Penúltima Morada
Um amigo disse-me certa vez que devíamos amar muito nossos filhos porque são eles que escolherão nossos asilos.
Eu não consigo me ver num asilo por abandono dos meus filhos, mas convenhamos que se a gente viver muito vai acabar prejudicando o dia-a-dia dos nossos herdeiros. A nora ou o genro tem o direito de não nos amar tanto. Uma pessoa idosa e, digamos, adoentada não suporta claridade, barulho, alimentação fora de hora e fica ranzinza, pois a vida eufórica de netos denota o fim da sua.
Num ato voluntário comecei a ajardinar a frente do asilo da nossa cidade. Em pouco tempo os velhinhos estavam à minha volta alegres com apenas a minha presença.
Sorrisos banguelas, andar manco, cabelos encanecidos, rugas abundantes, aparência doentia, jeito maluco, bengalas agressivas, membros tortuosos, membros ausentes, cacos humanos saltam aos olhos.
Sem parentes, mas com um salário invalidez que custeiam seus dias finais.
Um salário mínimo é muito pouco, mas se torna muito digno quando sustenta uma vida debilitada anos a fio. Existem idosos há mais de vinte anos persistindo em asilo.
Lá é a penúltima morada. Dali só mesmo o Campo da Esperança. Teve uma velhinha exceção, ainda lúcida, que aproveitou visita de advogados ao local e falou que tinha filhos em condições de cuidar dela. À força da Lei fora levada do asilo, mas por força da Lei e não do amor.
Um orfanato é um local de filhos sem pais e um asilo é o local de pais sem filhos. Uma diferença, porém é gritante, pois uma ou outra criança é adotada e os idosos não. Quer dizer, eu pelo menos, vez por outra, pretendo ir ao asilo buscar um idoso para passear e almoçar comigo.
Uma dica para quem quer conviver com eles: Trate-os como crianças e terá enormes possibilidades de agradá-los.
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