FIGURA UM E FIGURA DOIS
Reza
a lenda que uma imagem vale por mil palavras e, certa vez, em homenagem ao Dia
do Fotógrafo, baseado então numa só imagem, escrevi um texto com mais de mil
palavras. Comprovei então que pode valer por mais de mil palavras, mas seriam
todas verdadeiras? Nem sempre a imagem reflete o que se imagina à primeira
vista.
A primeira imagem, típica do interior, pode revelar a
famosa fofoqueira ou bisbilhoteira que está sempre à janela tomando conta do
que se passa, mas no caso presente é uma distinta dama da sociedade vinculada a
entidades caritativas e da prática intensa da religiosidade. Alguém que, como
vizinha, ultrapassa todas as perspectivas do bom relacionamento e do bem
servir, sendo mãos que ajudam e afagam, lábios que orientam e suplicam.
O que levou nossa personagem para a janela, atabalhoada
de afazeres, foi uma manifestação de Congada na casa da vizinha protegida. A
Congada é uma dança teatral religiosa em homenagem a Nossa Senhora do Rosário.
Aparentemente sem ritmo, parecendo mais uma batucada desconexa, arrasta uma
multidão e é a estrela maior da Quermesse. Gente simples trajada como nobres
fidalgos e com galões de generais. A falta de dentes em alguns deles não impede
os dançarinos de entoar, a plenos pulmões, cânticos de louvor verdadeiro
oriundos de uma devoção do fundo do coração.
As roupas, confeccionadas com exclusividade para a
ocasião, reluzem e a bandeira tremula o amor materno celestial. Há ainda
cavalgadas e outras homenagens que se ajuntam aos festejos de uma semana,
encerrando-se numa procissão gigantesca, sendo até decretado feriado municipal.
Além de Nossa Senhora,
os santos negros, Efigênia e Benedito, são aclamados. Ao que parece uma turba
de pobres ufanos, a figura dois nos mostra um jovem de cútis clara onde reside
a mesma fé. Trata-se de um adorador desde criancinha, professor universitário e
doutorando em ciências médicas. Ele é o segundo capitão deste Terno de Congada
e, esteja onde estiver, nesta época, é como o judeu que sobe à Jerusalém para a
festa.
Imagem não é tudo, mas
ornadas com algumas palavras ao rodapé, não precisam ser milhares, ratifica-se
toda a beleza e veracidade.