendões e revestindo ossos.
Desta
profissão faz parte a Fernanda. Vou
falar da Fernanda, mas antes fico a imaginar os gênios da Humanidade. O
Einstein, físico número um do mundo em todos os tempos, então nos Estados
Unidos, foi convidado a dar aulas numa universidade ao que prontamente aceitou.
Na hora da propositura salarial ele pediu a quantia de três mil dólares ao mês.
Todos ficaram de queixo caído, pois isto era praticamente irrisório pelo
gigantismo do profissional da educação em pauta.
Bem,
a Fernanda terá que esperar mais um pouco, pois acabei de me lembrar de outro
Albert, desta vez o Sabin, aquele cientista bioquímico e sei lá mais o quê, que
desenvolveu a vacina contra a Paralisia Infantil, porém por ironia do destino,
terminou seus dias na cadeira de roda. Sua Fundação e Instituto continuam
funcionando sob a batuta da esposa, uma brasileira. O fato é que na inauguração
do Hospital Albert Sabin, um dos profissionais de Marketing, sugeriu que se
convidasse o próprio cientista, o que foi descartado, inicialmente, dada à
grande personalidade ou vulto de custo deste ícone. O “Marketeiro” insistiu e,
no contato, Sabin veio em troca somente das passagens aéreas. Estava com
saudades do Brasil...
Grandes
profissionais não precisam de dinheiro? Não é bem assim, diria a Dra Fernanda,
pois conta-se que um sábio, sempre procurado para o aconselhamento real na lida
do Reino e nas batalhas vitoriosas morreu de fome. O rei sempre o elogiava em
praça pública, publicava editos, condecorava-lhe com medalhas reluzentes, mas
algum sustento básico não pintava no prato. Sábio alimenta, se veste, se
diverte e é confundido com o gênio da lâmpada mitológico.
Um
bom profissional, como a Dra Fernanda, precisa de investimento contínuo, pois
técnicas aprimoram-se. A aprendizagem nunca é sem fim e, no currículo daquele
que não quer ser o melhor, mas fazer o melhor para o seu alvo, o seu cliente, o
seu paciente.
A
Fernanda era uma menina ainda há bem pouco tempo. Na mercearia e açougue da
família, estabelecimento com portas abertas em desatenção ao calendário, ela
atuava intensamente. Hoje ainda colabora com a família dentro das suas
possibilidades. Ela, ali, moldou suas responsabilidades irretocáveis e
inabaláveis para o resto da vida. Esta açougueira, que deve ter se entusiasmado
decepando nervuras ou rasgando músculos bovinos, agora reconstrói movimentos
nas pessoas acidentadas. Ela recupera a fibra, enrigece os músculos e “levanta
e anda” humanos esfacelados. Fernanda é fisioterapeuta de calibre grosso. Sua
competência supera, no Serviço Público Municipal, as carências múltiplas. Ela
não gosta de improvisos, mas é o que se tem e não impede que um trabalho seja
feito ainda que não a contento. Fernanda, sempre dedicada no fim justificando
os meios, leva para o Serviço Público seus equipamentos particulares,
insubstituíveis na terapia.
Parece
que será difícil mantê-la nesta nossa cidade tão carente. Que ela seja feliz
onde estiver e que, por suas mãos impostas e orientações, coxos e aleijados se
lembrem do Cristo, o Grande Fisioterapeuta de uma única sessão.