quarta-feira, 16 de maio de 2012

CRIANÇA EM TRABALHO ESFORÇADO EM GOIANDIRA



TRABALHO DIGNIFICA A CRIANÇA

AQUÉM DO HORIZONTE

                Pra quem mora no interior fica difícil perceber a divisão entre a zona rural e a zona urbana. Ter como vizinhos alguns ruminantes ou relinchadores não é nenhuma surpresa, se bem que alguns cidadãos, inconformados com o doce barulho do campo, tem acionado o Ministério Público para que se retirem como despertador matinal o mugido da simpática, nossa alimentadora, dona vaca. Apesar de terem afastado os animais, que ainda moram por perto, o leite do carroceiro é buzinado na freguesia. Apesar de barato, não tem preço.
                Como passeio sozinho, ou seja, com três caninos na coleira, procuro evitar ruas tumultuadas e me arranjo pelos limites da pequena urbe. Passaredo faz-me companhia também. Outro dia avistei um garoto moreno conversando com uma moradora sobra a capina do seu quintal. Fiquei emocionado e lembrei-me do tempo em, naquela idade, também carpia lotes, limpava jardim e trabalhava de boia-fria.
                No dia seguinte, um sábado, encontrei o mesmo garoto com uma vara de pescar e algumas minhocas magras numa latinha. Puxei prosa:
                _ E aí, pescador? Não vai capinar hoje?
                _ Não. Final de semana eles não gostam que capina. Tem muitas visitas que não podem ver de menor trabalhando. Tenho três lotes para a semana. Vou ali tirar uns peixes e levar pra casa pra gente comer.
                _ Uai, tem onde pescar por aqui?
                _ Tem sim, é nas represas do Odemir, até um amiguinho meu morreu lá. Tá vendo aquelas duas moitas de bambus? É lá, tem tilápia de palmo.
                Então eu adentrei com ele e meus cães num terreno alagadiço que nos sujou a todos. No caminho descobri que o Adriano, nome do garoto de treze anos, filho do conhecido Patrola, era o mesmo que, há pouco tempo, trabalhava na Padaria do Juninho. Este garoto trabalhador ajudava internamente e, de bicicleta, ajudava a entregar pedidos. Fofoqueiros de plantão, coisa típica do interior, talvez o único mal, fizeram com que tal irregularidade chegasse à Promotoria. A mãe contou à autoridade que a família era grande, carente e que a ajuda do menino era fundamental. Também notificou que era um menino de boas notas escolares e não era explorado. O promotor disse que faria ouvidos de mercador, mas se chegasse alguma denúncia teria que tomar providências. O Conselho Tutelar não fez vista grossa e, para muitos quis mostrar serviço, denunciou a situação. Nem tico nem taco, pois o garoto, agora, de uma maneira mais penosa e arriscada, continua ajudando na sobrevivência da família.
 Ele me mostrou suas mãos muito calejadas e perguntei-lhe porque não usava luvas. Disse que eram caras e que todo dinheiro que levasse pra casa ainda era pouco. Então mandei que ele passasse na loja do Gilberto e falasse com a Cárita, pois iria deixar pago um par de luvas.
Chega de cachorrada, peguei os meus e me afastei vendo-o lançar o anzol. Como sou fraco, mesmo autorizado não consigo fazer com que ele enchesse sete cestos.

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